Forças Armadas custam R$ 550 milhões e não diminuem desmatamento
O vice-presidente Hamilton Mourão defende a continuidade da militarização na região

Ferreira Gabriel
Publicado em: 25/10/2021 às 16:22 | Atualizado em: 25/10/2021 às 16:22
As três intervenções das Forças Armadas no combate a crimes ambientais na Amazônia custaram R$ 550 milhões aos cofres públicos. No entanto, as ações não derrubaram o desmatamento no bioma.
Mesmo assim, o vice-presidente Hamilton Mourão defendeu a continuidade dessa militarização para que negociadores brasileiros tenham “números positivos” para apresentar na COP26.
A Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas começa no próximo dia 31 em Glasgow, no Reino Unido.
Mourão, que preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal, foi excluído da possibilidade de chefiar a delegação brasileira na COP26, apesar de ter manifestado intenção nesse sentido. O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, lidera os trabalhos.
Além disso, o apelo de Mourão para que os militares permanecessem na Amazônia, até como forma de garantir êxito na conferência da ONU, foi ignorado pelo governo.
No último dia 15, o próprio vice-presidente confirmou que o governo não renovaria mais ações do tipo.
Intervenções
As intervenções militares foram garantidas por meio de decretos do presidente Jair Bolsonaro que autorizaram o emprego das Forças Armadas nas chamadas GLOs (garantias da lei e da ordem), com ações diretas em terras indígenas, unidades de conservação e áreas particulares onde ocorriam crimes ambientais.
As três GLOs ficaram vigentes durante 16 dos 34 meses de governo Bolsonaro. Apesar do malabarismo com dados feito pelo governo, a presença dos militares não derrubou os indicadores de desmatamento da Amazônia.
A primeira GLO vigorou de agosto a outubro de 2019. Cada dia da chamada Operação Verde Brasil custou R$ 1,5 milhão, segundo informação do próprio Mourão.
Depois, uma nova GLO assegurou a Verde Brasil 2, que durou entre maio de 2020 e abril de 2021, a um custo de R$ 410 milhões.
Uma terceira GLO garantiu a Operação Samaúma entre o fim de junho e o fim de agosto de 2021. Esta última teve ação mais focada em 26 cidades de quatro estados amazônicos. Custou R$ 50 milhões, segundo Mourão.
O total de R$ 550 milhões equivale a quase seis vezes o valor do orçamento do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) em 2020 para gastos com fiscalização ambiental, licenciamento e gestão da biodiversidade. É o Ibama o órgão fiscalizador e repressor dos ilícitos nos biomas brasileiros.
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Foto: Leonardo Freitas/EBC