Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), divulgados nessa segunda-feira (16), contrariam a afirmação do presidente Jair Bolsonaro. Desmentem, ao mesmo tempo, o vice Hamilton Mourão.
Tanto Bolsonaro quanto Mourão declararam diversas vezes que 90% dos focos de queimadas na Amazônia ocorrem em desmatamento consolidado. Ou seja, em áreas desflorestadas antes de 2018 (na foto, foco de calor em Lábrea, AM ).
De acordo com o Instituto, quase metade das queimadas (45,4%) aconteceram em áreas recém-desmatadas.
Outros 64% aconteceram nas propriedades privadas com registro no CAR (Cadastro Ambiental Rural).
O novo painel divulgado pelo Inpe se refere aos focos de queimadas registrados de agosto de 2019 até setembro de 2020.
No período, os técnicos do instituto extraíram dados sobre todos os focos registrados pelo satélite de referência.
Na ocasião, entretanto, identificaram cerca de 150 mil deles.
Na sequência, eles colheram os dados do desmatamento recente (áreas identificadas nos últimos três anos) e do consolidado (antes de 2018) para fazer o estudo.
Diferente do que afirmaram Bolsonaro e Mourão, o cruzamento dos dados identificou que apenas 40,4% dos focos ocorreram em áreas de desmatamento consolidado.
Associação errada
“Esse painel esclarece que normalmente se faz uma associação errada de que a maior parte das queimadas estão em áreas consolidadas no passado, que já estão sendo submetidas a alguma espécie de manejo, como pasto”, explicou o tecnologista sênior do Inpe Luís Eduardo Maurano ao Observatório do Clima .
Conforme Maurano, uma grande parcela do desmatamento acontece em áreas que foram desmatadas recentemente. Portanto, não entraram no processo de produção.
Os dados têm respaldo em outro levantamento feito pela Nasa. A agência usou, igualmente, a mesma metodologia para chegar à conclusão de que metade dos focos de queimadas na Amazônia está em área recém-desmatada.
Foto: Christian Braga/Greenpeace