‘Se eu não vivesse assim, eu não estaria pagando mico aqui’
Raimunda Ferreira da Silva, 47 anos, desempregada, usou uma folha de papelão para se fazer vista pelo Prefeito e Governador

Neuton Corrêa, do BNC AMAZONAS
Publicado em: 12/05/2022 às 06:28 | Atualizado em: 12/05/2022 às 06:47
Na beira de um igarapé, a poucos metros de um palanque e de uma tenda, montados pela Prefeitura de Manaus, fechando a estreita rua Bagé, na Redenção, para anunciar, em parceria com o Governo do Estado, o asfaltamento das ruas do bairro, estava Raimunda Ferreira da Silva.
Ela mora ali, à beira do igarapé, há mais de 30 anos, dos seus 47 de idade.
Mas ela não estava lá apenas porque é moradora do lugar.
Mãe de oito filhos, nascidos num espaço de 10 anos (o mais velho tem 26 anos e o caçula, 16), viúva há quase dois anos, ela estava ali para mostrar sua condição atual.
Dona Raimunda era cozinheira em um condomínio de luxo da cidade, mas ficou desempregada no começo da pandemia, em março de 2020.
De lá para cá, ela passou a viver catando latinhas e de diárias que ainda consegue fazer.
Ontem, ela soube que o governador Wilson Lima (União Brasil) e o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante) estariam ali, perto de sua casa.
Ela não contou conversa. Para sair de invisibilidade social e chamar atenção da principais autoridades do Estado e da capital, ela pegou um pedaço de papelão e escreveu:
“Me ajuda con (sic) 100”.
Eu fui conversar com ela. Assim que a abordei, seus vizinhos se adiantaram e falaram em voz alta, na minha direção: “Ela precisa de um emprego”.
E dona Raimunda Ferreira da Silva desabafou.
“Se eu não vivesse assim, nessa condição, eu não estaria pagando mico aqui”.