Considerado um aumento explosivo, o Brasil queimou este ano, no período entre janeiro e agosto, 11 milhões de hectares de florestas, um aumento de 116% em relação ao mesmo período do ano passado.
A Amazônia foi o bioma que mais queimou no mesmo período, um total de 5 milhões de hectares, 87% a mais do que no ano passado.
Na região, um dado preocupante são os avanços das queimadas em terras indígenas (24%), florestas públicas não destinadas (16%), imóveis rurais grandes (14%) e unidades de conservação (11%).
A área queimada nas terras indígenas de todo o país passou de 1,7 milhão de hectares em 2023 para 3 milhões de hectares em 2024, representando um crescimento de 1,3 milhão de hectares.
Nas florestas públicas não destinadas, este ano, houve um aumento acentuado, alcançando aproximadamente 870 mil hectares.
As unidades de conservação, que deveriam servir como barreiras contra o avanço do fogo, também registraram um aumento significativo na área queimada, ultrapassando 1,1 milhão de hectares queimados de janeiro a agosto de 2024
“Esse cenário é provavelmente causado pela expansão ilegal de atividades agropecuárias e madeireiras, grilagem de terras, avanço do garimpo e queimadas descontroladas e uso criminosa do fogo”, diz a nota técnica do “Fogo no Brasil em 2024: o retrato fundiário da área queimada nos biomas”, produzida por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
A entidade, junto com outras organizações que compõem a Rede MapBiomas, diz que os dados a Amazônia indicam forte pressão sobre áreas públicas protegidas formalmente, bem como sobre aquelas ainda em processo de destinação.
“Na Amazônia, o desmatamento e a expansão agropecuária impulsionam um ciclo de queimadas. No Cerrado e Pantanal, o uso do fogo está muitas vezes ligado ao manejo de pastagens, inclusive as naturais, enquanto a Caatinga e a Mata Atlântica sofrem com incêndios de origem acidental ou decorrentes de práticas agropecuárias de pequena escala”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam.
Confira o problema nos demais biomas:
Cerrado – Com 4 milhões hectares queimados no período analisado em 2024, observa-se um predomínio de áreas queimadas em terras indígenas (40%), seguido por imóveis rurais grandes (26%), unidades de Conservação (10%), e imóveis Rurais Pequenos (10%). A área queimada no bioma reflete o uso extensivo do fogo em grandes propriedades, muitas vezes relacionado ao manejo agropecuário, incluindo o manejo do fogo em pastagens nativas, o que pressiona os ecossistemas já fragilizados pela atividade humana, dependendo da forma e do período em que acontece.
Pantanal – Registrou 1,2 milhão hectares queimados de janeiro a agosto de 2024, sendo a maior parte em imóveis rurais grandes (74%). As unidades de conservação concentraram 14% da área queimada, enquanto os imóveis rurais pequenos representaram 4%. O uso predominante do fogo em grandes propriedades no Pantanal está associado ao manejo de pastagens e à pecuária extensiva também prioritariamente em pastagens nativas, frequentemente afetando áreas de conservação.
Caatinga – O bioma teve 51 mil hectares queimados no intervalo, a área se distribui de forma equilibrada entre imóveis rurais grandes (21%), imóveis rurais médios (21%) e imóveis rurais pequenos (18%), com Assentamentos Rurais correspondendo a 8% das áreas queimadas. Esse padrão sugere um uso variado do fogo em propriedades rurais de diferentes portes, refletindo tanto práticas agrícolas quanto o manejo de pequenas propriedades familiares.
Mata Atlântica – Com 615.195 hectares queimados, apresentou uma grande área queimada em imóveis rurais grandes (33%) e médios (22%), além de uma significativa proporção em imóveis rurais pequenos (20%) e unidades de conservação (15%). A distribuição da área queimada é mais diversificada entre as categorias fundiárias, evidenciando pressões sobre propriedades rurais e áreas de conservação em um bioma já fortemente fragmentado.
Pampa – Registrou 2.701 hectares queimados no período, com a maior parte da área concentrada em Imóveis rurais grandes (35%) e outras terras (34%), que engloba áreas militares e áreas sem informação cadastral, seguido por imóveis rurais médios (18%) e imóveis rurais pequenos (18%). A distribuição equilibrada entre grandes e pequenas propriedades indica o uso do fogo em diferentes escalas de produção rural, muitas vezes para renovação de pastagens e atividades agropecuárias.
Leia mais
Foto: Divulgação/ brigada de alter do chão-PA