Manaus homenageia cacique de 91 anos mais badalado do país

Cinquenta cidades receberam cartazes de intervenção urbana, com imagem do cacique caiapó, celebrado do dia do meio ambiente

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Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 05/06/2022 às 12:39 | Atualizado em: 08/06/2022 às 10:44

Manaus é uma das 50 cidades brasileiras que participa do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado neste domingo, 6 de junho. 

Entre as muitas manifestações, atividades e protestos, a capital amazonense abriga uma das atrações espalhadas por todo o país: a homenagem ao cacique Raoni Metuktire, 91 anos, do estado do Mato Grosso.  

Desde o dia 1º de junho, quando iniciaram as comemorações da Semana do Meio Ambiente, 50 cidades brasileiras receberam cartazes de intervenção urbana (lambes) de 6,2 metros, com imagem do cacique Raoni. 

A ação inclui projeções em oito localidades em quatro diferentes cidades: São Paulo (SP), Recife (PE), Tefé (AM) e Belo Horizonte (MG). 

Em Manaus, o mural, com a cara do líder indígena, está na rua 10 de julho, centro da cidade.

 

Trabalho está exposto no centro de Manaus
Foto: Raiz Campos

“Raonizar as Cidades é uma ação relacionada com a data do 5 de junho, que há 50 anos é internacionalmente reconhecida como o dia do Meio Ambiente. E nada como essa grande liderança indígena, com reconhecimento mundial pelo seu trabalho em defesa da floresta, para lembrar que todos somos dependentes dela”, disse o ativista Raiz Campos, autor da obra.  

Ele explica que o mural buscou mostrar o Raoni de forma guerreira utilizando o estilo psicoamazônico, que permite o uso de técnicas e a abundância de cores para representar a diversidade da mata e as medicinas sagradas da floresta. 

“Que essa arte possa levar cores, força, luz e boas vibrações para que o mestre Raoni se mantenha cada vez mais vivo e ativo nessa luta. É uma honra homenagear um ídolo que merece muito mais reconhecimento e gratidão por tudo o que faz pela nossa Amazônia”.

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Ícone da preservação 

Único indígena brasileiro indicado ao prêmio Nobel da Paz, Raoni Metuktire, um dos ícones vivos de sua geração na luta pelos direitos indígenas e a preservação ambiental, está sendo homenageado por um grupo de 20 organizações da sociedade civil brasileira na data em que se comemoram cinco décadas da criação do Dia Mundial do Meio Ambiente.  

“Raonizar’ as cidades, na semana do meio ambiente é simbólica e significativa porque Raoni é um exemplo vivo de paz e uma inspiração para todos que defendem a natureza”, explica Jonaya de Castro, do Megafone – uma das organizadoras da ação.  

Para Megaron Txucarramãe, sobrinho do cacique, além de ser um guardião da vida e um dos principais defensores dos direitos indígenas, Raoni Metuktire se destaca pela forma como fez isso: sempre por meio do diálogo.  

“Homenagear Raoni, nos 50 anos do Dia do Meio Ambiente, é uma forma de fazer com que as novas gerações conheçam este símbolo vivo da paz e do diálogo. Em tempos de tanta intolerância e radicalismo, a lembrança de Raoni é sopro de esperança para todos nós”, disse Megaron Txucarramãe. 

Perguntado sobre a mensagem que gostaria de deixar para os outros brasileiros, o cacique Raoni respondeu: “Todos nós devemos nos preocupar com a floresta. Nos comprometermos com a demarcação de todas as terras indígenas do Brasil e com o fortalecimento da Funai. E que esse compromisso se transforme em amizade e em tempos de paz.” 

Protagonismo e luta 

Não se sabe ao certo a data de nascimento do cacique Raoni Metuktire, mas acredita-se que ele tenha 91 anos. Nascido no Mato Grosso, ele mora ainda hoje na aldeia Metuktire, localizada na Terra Indígena Capoto-Jarina. 

Raoni foi protagonista em diversas lutas em favor dos povos indígenas e da Amazônia, consolidando-se como uma liderança legítima e porta-voz da preservação do meio ambiente. 

Em 1954, Raoni teve o primeiro contato com o homem branco, tendo aprendido português com os irmãos Villas-Boas. Em 1964, encontrou-se com o rei Leopoldo III, da Bélgica, quando este fez uma expedição em terras indígenas no Mato Grosso.  

Na década seguinte, em 1978, foi tema de um documentário intitulado “Raoni”, indicado ao Oscar e que contou com a participação de Marlon Brando na sequência de abertura.

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Ação na constituinte 

Em 1984, negociou com o então ministro do interior, Mário Andreazza, a demarcação de sua reserva.  

Em 1987 e 1988, teve protagonismo, ao lado de outras lideranças indígenas, na garantia dos direitos dos povos indígenas na Constituição Federal. 

Ainda em 1987, o encontro com o cantor Sting daria início a uma parceria que lhe conferiu notoriedade internacional. Juntos, eles fizeram uma grande turnê por 17 países de abril a junho de 1989, na qual defendeu a criação de um parque nacional na região do Xingu. 

O projeto encontrou apoio junto a políticos e personalidades internacionais, como os ex-presidentes franceses François Mitterrand e Jacques Chirac, o rei Juan Carlos da Espanha, o príncipe Charles e o Papa João Paulo II, entre outros. Empenhou-se na luta contra Belo Monte. 

Indicação ao Nobel da Paz 

Em 2011, Raoni recebeu o título de cidadão honorário de Paris. Em 2019, um grupo de ambientalistas e antropólogos apresentou seu nome como candidato ao Prêmio Nobel da Paz de 2020 por sua defesa vitalícia da floresta.  

Em 2020, recebeu o Prêmio Darcy Ribeiro e, em 2021, recebeu o título de Membro Honorário da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). 

Foto: amazonia.org/divulgação