Queimadas de agosto na Amazônia são maiores dos últimos 12 anos
Número de focos explodiu nos últimos quatro anos. Só neste ano já são mais de 46 mil incêndios

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 01/09/2022 às 15:52 | Atualizado em: 01/09/2022 às 15:52
A Amazônia teve 33,1 mil focos de queimadas em agosto, o maior valor para o mês desde 2010, de acordo com o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Entre o início de janeiro e o fim de agosto deste ano, o bioma já acumula mais de 46 mil focos. No acumulado do mês, agosto de 2022 supera até o número de 2019, quando houve o “Dia do Fogo” (28.060 focos).
Os números do Inpe indicam que as queimadas – assim como o desmatamento associado a elas – estão fora de controle na Amazônia desde 2019, quando teve início a política de desmantelamento dos sistemas federais de proteção ambiental que marca a gestão de Jair Bolsonaro.
Em todos os quatro anos que correspondem à atual gestão federal o número de focos de queimadas na Amazônia teve valores próximos ou superiores a 40 mil entre janeiro e agosto.
Já nos 10 anos anteriores (2009-2018), a média de focos no mesmo período foi de cerca de 28 mil focos.
“O descontrole das queimadas observado nos últimos quatro anos está estreitamente associado a um aumento do desmatamento e da degradação florestal nesse período. A Amazônia é uma floresta tropical úmida e, ao contrário do que ocorre em outros biomas, o fogo não faz parte de seu ciclo natural, explica Mariana Napolitano, gerente de ciências do WWF-Brasil.
Leia mais
Forças Armadas acusadas de conivência com desmatamento na Amazônia
Desmatamento
Assim como as queimadas, o desmatamento também explodiu nos últimos quatro anos.
Os dados de agosto de 2022 ainda não estão disponíveis, mas no período entre o início de janeiro e o fim de julho, a devastação vem batendo recordes sucessivos desde 2019 e chegou a 5,4 mil km2 devastados em 2022.
De acordo com o Sistema de alerta Deter, do Inpe, entre 2016 – quando começa a série histórica – e 2018, a média anual de alertas de desmatamento na Amazônia Legal corresponde a 2,6 mil km2, no período entre janeiro e julho. No mesmo período, a média anual foi de 5 mil km2 entre 2019 e 2022.
As taxas de desmatamento calculadas pelo Sistema Prodes/Inpe, também revelam uma explosão do desmatamento nos três primeiros anos da atual gestão federal (2019-2021), quando foram devastados em média 11,3 mil km2 ao ano na Amazônia.
Nos 10 anos anteriores (2009-2018), a média foi de 6,5 mil km2 ao ano. Histórico
Segundo Raul Valle, especialista em Justiça Ambiental e Direito dos Povos do WWF-Brasil, o governo Bolsonaro tem promovido uma política antiambiental com inúmeras ações que contribuíram para a escalada das queimadas nos últimos anos e para o aumento do desmatamento e da degradação florestal.
“Durante toda sua gestão, Bolsonaro repetiu – no Brasil e no exterior – que não há queimadas na Amazônia, negando dados incontestáveis, enfraqueceu os mecanismos de controle e comando na região e espalhou um clima de permissividade para os crimes de destruição, apoiando desmatadores e garimpeiros”, afirma Valle.
“Dia do fogo”
De acordo com o especialista em Justiça Ambiental e Direito dos Povos do WWF-Brasil, em 2019, já no primeiro ano da gestão Bolsonaro, os elevados números de incêndios na Amazônia produziram uma crise internacional de imagem para o governo.
Em agosto daquele ano, produtores rurais combinaram para o mesmo período queima de pasto e de áreas em processo de desmatamento – episódio que ficou conhecido como “dia do fogo“.
“A postura do governo foi questionar os dados oficiais e demitir Ricardo Galvão, diretor do Inpe à época. Bolsonaro também reduziu o orçamento e a capacidade de ação de órgãos como o Ibama, que reduziu as operações de fiscalização e viu cair drasticamente o número de multas aplicadas a infratores ambientais”, lembra o ambientalista do WWF-Brasil
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil