Guerreiros Mura faz uma viagem ao mundo submerso
Ciranda do bairro da Liberdade transformou em espetáculo narrativas recorrentes na Amazônia.

Dassuem Nogueira, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 02/09/2024 às 11:27 | Atualizado em: 02/09/2024 às 14:20
A ciranda Guerreiros Mura encerrou na noite deste dia 1° de setembro o 26º Festival de Cirandas de Manacapuru. O público, visivelmente, foi o maior das três noites.
Com o tema “Sob o véu de Iacy”, a ciranda do bairro da Liberdade transformou em espetáculo narrativas recorrentes na Amazônia, como a assombração por entidades misteriosas.
O cordão de entrada captura o Caçador e o leva para o mundo submerso nas águas. No imaginário amazônico, tais lugares são cheios de vida comum, tal como é na realidade sobre a terra.
Porém, habitada por seres míticos e humanos encantados que jamais conseguiram voltar e onde coisas fantásticas acontecem em meio à vida cotidiana.
Vestidos de vermelho, o cordão de cirandeiros surge representando os filhos de Anhangá, entidade feita de fogo.
Em sua entrada, os cirandeiros fizeram as grandes rodas de ciranda. Notou-se ainda que o apito, instrumento que, tradicionalmente, faz a marcação dos passos, integrou a harmonia da tocata durante todo o espetáculo e fez a marcação de algumas coreografias.
Yaci, a lua em tupi, surge no céu iluminando as águas. Nesse momento, o amor incompatível entre Iacy e Guaraci, o sol foi performado pelos dançarinos Úrsula Freitas e Adriano Paketá, que são noivos na vida real.
Ao iluminar as águas, o Caçador se vê assombroso. Mas, a beleza da flor da vitória-régia lhe salva. Nela, surgiu a Garota Raça Mura.
Em seguida, as cobras irmãs Honorato e Caninana aparecem para trazendo Constância.
A Matinta Pereira surge na arena em sua versão mulher, interpretada por uma dançarina vestida completamente de preto.
E, na alegoria, a grande rasga mortalha, ave agourenta e preta em que a Matinta se ingera, se transforma em uma coruja branca, outra ave a qual se atribui a ingeração da Matinta. A princesa cirandeira, Jéssica Alencar, surge com uma belíssima indumentária de coruja.
O Bicho Folharal também aparece para dar uma surra de ventos e galhos no Caçador. De sua estrutura folhosa, surge a cirandeira bela com lindíssima indumentária de lagarta.
Ingerada em porco queixada, a Mãe da Mata surge trazendo a porta-cores.
Por fim, o grande Carão se revela como o grande guerreiro Mura, símbolo da ciranda. O fim do espetáculo é simbolizado pela aparição de Guaraci, o sol.
Após ter conhecido a vida como é na totalidade misteriosa da floresta submersa, o Caçador retorna para a terra, então ciente de que não pode desrespeitar tantas vidas.




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Práticas de sustentabilidade
Chamou atenção que a Guerreiros Mura tenha reaproveitamento de vários módulos do ano passado, quando o tema da ciranda foi Urihi, a grande floresta, que contou a saga cosmológica dos ianomâmis.
As lindas árvores estilizadas com copa de tecidos que ano passado eram a grande floresta ianomâmi, compuseram o painel de fundo do espetáculo nesse ano.
Além disso, a estrutura que fez o cordão de cirandeiros fazer a dança dos espíritos xapiri, foi reutilizada para a sua entrada como filhos de anhangá.
E o belíssimo porco queixada que parece caminhar pela arena também foi reutilizado para trazer mãe da mata.
O conceito da reciclagem foi ressaltado como uma prática de sustentabilidade da Guerreiros Mura, apresentado em uma faixa no final.
Também foi dito que a agremiação tem priorizado o uso de material orgânico em suas criações.
Foto: Dassuem Nogueira/BNC AMAZONAS