Lula deve dar indulto à indígena violentada por policiais no Amazonas
Pedido é da Defensoria Pública do Estado para o caso em delegacia de Santo Antônio do Içá

Da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 24/08/2025 às 08:54 | Atualizado em: 24/08/2025 às 09:17
A Defensoria Pública do Estado (DPE-AM) protocolou, nesta sexta-feira (22 de agosto), um pedido de indulto humanitário ao presidente Lula da Silva em favor de uma mulher indígena da etnia kokama, vítima de tortura, estupro e condições degradantes enquanto esteve presa por mais de nove meses na 53ª Delegacia Interativa de Polícia de Santo Antônio do Içá, no interior do Amazonas.
A mulher, de 29 anos, foi condenada e cumpria pena privativa de liberdade quando sofreu sucessivos abusos sexuais praticados por policiais militares e um guarda municipal, confirmados por laudos periciais do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Amazonas (MP-AM).
Mesmo lactante e em período de resguardo, a indígena foi obrigada a trabalhar oito horas diárias, sem folgas, em tarefas externas, e ficou presa com o filho recém-nascido em cela com homens.
Segundo a DPE-AM, as violações causaram transtorno de estresse pós-traumático, além de problemas físicos graves, como a necessidade de cirurgia para tratar hemorróida em estágio crítico.
O documento enviado ao Palácio do Planalto cita o Pacto de San José da Costa Rica e as Regras Nelson Mandela como base para a concessão do benefício.
“Estamos diante de um caso extremo, em que o próprio Estado … praticou atos de tortura, estupro e tratamento desumano, ferindo frontalmente a Constituição Federal e tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário”, afirma trecho do requerimento.
A Defensoria também argumenta que, diante da brutalidade sofrida, o Estado perdeu o poder moral e legal de punir, considerando que a mulher já cumpriu mais de cinco anos de pena — cerca de 27% da condenação total.
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O caso chegou ao conhecimento da DPE-AM em agosto de 2023, um dia após a transferência da vítima para a unidade prisional feminina de Manaus.
Apesar de diversos pedidos para transferência imediata, a remoção só ocorreu quase dez meses após sua prisão, agravando seu estado físico e emocional.
O pedido de indulto conta com apoio do Ministério dos Povos Indígenas, que emitirá parecer técnico para subsidiar a decisão de Lula.
A análise presidencial será a etapa final para confirmar a medida.
Foto: Dacimar Carneiro, advogado/cedida ao site Sumaúma Jornalismo/reprodução Facebook