Matizada faz um espetáculo empolgante

A lilás e branca levou para a arena seus pontos fortes: alegorias sofisticadas; tema autoral combinando diferentes referências artísticas

Dassuem Nogueira, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 01/09/2024 às 13:10 | Atualizado em: 02/09/2024 às 14:20

Com o público estimado em quase 10 mil pessoas, a ciranda Flor Matizada fez um espetáculo empolgante na segunda noite do 26º festival de ciranda de Manacapuru, neste sábado, dia 31 de agosto.

A lilás e branca levou para a arena seus pontos fortes: alegorias sofisticadas; tema autoral combinando diferentes referências artísticas, como o teatro e as fábulas; e uma torcida empolgada e incansável.

“O alvorecer matizado: um voo pela vida”, levou o espectador em uma noite de aventuras fantásticas na floresta amazônica.

Leia mais

Conheça os 14 itens da ciranda de Manacapuru

Caçador virou caça

Como no passo tradicional da ciranda, o Caçador espreita o Carão, que, desta vez, foi apresentado em sua versão fêmea na visão da Matizada.

Acompanhado dos destruidores, com brincantes representando garimpeiros, a maldade do Caçador estraga a festa na floresta.

Ao tentar chegar perto da Carão morta, o Caçador é surpreendido pela aparição veloz do gavião real que saltou da borda para a arena abrindo enormes asas.

A encenação levou o público ao êxtase.

A enorme ave recolhe o corpo da Carão. Na arena, a cena teve um belíssimo efeito de ilusionismo, pois fazia parecer que a pássaro preto fora absorvida pelo gavião.

O cordão de cirandeiros surge vestido de gavião real, representando a ave salvadora que, por fim, afastará a sombra do mal e da destruição.

Leia mais

Tradicional faz um espetáculo belo e marcante

Aventuras fantásticas

Em seu primeiro ato, no reino das saúvas, o Caçador é levado a aprender lições de cooperação mútua. Em seguida, Seu Manelinho surge para auxiliá-lo a realizar a tarefa proposta pela saúva rainha.

O Caçador precisa recuperar o coração da samaumeira, roubado pelos perigosos espíritos muricariuas.

O coração da árvore da vida representa a sensibilidade da humanidade pela preservação de todas as vidas da floresta.

Após o sucesso de sua missão, o barco da cultura popular, batizado de Fran Furtado, pioneiro na confecção de alegorias na ciranda de Manacapuru, se transforma em coruja.

No simbolismo ocidental, a ave noturna representa o conhecimento e a sabedoria.

A alegoria trouxe Constância, personagem tradicional, em destaque.

Em outro ato, conduzido pelo ator Adanilo, que representou o espírito da resiliência manacanauê, leva o Caçador ao reino das aranhas.

Nesse momento, abriram-se teias em elástico na arquibancada e na arena, onde o Caçador foi entrelaçado, produzindo um belíssimo efeito.

Lá, o Caçador foi desafiado a reparar todo o mal causado à floresta. Para tanto, recebeu do espírito manacanauê uma bebida alucinógena que lhe permitiu conhecer personalidades importantes, já falecidas, da história da ciranda amazônica.

As estrelas da ancestralidade foram representadas pelos cantadores Erinho Mendonça. Márcia Siqueira e Mara Lima.

Por fim, o alvorecer matizado foi simbolizado pela ressurreição do Carão. A festa da floresta foi restituída.

Enquanto o cordão de cirandeiros se despedia com a música instrumental tradicional e seus apitos característicos, os demais brincantes, membros da diretoria, trabalhadores e convidados especiais compuseram uma apoteose empolgante.

Voos rasantes

Embora a Flor Matizada tenha apresentado um voo fantástico em amplo sentido, alguns rasantes conduziram os espectadores à realidade.

A alegoria da saúva que trouxe a Porta-Cores, teve problemas para descer, despencando de cerca de 2 metros de altura.

Apesar do susto, a estrutura ficou pendurada a poucos centímetros do chão, evitando o impacto que poderia ter consequências trágicas.

Por fim, Taísa Brasil se apresentou com apoio reconfortante do público.

Um pouco mais tarde, as asas da coruja que trouxe a Constância, Izaelle Noguche, bateram em seu rosto durante a sua descida da alegoria.

Com o tapa da coruja, Izaelle quase caiu para trás. Em seguida, com as mãos no rosto, procurou ajuda da equipe de arena. O acidente aconteceu, justamente, em frente e muito próximo à cabine de jurados.

Outro problema com execução de alegoria ocorreu na chegada da Princesa Cirandeira.

O peito da rainha aranha deveria abrir em duas abas para que ela aparecesse ainda na alegoria. Contudo, uma das abas não abriu. A Princesa Cirandeira só apareceu plenamente em sua descida.

Fotos: Dassuem Nogueira/especial para o BNC Amazonas