Cientistas ingleses usam exemplo de Manaus para não abrir escolas
Cientistas de medicina tropical da Inglaterra não recomendam reabrir escolas mesmo com a pandemia controlada como ocorreu em Manaus.

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 03/09/2020 às 18:00 | Atualizado em: 04/09/2020 às 05:54
Publicações científicas na Inglaterra estão usando como exemplo a abertura das escolas em Manaus para pressionarem seu governo a não autorizar a abertura dos estabelecimentos de ensino naquele país.
Numa live, nesta quinta-feira, dia 3, do economista Eduardo Moreira, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis diz que a não abertura das escolas em plena pandemia tem o respaldo da Escola de Medicina Tropical da Inglaterra, uma das mais renomadas no planeta.
Miguel Nicolelis, que coordena o comitê científico do consórcio do Nordeste de combate à covid-19, lembrou que ao se abrir as escolas em Manaus 32% dos professores de 55 estabelecimentos de ensino médio foram infectados. “São pouco mais de mil professores”, calculou.
“O exemplo de Manaus é descrito por publicações inglesas mais próximo de um experimento não declarado de ver como a dinâmica do vírus evolui por si mesma, sem muita coisa acontecendo”, afirmou.
Para o cientista brasileiro, não tem como abrir escolas se a pandemia estar controlada, garantir medidas de segurança e distanciamento social.
“As escolas não têm (como garantir) higiene, não tem roupa de proteção para professores e não tem como rastrear contatos de alunos, professores e funcionários. Sem isso, não pode abrir escolas”, disse Nicolelis.
Mazelas
O cientista argumentou que entre as diversas fragilidades que pandemia expôs sobre o desenvolvimento econômico desde a revolução industrial, do modelo de sociedade, e da globalização, está o papel da escola.
“Uma das mazelas que estão sendo expostas escancaradas é que as escolas em países como Brasil têm que cumprir funções outras que não necessariamente deveriam ser supridas pelas escolas”, disse.
E prosseguiu: “E quando as escolas fecham elas desencadeiam uma crise social, de saúde mental e nutricional das nossas crianças, isso é incrível. Aí a gente fica nesse dilema entre abrir a escola no meio de uma pandemia”.
Na sua avaliação o problema brasileiro é múltiplo. “É difícil dizer isso, mas a sociedade brasileira parece que prefere o hedonismo (corrente filosófica que tem o prazer como bem supremo) a sobrevivência. O hedonismo fala muito mais alto no Brasil como ir à praia no domingo, fazer o aniversário do pai e da mãe. Parece que isso é mais relevante e fundamental do que pôr essas pessoas em risco de morte”, lamentou.
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