Cientistas da Ufam e Inpa negam apoio a mineração em terra mura no AM
Seus nomes foram incluídos em um documento como se estivessem endossando a parceria com a mineradora, o que eles negam

Ferreira Gabriel
Publicado em: 29/05/2023 às 19:31 | Atualizado em: 29/05/2023 às 19:36
Um protocolo de intenções entre a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a empresa Potássio do Brasil provocou um mal-estar entre pesquisadores da instituição.
Seus nomes foram incluídos em um documento como se estivessem endossando a parceria com a mineradora, o que eles negam.
No projeto, que ignora a presença de indígenas Mura na área afetada pela extração mineral, a Ufam reitera seu apoio à atividade de mineração da Potássio do Brasil.
Ao menos três pesquisadores consultados pela Amazônia Real refutam qualquer intenção de apoiar o projeto entre a universidade pública e a empresa privada.
No texto deste Protocolo de Intenções, firmado neste ano e obtido pela agência, os nomes de pesquisadores constam como integrantes do “corpo técnico” do projeto Autazes Sustentável.
No último domingo (21), a Ufam divulgou uma nota dizendo que “aproximadamente uma centena de cientistas da Instituição trabalha para elaborar, com imensa responsabilidade e comprovada expertise, o Plano Básico Ambiental (PBA) do Projeto Autazes Sustentável”, sugerindo que eles continuam fazendo parte do empreendimento.
Os três pesquisadores concordaram em dar entrevista e disseram que não foram informados, quando entregaram o resultado de seus estudos para a Ufam, em 2018, sobre a destinação que seria dada a eles.
Também afirmaram que, atualmente, não concordam com a condução que a universidade fez de seus trabalhos, ao adaptá-los para um documento que apoia a mineração e atua estrategicamente em favor do empreendimento.
“Fui membra do grupo de pesquisa e, em 2018, cheguei a participar de algumas reuniões com a presença da empresa. Deve ter havido um equívoco ao inserirem meu nome na lista, sobretudo pelo fato de que já faz cinco anos que não tenho qualquer vínculo com a Ufam e, mais ainda, que não compactuo com a atividade minerária, especialmente quando abrange áreas protegidas ou território de povos indígenas e comunidades tradicionais”, disse uma pesquisadora, em condição de anonimato, para evitar represálias. À reportagem, ela disse que iria solicitar a retirada de seu nome da lista do corpo técnico.
O Protocolo de Intenções entre a Ufam e a Potássio do Brasil, assinado em 23 de março de 2023, é a reedição de um documento de fevereiro de 2019, após realização de estudos feitos um ano antes por ao menos 103 pesquisadores da instituição, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Instituto Federal do Amazonas (Ifam).
O objetivo era realizar um plano de trabalho com base no Estudo de Impacto Ambiental (Eia/Rima), elaborado pela empresa Golder Associates para a Potássio do Brasil. Na época, os pesquisadores, segundo apurou a Amazônia Real, não tinham claro qual seria o objetivo dos estudos.
Leia mais na reportagem de Elaíze Farias na Amazônia Real
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Foto: Divulgação