Rios Solimões e Madeira vazam com pressa para níveis críticos

O movimento é um contraste do rio Negro, em Manaus, que baixa lentamente nesta temporada.

Da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 22/07/2025 às 11:05 | Atualizado em: 22/07/2025 às 11:08

Os principais rios da Amazônia desenham cenários opostos no pico da vazante deste ano.

Enquanto Solimões e Madeira descem velozmente para marcas críticas, em Tabatinga e Porto Velho, o Negro surpreende e segue sua vazante mais lenta em cinco anos.

É o que mostra o boletim deste 22 de julho da Superintendência Estadual de Navegação, Portos e Hidrovias.

Em Tabatinga, o Solimões baixou 24 cm em apenas 24 horas, atingindo uma cota de 8,78 m. Já o Madeira, em Porto Velho, desceu 22 cm no mesmo período, marcando 6,86 m.

As quedas bruscas acendem alerta para os riscos de estiagem severa nas próximas semanas, que caracterizam o baixo abastecimento de itens de sobrevivência, isolamento e doenças nas comunidades ribeirinhas.

🌊 Rio Negro

Em direção oposta, o rio Negro em Manaus baixou apenas 2 cm no intervalo de 24 horas.

O nível neste dia 22 de julho está em 28,77 m acima do mar, marca superior aos anos anteriores nesta data.

De 2021 para cá, essa é a vazante diária mais baixa registrada no período, como se o Negro estivesse com preguiça de cumprir o mesmo papel dos últimos anos, já que em 2024, nesta mesma data, o recuo foi de 7 cm, na cota de 25,86 m.

Esse movimento pode ser explicado pelo grande volume de água da enchente, que se prolongou para além do período normal.

Assim como a cheia recorde de 2021, que atingiu 30,02 metros, e a seca mais severa em 123 anos, com apenas 12,17 metros, a elevação do rio Negro neste ano também entrou para a história.

Em termos de volume de água, foi a maior enchente de todos os tempos desde o início do monitoramento pelo porto de Manaus, em 1902.

Em pouco mais de sete meses, o rio Negro recuperou cerca de 17 metros de água. Superou em 70 centímetros o volume registrado em 2024, que já havia sido significativo, também após se recuperar de uma seca alarmante.

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📊 Descida rápida

A diferença de comportamento entre os rios pode ser explicada por fatores climáticos recentes e mudanças ambientais globais que afetam toda a bacia amazônica, de acordo com pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Três causas principais ajudam a entender o fenômeno:

  • • El Niño severo: entre 2023 e início de 2024, o fenômeno reduziu drasticamente as chuvas na região, fazendo com que os rios iniciassem a vazante com volumes já mais baixos do que o normal;
  • • Atlântico mais quente: o aquecimento das águas do oceano afetou o regime de chuvas na Amazônia ocidental, agravando a estiagem e acelerando a descida dos rios como o Solimões e o Madeira;
  • • Crise climática e desmatamento: a combinação de mudanças climáticas e perda de floresta alterou o equilíbrio natural dos ciclos hídricos. Com isso, secas e cheias ocorrem com mais frequência e intensidade, encurtando o tempo de recuperação dos rios e afetando diretamente a vida ribeirinha.

Foto: divulgação