Amazonas: internet de Musk é usada por milicianos para tortura ao vivo

Milicianos utilizam a internet Starlink para transmitir tortura ao vivo em Boca do Acre, expondo o uso criminoso da tecnologia.

Publicado em: 11/06/2024 às 10:30 | Atualizado em: 11/06/2024 às 10:30

A internet via satélite Starlink, do bilionário Elon Musk, foi utilizada por milicianos para comunicar em tempo real uma sessão de tortura ao suposto mandante em Boca do Acre, no Amazonas. O crime ocorreu em 29 de fevereiro deste ano e envolveu o agrimensor Bruno Alceu Bonfim Tabuti e outros três camponeses. Tabuti denunciou a violência à Polícia Civil e ao grupo de prevenção e combate à tortura do Ministério Público do Acre.

Uso criminoso

Desde que Elon Musk iniciou a expansão da Starlink no Brasil, várias denúncias surgiram sobre seu uso por criminosos.

O Ibama já encontrou 90 aparelhos da Starlink operando em garimpos ilegais em um ano.

A empresa domina a região amazônica, com antenas em 90% dos municípios, incluindo fronteiras e áreas remotas onde não há serviço de banda larga. Nessas regiões, ouro, armas e munições foram apreendidos em operações da Polícia Federal (PF) e do Ibama.

Tortura transmitida ao Vivo

O agrimensor Tabuti foi contratado para demonstrar que uma área desmatada não tinha relação com as ações dos moradores do Acampamento Marielle Franco, em Boca do Acre.

No entanto, quando ele e outros três camponeses chegaram ao local para realizar o trabalho, foram interceptados por homens armados.

Os agressores usaram a internet da Starlink para fazer uma videochamada, comunicando a sessão de tortura ao suposto mandante identificado como “doutor Sidnei”.

Depoimento de Tabuti

Segundo Tabuti, os agressores o renderam e começaram a agredi-los com socos, chutes e golpes de facão.

Durante a sessão de tortura, usaram a internet via satélite para fazer uma videochamada ao suposto mandante.

A conversa, embora breve, deixou claro que os agressores estavam seguindo ordens transmitidas em tempo real.

Eles destruíram os equipamentos de trabalho de Tabuti, causando um prejuízo financeiro significativo e impedindo-o de continuar a trabalhar como agrimensor.

Denúncias

Desde a parceria firmada em maio de 2022 entre Musk e o governo brasileiro, com o objetivo de usar a tecnologia para a preservação da floresta amazônica e monitoramento de desmatamentos, muitos problemas surgiram.

Apesar das promessas de beneficiar 19 mil escolas desconectadas em áreas rurais, esses projetos não saíram do papel, enquanto o uso por criminosos aumentou.

Preocupações internacionais

Além do Brasil, o uso da internet da Starlink por quadrilhas também levanta preocupações em países em conflito na África e na Ásia. A facilidade de comunicação em áreas remotas sem fiscalização adequada torna a tecnologia uma ferramenta poderosa nas mãos erradas.

O uso da internet via satélite Starlink para crimes graves, como a tortura ao vivo no Amazonas, exemplifica um grande desafio. A tecnologia, inicialmente planejada para benefícios sociais e ambientais, tornou-se uma ferramenta para atividades criminosas. O caso de Bruno Alceu Bonfim Tabuti é um alerta para as autoridades intensificarem a fiscalização e controle sobre o uso dessa tecnologia em regiões vulneráveis.

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Foto: redes sociais