Da Redação BNC em Brasília
As etnias Yanomami e Ye’kwana vão apresentar ao público neste sábado, dia 14, no Mercado de Pinheiros, em São Paulo, o primeiro lote de chocolate produzido com cacau nativo beneficiado na comunidade.
Segundo Instituto Socioambiental (ISA), que deu apoio ao projeto, a ideia de produzir um chocolate partiu de lideranças Ye’kwana, que buscavam gerar renda adicional para as comunidades e bater de frente com a lógica destrutiva do garimpo, que assedia e ameaça as comunidades.
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“Os Ye’kwana se deram conta de que a floresta oferece outro ‘ouro’: o cacau nativo. O fruto que dá origem ao chocolate é endêmico na área”, diz o ISA em nota.
O projeto é visto com bons olhos pela comunidade científica. Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP, diz que esse tipo de iniciativa, se ganhar escala industrial, pode transformar o Brasil na primeira potência mundial em bioeconomia.
Em evento promovido pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), em outubro passado, no Rio de Janeiro, o pesquisador lembrou que o projeto Amazônia 4.0 desenvolve atividade no território Yanomami.
São Laboratórios Criativos da Amazônia que funcionam em tendas ou em plataformas flutuantes para experimentação inovadora em comunidades amazônicas, desenvolvendo capacidades para uma transformação socioeconômica inclusive e baseada na biodiversidade da Amazônia.
“O Desenvolvimento de Capacitação Local é realizado em território Yanomami e voltado para a cadeia do cupuaçu e do cacau. Só no território indígena Yanomami tem mais de 400 variedades de cacau”, revelou o cientista.
“Há um terceiro projeto, que é o Genômica, voltado para o potencial de recursos genéticos. É um laboratório que tem um sequenciador portátil e faz registro de blockchain. Isso tem um enorme potencial econômico”, afirmou o cientista.
O chocolate é transformado em 1.000 barras de 50g pelo chocolatier César de Mendes, no Pará. Sua formulação conta com 69% de cacau, 2% de manteiga de cacau e 29% de rapadura orgânica.
“As entidades da floresta desceram aqui na fábrica e trouxeram um perfume que não tínhamos experimentado antes. É fora da curva”, brinca Mendes. “Ele é um chocolate com presença na boca. Tem persistência prolongada e agradável, com doce equilibrado.”
Foto: Rogério Assis/ISA