Índios de S. Gabriel da Cachoeira revelam feridas da catequização salesiana

Aguinaldo Rodrigues
Publicado em: 05/11/2019 às 05:00 | Atualizado em: 04/11/2019 às 20:29
Embora muitos já se vejam como índios católicos, “até morrer”, marcas do passado sinalizam que ainda há o que ser ajustado na relação com os salesianos, cuja missão se instalou no município amazonense de São Gabriel da Cachoeira, a 852 quilômetros de Manaus, no início do século passado.
“Eu não perdoo as ofensas que nossos avós levavam, eles apanharam mesmo. Nós perdemos muitas coisas com eles, mas aprendemos muitas coisas também”.
A declaração do índio tucano Jaciel Freitas, de 44 anos, líder da Coordenadoria das Organizações Indígenas do Distrito de Iauarete (Coidi), simboliza o sentimento daqueles que cada vez mais ascendem nos estudos e nas funções dentro da igreja católica.
Freitas criticava os dirigentes das missões por não terem feito uma autocrítica da igreja nas celebrações recentes de 90 anos da missão em Iauaretê. Eles cobram um reconhecimento maior da igreja pela atuação no passado.
“Eu gostaria que um padre estrangeiro reconhecesse: ‘Nós, infelizmente, erramos’. Isso me dói ainda”, revelou o tucano Arlindo Maia, que foi aluno interno na missão salesiana em Iauretê.
Na reportagem de Fabiano Maisonnave e Lalo de Almeida, enviados do jornal Folha de S.Paulo ao norte do Amazonas, Maia conta ainda o castigo que recebia quando era flagrado falando na sua língua nativa, e não em português, como queriam os salesianos.
Hoje ele é ministro de capela em comunidade do distrito, depois que estudou em escola agrícola, em Manaus, na década de 80.
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Missão e imposição
A missão salesiana, segundo a reportagem, foi enviada a São Gabriel da Cachoeira para implantar o projeto educacional criado por dom Bosco, mas o que teria acontecido, segundo historiadores citados, é que o catolicismo, o português e mudança de hábitos tradicionais foram impostos aos índios.
“Os salesianos, novos bandeirantes, puseram-se a devassar aquelas matas e a alindar a alma daqueles índios […] Souberam radicar o índio, instruí-lo e catequizá-lo, fazer dele um elemento útil à pátria”, escreveu em 1933 Soares d’Azevedo, no livro “Pelo Rio Mar”.
Para o padre tariano Domingos Lana, de 51 anos, os salesianos chegaram à região sem o projeto educativo. “Eles vieram impondo. O que prejudicou foi isso. Vieram aqui para executar o programa do governo brasileiro, que era tornar o índio membro da sociedade nacional”.
Um padre salesiano da etnia dessana que atua em Iauaretê se recusou a falar com os repórteres.
Leia a reportagem completa na Folha.
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