População denuncia prefeito de furar fila e MP-AM manda divulgar vacinados

Lista de vacinados divulgada na página da Prefeitura de Nova Olinda do Norte está sob suspeita por falta de informações

Publicado em: 26/01/2021 às 10:03 | Atualizado em: 26/01/2021 às 10:03

A população de Nova Olinda do Norte vive momentos de dor com a perda diária de filhos para o coronavírus (covid-19).

A esperada chegada das primeiras doses de vacina abriu a esperança de que a tragédia que aflige o município a 135 quilômetros de Manaus fosse, pelo menos, amenizada. Contudo, assim como em outras cidades, faltou competência e espírito humanitário ao prefeito local, segundo denunciam moradores.

Conforme pipocam nas redes sociais, as doses de vacinas serviram para privilegiar pessoas totalmente distanciadas da linha de frente contra a doença. Logo, fora de qualquer prioridade na vacinação.

Dessa maneira, as denúncias logo foram parar nas mãos do Ministério Público do Amazonas (MP-AM). O órgão concluiu, de cara, que o prefeito da cidade não obedeceu a ordem de dar prioridade aos profissionais de saúde na vacinação e agiu sem transparência. Por exemplo, não forneceu lista de nomes de servidores a ser imunizados ao gestor de cada unidade, com antecedência. 

Como resultado, o MP-AM recorreu à Justiça contra o prefeito com uma ação de obrigação de fazer. Isso significa que ele é obrigado a definir com clareza a lista de quem vai ser vacinado e em seguida dar ampla publicidade desses nomes nas redes sociais da internet.

A ordem é do dia 23 (sábado), apenas dois dias depois de a vacinação começar em Nova Olinda do Norte. Portanto, pouco tempo para tanta denúncia de irregularidades e desrespeito às prioridades.

Alertado de que pode ser obrigado a pagar multa diária de R$ 20 mil, do próprio bolso, além de responder a processo criminal, o prefeito tratou de agir.

Nesta segunda (25), já fez a primeira divulgação. Na página da prefeitura no Facebook, ele apresenta uma lista de nomes de servidores da saúde que teriam sido vacinadas.

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Conta não bate

Os números, contudo, já começaram a ser contestados por moradores. Por exemplo, afirma ter recebido do Governo do Estado 782 doses da Coronavac. Suficientes, portanto, para imunizar 391 pessoas com duas doses.

De acordo com o prefeito, desse volume, destinou 276 doses para indígenas. Assim, ficaram sob sua responsabilidade 506, das quais distribuiu 230 doses para vacinar profissionais da saúde.

Conforme uma conta simples de somar e subtrair, há 276 doses de vacina que o prefeito não informa qual foi sua destinação.

É o que também está sendo investigado na ação assinada pelo promotor de Justiça do MP-AM Kleyson Barroso.

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Lista sob suspeita

Além disso, o promotor já está debruçado sobre a lista de apenas 78 pessoas que o prefeito divulgou como vacinados em quatro dias de trabalho.

É que tal lista levanta suspeitas. A primeira delas é pela falta de informação de CPF de oito servidores da prefeitura.

Além disso, também é visível que todos os vacinados são do único hospital do município. Não consta ninguém de UBS (unidade básica), por exemplo. Chama atenção ainda que boa parte dos imunizados é de agentes administrativos, ou seja, de gente que não está na chamada linha de frente de combate à doença.

Elson Auzier parece ter sido o único servidor capacitado para vacinar em Nova Olinda. Foi ele que trabalhou os quatro dias seguidos, desde 21, para aplicar a Coronavac em todos os 78 profissionais divulgados pelo prefeito na lista de imunizados.

Confira a lista:

Foto: Reprodução/Facebook Prefeitura de Nova Olinda