Ianomâmis: presença de garimpeiros mantém alto índice de mortes

Os criminosos ainda ameaçam 31 mil indígenas que vivem no local

Cobertura especial mostra lições ancestrais dos indígenas ianomâmis 

Ferreira Gabriel

Publicado em: 17/01/2024 às 14:16 | Atualizado em: 17/01/2024 às 14:16

Um ano após o governo federal iniciar uma operação de ajuda humanitária e combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Ianomâmi, criminosos ainda ameaçam 31 mil indígenas que vivem no local.

Os garimpeiros adaptaram suas ações para escapar da fiscalização e voltaram à reserva no segundo semestre. O resultado foi a manutenção de um patamar alto de mortes dos ianomâmis. As 343 mortes em 2022 caíram para 308 no ano passado, mas a diminuição representou uma variação de apenas 10%, o que suscitou críticas de especialistas e indígenas.

Na semana passada, o ativista Daniel Munduruku criticou o Ministério dos Povos Indígenas. Outros líderes indígenas defendem o trabalho de Sonia Guajajara na pasta, mas concordaram que era preciso ter feito mais.

Munduruku publicou em sua conta no X (o antigo Twitter) que criar um ministério “cirandeiro” é reproduzir a “política do pão e circo”, com “muita festa, muita viagem internacional” e pouca ação.

Coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas (Apib), Kleber Karipuna concorda que o ministério poderia ter feito mais e deu como exemplo as poucas demarcações de novas terras: oito. Mas ressalva que o orçamento da pasta era pequeno e que muitas ações na terra ianomâmi não dependiam apenas da pasta de Sônia.

“Esperávamos maior consistência na desintrusão dos invasores e nas outras políticas públicas para o povo ianomâmi. Claro que houve muitas sequelas do governo anterior, mas a gente almeja melhores resultados agora. Houve mais do que nos últimos seis anos, mas poderia ser muito mais”, disse.

Já a ativista Alessandra Munduruku criticou a fala de Daniel, ao dizer que “não é momento de atacar”.

“Não vou atacar uma parente (Sonia Guajajara) que recebe pressão do Congresso e até de outros ministros que são contra povos indígenas. Então para mim a fala do Daniel não ajuda”, disse Alessandra, que, por outro lado, critica a ineficiência na desintrusão de garimpeiros. ” Não tem base permanente de segurança, fica difícil. Como parou as operações, eles voltaram. Onde tem muito garimpo, muitas vezes o governo não chega, e eles estão muito armados. Há muita malária e lugares sem peixe e água para beber”.

Em uma live ontem, Sônia admitiu que as operações foram “insuficientes na resolução dos problemas”. Mas destacou as ações emergenciais e avisou que “assim como foram décadas de invasões, pode levar décadas para se restabelecer tudo”.

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