Pesquisas recentes trouxeram à luz outra Amazônia: com fartura de recursos materiais, povoamento denso, estradas e cidades.
A revisão que mudou o paradigma sobre o passado da Amazônia é do arqueólogo Eduardo Neves. ele é professor titular de arqueologia brasileira e diretor do MAE-USP (Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo).
A reportagem sobre o assunto é de hoje do site Poder360, como o título “Amazônia já foi um centro de agrobiodiversidade, diz pesquisador”.
O que descobrimos nos últimos anos que mudou nossa visão sobre o passado da Amazônia foi, 1º, a antiguidade da presença indígena. Segundo, que a região foi um centro independente de domesticação e cultivo de plantas e abrigou mais de um centro independente de produção de cerâmica. Terceiro, que o povoamento transformou a paisagem e produziu abundância. Quarto, que o adensamento demográfico gerou diversidade cultural e urbanização. Sabemos, hoje, que havia cidades na Amazônia –em, pelo menos, 3 ou 4 contextos diferentes , afirmou Neves.
Neves é nome referencial da nova pesquisa arqueológica e um dos principais protagonistas da grande revisão que mudou o paradigma sobre o passado da Amazônia.
Ele foi o palestrante da segunda Conferência Fapesp 2024: “Há algo de novo no passado: o estado da arte da pesquisa arqueológica na Amazônia“, realizada em 22 de março.
Conforme a publicação, a paisagem da Amazônia foi, em larga medida, modelada pela ação humana.
Por exemplo, Neves informou que os 390 bilhões de árvores da Amazônia são constituídos por 16.000 espécies diferentes.
Mas que apenas 227 espécies, ou seja, 1,4% do total, respondem por quase metade de todas as árvores. Essa hiperdominância é, claramente, fruto do manejo humano….
“Das 10 espécies mais hiperdominantes, 6 são palmeiras. E a mais hiperdominante delas é o açaí”, declarou.
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Manejo
Dessa forma, o manejo fez da Amazônia um centro de agrobiodiversidade e um território de abundância, com a presença de vegetais como o milho, a mandioca, o amendoim, a castanha, a batata-doce, a pupunha, o cacau, o abacaxi, o tabaco, a coca, o guaraná, a pimenta murupi e muitos outros.
“A única evidência de domesticação do arroz fora da Ásia e da África é encontrada na Amazônia”, afirmou Neves.
De acordo com a informação, um aspecto importante analisado pelo pesquisador é que, nessa grande variedade de espécies, havia poucos cereais, além do milho e do arroz.
“O cultivo dos cereais impõe um ritmo anual de atividade e uma necessidade de armazenagem dos grãos coletados. No caso de raízes e árvores, o ritmo é muito mais frouxo”, disse.
Com isso, ele associou a não predominância do cultivo de cereais ao fato de o Estado não haver surgido na Amazônia.
Além disso, outro ponto indicado por Neves foi o fato de a Amazônia ter abrigado vários centros independentes de produção de cerâmica.
“A mais antiga que conhecemos nas Américas vem do sítio de Taperinha, um sambaqui fluvial localizado perto de Santarém. A datação mostrou uma idade de mais ou menos 7.000 anos”, disse.
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil