AmazĂ´nia: anciĂ£os indĂgenas ajudam a decifrar arte rupestre de 11 mil anos
Imagens nĂ£o representam apenas a realidade cotidiana, mas fazem alusĂ£o a uma dimensĂ£o espiritual oculta.

Publicado em: 13/11/2024 Ă s 17:41 | Atualizado em: 13/11/2024 Ă s 17:41
A colaboraĂ§Ă£o entre pesquisadores e anciĂ£os indĂgenas tem sido fundamental para desvendar os mistĂ©rios por trĂ¡s da arte rupestre encontrada na SerranĂa de la Lindosa, na AmazĂ´nia colombiana. As pinturas, que datam de mais de 11 mil anos, retratam cenas humanas, animais e seres mitolĂ³gicos, e foram finalmente interpretadas graças ao conhecimento ancestral dos povos locais.
Uma obra milenar
A arte rupestre, localizada em um afloramento de arenito com 19 km de extensĂ£o, foi descoberta em 2016, mas devido Ă presença de grupos paramilitares, seu estudo foi dificultado atĂ© recentemente.
As pinturas, feitas em ocre vermelho, sĂ£o estimadas em cerca de 11 mil anos e foram encontradas em Guaviare, na ColĂ´mbia. Apenas a partir de 2018, com a colaboraĂ§Ă£o de anciĂ£os das comunidades Tukano, Desana, MatapĂ, Nukak e Jiw, foi possĂvel decifrar o seu verdadeiro significado.
O significado espiritual
Com o auxĂlio dos anciĂ£os, os pesquisadores descobriram que as imagens nĂ£o representam apenas a realidade cotidiana, mas fazem alusĂ£o a uma dimensĂ£o espiritual oculta.
Segundo Jamie Hampson, professor e autor do estudo, as pinturas codificam informações cruciais sobre como os xamĂ£s, lĂderes espirituais das comunidades indĂgenas, navegavam entre mundos rituais e socioculturais.
Os xamĂ£s, em suas tradições, se transformavam em animais, como a onça, para acessar o conhecimento espiritual.
O especialista em rituais MatapĂ, Ulderico, explicou que as imagens precisam ser vistas sob a Ă³tica xamĂ¢nica para serem compreendidas.
Nesse contexto, o “Novo Animismo”, conceito da cosmologia indĂgena amazĂ´nica, revela que os corpos dos seres vivos sĂ£o como capas que ocultam suas verdadeiras formas humanas.
TransformaĂ§Ă£o e conexĂ£o com o mundo espiritual
As pinturas tambĂ©m retratam transformações teriantrĂ³picas, nas quais os humanos se transformam em cobras, onças e pĂ¡ssaros.
Essa fluidez entre os estados animal e humano Ă© central nas crenças xamĂ¢nicas.
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Em muitos casos, como na palavra “yee” da lĂngua Desana, o mesmo termo pode significar tanto “onça” quanto “xamĂ£”, reforçando a ideia de que esses lĂderes espirituais acessam reinos espirituais ao se transfigurarem.
A primeira inclusĂ£o da visĂ£o indĂgena na pesquisa
Essa colaboraĂ§Ă£o marca a primeira vez que a perspectiva dos anciĂ£os indĂgenas foi totalmente incorporada Ă pesquisa sobre arte rupestre nessa parte da AmazĂ´nia.
Segundo Hampson, isso permitiu aos pesquisadores ir alĂ©m de uma visĂ£o externa e compreender que essas obras sĂ£o, na verdade, sagradas e ritualĂsticas. As pinturas foram criadas em lugares sagrados e dentro da estrutura da cosmologia animista, destacando a importĂ¢ncia dos sistemas de crenças indĂgenas na interpretaĂ§Ă£o dessas obras milenares.
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