O Boletim da Migração aponta que os venezuelanos são os que mais ocupam postos de trabalho formal entre imigrantes no Brasil.
Porém, em Manaus, a base de dados aponta decréscimo da relação entre admissões e desligamentos em relação ao ano passado.
O boletim é produzido pela Secretaria Nacional de Justiça (Senajus), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a partir da base de dados do Observatório das Migrações Internacionais (Obmigra), entidade ligada à Universidade Nacional de Brasília (UnB).
Segundo o documento, houve avanços no cenário nacional de inserção de imigrantes no mercado de trabalho formal.
Dados de janeiro a agosto deste ano, 203,4 mil migrantes, refugiados e apátridas foram admitidos no mercado de trabalho formal no Brasil.
Considerando os desligamentos, o saldo de trabalhadores imigrantes em atividade no período foi de 48,4 mil.
Entre as nacionalidades mais representadas no mercado de trabalho formal estão os venezuelanos (com saldo de 32,8 mil), seguidos pelos cubanos (3,2 mil), argentinos (3,1 mil), paraguaios (1,8 mil) e angolanos (1,1 mil).
O setor industrial é o maior empregador, com mais de 19 mil postos de trabalho ocupados por migrantes no período, enquanto o comércio e a reparação destacaram-se como o segundo lugar.
Segundo o boletim, Santa Catarina e Paraná lideram a oferta de empregos formais no Brasil, com 12,9 mil e 11,8 mil vagas, respectivamente.
Os homens ocuparam 28,8 mil vagas e as mulheres, 19,5 mil.
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Ranking em Manaus
Segundo a base de dados do Obmigra, na capital do Amazonas, de janeiro a setembro foram admitidos em trabalho formal 3.755 imigrantes, dos quais foram desligados 3.134, com saldo de 621 trabalhadores em atividade.
O setor que mais empregou imigrantes em Manaus é aquele definido como “demais serviços”, seguidos do de comércio e reparação, indústria e construção.
Desse total, a comunidade venezuelana é a mais representativa.
Do total de 3.755 admissões em Manaus, 3.356 são venezuelanos, 2.792 foram desligados e o saldo para essa nacionalidade foi de 564 trabalhadores formais em atividade.
Os setores que mais empregam formalmente os venezuelanos em Manaus replicam o perfil acima exposto para a capital.
Dessa forma, a categoria de “demais serviços” foi a que mais se destacou com 1.378 admissões, seguidos do setor de comércio e reparação com 975 e da indústria com 533.
Em relação ao cenário no Brasil, a diferença de gênero na capital amazonense é maior: homens venezuelanos ocuparam 77,86% dos postos de trabalho formal e as mulheres, apenas 22,14%.
Os imigrantes que seguem os nacionais da Venezuela em admissões em postos de trabalho formal acima de uma dezena são:
Colômbia (95)
Peru (62)
Haiti (52)
Cuba (28)
Japão (25)
Argentina (19)
China (17)
Porém, houve saldo negativo, ou seja, mais desligamentos do que admissões para nacionais do Haiti (-12) e Cuba (-8).
As informações foram retiradas da base de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do portal de imigração laboral do Obmigra, do Ministério da Justiça e Segurança Pública e não consideram o status migratório. Ou seja, não faz distinção entre migrantes, refugiados e apátridas.
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Trabalho e renda
Embora exista um saldo positivo entre admissões e desligamentos de trabalho formal para venezuelanos em Manaus neste ano, há uma queda em relação ao ano passado.
Em todo o ano de 2023, houve 4.002 admissões e 3.293 desligamentos, com saldo de 709 trabalhadores ativos até dezembro.
Quando colocamos em perspectiva a população total de venezuelanos estimada na capital, atualmente, estimada em 40 mil pessoas (Acnur, 2022), observamos que ainda existe um grande desafio.
Segundo o último diagnóstico de perfil socioeconômico e laboral realizado pelo Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) em 2022, a maioria dessa população estava em idade economicamente ativa.
Dados daquele ano mostravam que 59,9% da população refugiada se encontrava com alguma ocupação na cidade, mas apenas 4,5% com emprego formal e carteira de trabalho assinada.
Entre as mulheres, esse número era de apenas 2,5%.
O diagnóstico revelava ainda que o rendimento médio das pessoas venezuelanas ocupadas em Manaus estava abaixo do salário-mínimo nacional com apenas R$ 891,50. Em 2022, o salário era de R$1.212.
Contudo, o diagnóstico indicava que 51,3% das pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela concluíram o ensino médio, e 25,6% tinham formação técnica ou superior em áreas como educação, administração, engenharia e outros.
Além disso, um total de 56% dos respondentes da pesquisa acumulavam mais de três anos de experiência na área de formação.
O Acnur indica o grande potencial de enriquecimento da economia com a inserção de profissionais, migrantes, refugiados e apátridas, capacitados em diferentes áreas.
A agência da ONU também aponta como fundamental a facilitação de revalidação de diplomas para que esses profissionais consigam trabalhar em suas áreas de formação contribuindo em toda sua potência com a economia.
Esses são dados do “Diagnósticos para a promoção da autonomia e integração local de pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas em Manaus: pesquisa de perfil socioeconômico e laboral”, publicado pelo Acnur em 2022.
Foto: Jander Souza/SEAS