Criador de búfalos em Autazes é ligado a queimadas e fumaça em Manaus

A fazenda de André Maia dos Santos concentra os maiores focos de queimadas no município vizinho

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Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 31/10/2023 às 16:24 | Atualizado em: 31/10/2023 às 19:03

O criador de búfalos André Maia dos Santos, pai do ex-vereador Marcelinho Maia, morto em 2020 por covid-19, é o dono da fazenda AM-359, que concentra os maiores focos de queimadas em Autazes, uma das causas da fumaça que voltou a encobrir Manaus nos últimos dias.

Ele foi identificado pelo site De Olho nos Ruralistas após cruzamentos dos dados geoespaciais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a base fundiária do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Em setembro, quando a fumaça começou a encobrir a capital do Amazonas, o site localizou os primeiros focos de incêndio em um grupo de fazendas situado no entorno das terras indígenas Murutinga/Tracajá, Cuia, Iguapenu e Recreio/São Félix, habitadas pelo povo mura.

A propriedade do pecuarista concentrou boa parte das manchas de fogo no início de setembro.

Confira:

A partir dessas queimadas, realizadas para renovar o pasto para os rebanhos, o incêndio se alastrou para as terras indígenas vizinhas, em especial para a Cuia.

“A origem das queimadas e a proporção alcançada pelo fogo no entorno da fazenda AM-359 coincidem com os períodos e locais citados pelos órgãos ambientais”, diz o site.

Indígenas disseram que o fogo comprometeu o principal meio de subsistência dos muras, que têm tido dificuldade em encontrar áreas disponíveis para plantar e colher mandioca e outros alimentos.

“Acabou que a queimada levou todas as matas, todas as matas virgens, mata capoeira onde as nossas famílias fazem o roçado”, disse Adilio Mura, morador da aldeia Moyray, na terra Iguapenu.

“As pessoas estão tomando a água que é muitas das vezes até compartilhada com os animais, com búfalo e tudo mais”, afirmou o comunicador Waldir Botelho, da etnia mura.

O De Olho nos Ruralistas destacou ainda que Santos e seu filho, o ex-vereador Marcelinho Maia, que dá nome ao parque de exposições da cidade, são citados como agressores dos muras, na terra Murutinga, no relatório “Violência contra povos indígenas do Brasil – 2019”, publicado pelo Conselho Indígena Missionário (Cimi),

A ocorrência é do ano de 2019. Segundo o relato, uma área ocupada pelos indígenas fora da terra foi cercada por Santos, que passou a tentar impedir o deslocamento dos que viviam fora do território homologado.

O desentendimento evoluiu para episódios de violência por parte da família de Santos: “O filho do fazendeiro, Marcelinho Maia, vereador, bateu num indígena, que se defendeu. O fazendeiro tentou, então, matar uma pessoa da comunidade, primeiro a punhaladas; depois, utilizando um terçado e, por último, a enxadadas”.

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Foto: BNC Amazonas