Crise do oxigênio trouxe pavimentação da BR-319 ao debate nacional

Movimentos viram uma tentativa de “aproveitar” a escalada da pandemia para empurrar o projeto de repavimentação, que precisa de aval do Ibama

Governo faz estudo incompleto e BR-319

Diamantino Junior

Publicado em: 10/02/2021 às 14:11 | Atualizado em: 10/02/2021 às 14:56

As cenas dramáticas de falta de oxigênio em cidades da região Norte levaram políticos a aumentar as pressões pela repavimentação da BR-319.

Inaugurada nos anos 1970, a rodovia Manaus-Porto Velho ficou em estado de abandono e um trecho de 400 quilômetros no meio da estrada tornou-se quase intrafegável.

O temor dos ambientalistas é que, em um contexto bem diferente ao de meio século atrás, a “nova” BR-319 abra caminho para o desmatamento e a ocupação de uma das áreas mais preservadas da Amazônia.

Um dos receios é com o efeito “espinha de peixe”, ou seja, que a rodovia principal viabilize o surgimento e a proliferação de pequenas estradas transversais e de difícil controle para fiscalizar atividades ilegais.

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Em 2009, no auge do extinto Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Ibama recusou a análise de um estudo de impacto ambiental (EIA-Rima) sobre o trecho a ser repavimentado por considerá-lo cheio de inconsistências.

No governo Jair Bolsonaro, o tema voltou a ganhar prioridade na área de infraestrutura e o órgão recebeu um novo estudo no ano passado, que está em avaliação.

O prefeito da Manaus, David Almeida, culpou o isolamento geográfico da cidade e a falta de trafegabilidade da BR-319 pela demora na chegada de oxigênio para atender pacientes de covid-19.

“Temos 97% da floresta preservada. Somos exemplo para o mundo, mas estamos sendo penalizados por isso. […] No inverno, aquele trecho fica intransitável. E aquela área da estrada nem é apropriada para a agricultura.”

Movimentos viram uma tentativa de “aproveitar” a escalada da pandemia para empurrar o projeto de repavimentação, que precisa de aval do Ibama.

O Observatório BR-319 – que reúne entidades como WWF, Wildlife Conservation Society e Fundação Amazonas Sustentável – reagiu às declarações e enfatizou: “Aproximadamente 69 terras indígenas e 44 unidades de conservação serão impactadas. Por isso faz-se necessária ampla participação de comunidades tradicionais, além de governança adequada que controle o tráfego e demais ilegalidades como roubo de madeira, invasões e grilagem”.

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Foto: Divulgação