Em Manaus, coronavírus mata mãe e dois filhos em seis dias

"Enquanto sepultávamos meu irmão, recebemos a notícia do Hospital Delphina Aziz que minha irmã também havia morrido"

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Israel Conte, da redação do BNC Amazonas

Publicado em: 26/04/2020 às 19:45 | Atualizado em: 26/04/2020 às 19:45

A voz do pedagogo Renato Lima Júnior ainda estava embargada ao falar por telefone com o BNC Amazonas. Pudera!

Morador do bairro Betânia, zona sul de Manaus, ele enterrou a mãe na última quarta-feira, dia 21, no cemitério São João Batista.

E na manhã deste domingo, dia 26, enquanto sepultava o irmão no Tarumã, recebeu a ligação do Hospital Deplhina Aziz de que a outra irmã, também havia morrido.

Os três mortos, em apenas seis dias, vítimas do novo coronavírus (Covid-19).

 

Tempestade

Renato, que trabalha no Centro de Formação Profissional Padre Anchieta (Cepan) da Secretaria de Estado de Educação (Seduc-AM), conta que toda a família apresentou os sintomas de coronavírus.

Tosse seca, dor no corpo, falta de ar e perda de olfato e paladar.

O primeiro a ser internado foi o irmão Sebastião Azevedo de Lima (foto à direita), 53 anos.

“Ele deu entrada no [Hospital e Pronto-Socorro] 28 de Agosto no dia 13 de abril com muita falta de ar. Era diabético, do grupo de risco”, conta Renato.

Enquanto o irmão lutava pela vida, a matriarca da família, Onédia Azevedo de Lima (foto à esquerda), de 80 anos, diabética, foi para a UTI de um hospital particular. Resistiu por cinco dias. Morreu na terça-feira, dia 20, e foi enterrada no dia seguinte.

As atenções então se voltaram para o estado de saúde de Sebastião, internado no 28 de Agosto.

Mas dois dias depois, a irmã Odaléia Azevedo de Lima, 59 anos, diabética e hipertensa, era transferida em estado greve da UPA Campos Sales para o Hospital Delphina Aziz.

“Foi quando a tempestade caiu sobre nossa família. Meu irmão morreu ontem (sábado, 25). Enquanto o sepultávamos, recebemos a notícia da morte da minha irmã”, lamenta Renato.

Conforme boletim divulgado hoje pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), o coronavírus já alcança 46 municípios, além de Manaus.

Até o momento, são 3.833 contaminados e 304 óbitos.

Traiçoeira

Renato e sua família sabem o que é perder a guerra para o coronavírus, que ele chama de “doença traiçoeira”.

E alerta.

“As pessoas ainda estão descrentes. Não é uma gripezinha. É uma doença traiçoeira. Vivemos uma tempestade na família porque meus irmãos não levaram a sério a quarentena e o isolamento. Por isso, usem a máscara. Façam a higienização com álcool em gel e água e sabão. O vírus mata”, advertiu.

 

Fotos: Reprodução/Facebook