Facções criminosas exploram garimpos ilegais na Amazônia

Autoridades já detectaram pontos de atuação em duas das maiores reservas indígenas do país

Projeto fecha cerco à extração de ouro

Ferreira Gabriel

Publicado em: 02/11/2021 às 13:14 | Atualizado em: 03/11/2021 às 11:51

Facções criminosas do Sudeste do país passaram a explorar garimpos ilegais localizados em diferentes pontos da floresta amazônica.  Trata-se, de uma manobra para diversificar sua carteira de negócios ilícitos, desta vez, na região Norte.

As autoridades já detectaram pontos de atuação em duas das maiores reservas indígenas do país, a dos Yanomamis, em Roraima; e a dos Mundurukus, no Pará.

A Divisão de Inteligência e Captura (Dicap) do sistema prisional de Roraima tem uma lista de dez foragidos vinculados a uma facção criminosa paulista que teriam se refugiado em garimpos na selva.

Armados com pistolas, escopetas e fuzis, eles começaram a ganhar dinheiro fazendo a segurança dos garimpeiros contra indígenas e piratas. A partir disso, uma de suas lideranças, Dheys Vieira da Silva, decidiu tomar o controle de um campo de extração de ouro na região do Rio Uraricoera, no início deste ano.

As informações chegaram ao Dicap por meio de um bandido capturado em julho e duas denúncias anônimas feitas em setembro que relatavam que o grupo de Dheys “estava forte” no local.

“Temos já informações que os faccionados estão dominando a extração, com maquinário e tudo. Outros ficam só na segurança. Alguns garimpeiros não dão moleza, mas eles vão se infiltrando até verem o melhor momento e tomarem conta da região”, disse o chefe do Dicap, subtenente Roney Cruz.

Com duas passagens por tráfico de drogas, Dheys Silva fugiu em 2018 do presídio do Presídio Agrícola de Monte Cristo, que um ano antes foi palco de um dos maiores massacres do país em que 31 detentos foram mortos por membros da facção paulista – na época, a organização criminosa estava em guerra contra uma facção do Rio de Janeiro e outra do Amazonas.

Do mesmo presídio, escapou Janderson Edmilson Alves, outro membro da facção que reapareceu numa área de garimpo em terra Yanomami em maio.

Num vídeo que circulou em grupos de WhatsApp, ele aparece junto com um grupo de dez bandidos armados com fuzis e balaclavas subindo o rio Uraricoera e distribuindo ameaças aos indígenas.

“Hoje vocês vão ver quem manda no bagulho. Nóis é a guerra, neguinho”, diz um dos comparsas na gravação.

Em fotos postadas nas redes — hoje em posse da polícia —, o bando exibe armas de grosso calibre com a legenda “família do 1533”, uma das siglas da facção paulista.

Foto: Reprodução

Naquele mês, a comunidade Yanomami de Palimiú foi alvo de dezenas de ataques a tiros que só foram interrompidos após a chegada da Polícia Federal e Força Nacional.

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Foto: Paulo Basta/Fiocruz