Morre Adenilson Ribeiro, mestre do macramé do festival de Parintins

Artesão revolucionou a confecção de roupas e adereços para itens como cunhã-poranga, pajé, apresentador e levantador de toadas

04/02/2023 08:27

Neuton Corrêa, Márcio Costa e Hudson Lima (BNC, AmEmPauta, ParintinsAmazonas)

Morreu na madrugada deste sábado, dia 4, mês do Carnaval, aos 56 anos, o artista parintinense Adenilson Ribeiro.

Ele sofria de problemas renais, que se agravaram nos últimos meses. Sua luta foi congênita, porque ele nasceu apenas com um rim.

Sua morte foi em Manaus, onde seu corpo está sendo velado e será sepultado.

Defensor de direitos trabalhistas

Adenilson era conhecido no meio artístico por seu temperamento forte como artesão e como defensor intransigente dos direitos trabalhistas e das condições de trabalho de sua classe.

Ele teve um histórico de confronto com várias diretorias do boi Garantido, único boi para o qual trabalhou formalmente e apaixonadamente.

Chegou até a ser excluído do quadro de artistas do bumbá em algumas temperadas por causa de sua luta.

Itens individuais

Mas o que o grande público não conhece é que Adenilson Ribeiro estilizou e popularizou roupas vestidas por itens individuais do Festival Folclórico de Parintins. E por onde passou, já que ele atuou em todos festivais folclóricos do Amazonas e no Carnaval de Manaus.

Paradigmático, Adenilson rompeu a acanhada confecção de adereços do pajé, cunhã-poranga, rainha do folclore, sinhazinha da fazenda e até do apresentador e do levantamento de toadas.

Na verdade, sua especialidade era vestir os itens individuais.

Macramés

Algumas das peças que saíram da arena do bumbódromo e foram parar na cabeça, na orelha, pescoço e braço das pessoas, em várias ocasiões e em vários lugares do Brasil, foram os cocares, cordões e brincos, assinados por ele.

Essas peças tinham a cara do Adenilson, que aperfeiçou a técnica do macramé, arte de tecer cordas e fios.

Uma dessas peças feitas por ele foi parar na Itália, na cabeça da jornalista vaticanista Ilze Scamparini, em 2018.

Em troca, recebeu vinhos apreciados pelos cardeais romanos.

Depoimentos

Irmã

“Ele já nasceu com o dom. Com o tempo, foi aperfeiçoando”, disse Carmem Lúcia, irmã do artista, lembrando que ainda garoto ele já tecia e desenhava suas ideias.

Parceiro

“O Adenilson tinha um estilo próprio. Era extremamente apaixonado pelo Garantido, não se via-o no Caprichoso. Quando ele fazia alguma coisa pra lá, era escondido, pra ninguém saber”, disse o artista Tarcísio Gonzaga, que realizou trabalhos com Adenilson desde 2008.

O rústico

Tarcísio observa também que seu parceiro tinha domínio muito grande pelas indumentárias rústicas, transformando palhas, folhas secas, cuias e sementes em exóticas peças de arte.

Fotos: Reprodução/Montagem: Alex Fideles