Sthorm Festival conta história de Maués para o mundo
'O que a gente aprendeu aqui, a gente não aprendeu em dez anos lá no laboratório', diz CEO da Sthorm

Ednilson Maciel, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 09/10/2023 às 20:15 | Atualizado em: 11/10/2023 às 19:45
“Estamos aqui por que queremos abrir nossa boca e nossa coração para mundo”. Essas são palavras de Davi Fêo, um dos convidados do Sthorm Festival Maués, que ocorreu sábado (7), na terra do guaraná.
Fêo, que é membro fundador e coordenador do laboratório jurídico de mudanças climáticas na Sthorm, completou:
Essa geração que está aqui vai ter tomar muitas decisões que vão impactar outras, municípios, outros estados e o próprio mundo. Essa é uma geração que tá tentando descobrir um propósito. O nosso propósito é guardar isso aqui. É não só guardar, é fazer bom uso. E não só fazer bom uso, mas fazer bom uso daquilo que permaneça para a geração seguinte e possa permanecer como uma herança inesgotável de vida, de proteção, de cuidado. E, a nossa responsabilidade é repassar para geração mais nova esse propósito.

É que na plateia, entre milhares de pessoas, estavam muitos adolescentes. E dessa forma, os convidados fizeram uma troca de saberes numa roda de conversas sobre “Ciência e Sustentabilidade na Amazônia”.
Conforme o fundador e CEO da Sthorm, Pablo Lobo, a seca dos rios do Amazonass foi mais um motivo para o festival acontecer em Maués. Além de mostrar para o mundo o que o município está fazendo pela floresta amazônica.

“O que a gente aprendeu aqui, a gente não aprendeu dez anos lá no laboratório. A gente precisa escalar as soluções que já existem aqui com os sateré mawé, então a Sthorm está aqui. Veio pra ficar. O festival deve voltar ano que vem, a gente prefere aqui em Maués”, declarou Pablo.
Ele explicou ainda que a Sthorm tem dois pilares: um focado na saúde das pessoas e outro na saúde do planeta. “Tá tudo interligado”.
A maior simbiose que a gente pode ter é isso, a gente quer aprender com vocês como é que cuida; e dar para vocês mais recursos. Para cuidarem mais e ensinar todos os municípios e outros países, Ruanda, Congo, por exemplo. Para cuidar do planeta não basta só cuidar da Amazônia. Tem que cuidar do mundo inteiro. É missão de todo mundo, de todos os governos. Então, tem que ter alguma coisa que coloque todo mundo junto.
E, portanto, completou:
A Amazônia é o grande ar condicionado do mundo. Aqui não tem só o carbono. Tem fauna, flora, minerais, solo – tudo tem aqui. Não é só carbono. A biodiversidade é a maior riqueza que a gente tem. A solução de sustentabilidade está na comunidade. A vocação do Brasil não é guerra, é cuidar do planeta. É cuidado. A gente tem a maior biodiversidade do planeta.
Para Bob Richards, cientista da Nasa, a chave é o equilíbrio entre a natureza e a Amazônia. Desse modo, através da biodiversidade e da bioeconomia compartilhar com o mundo.

“E nós temos mais aqui no Brasil, aqui a gente aprende a honrar a natureza. Se a gente evolui como espécie, a gente precisa evoluir em como tomar conta da natureza”, disse.
Então, a roda de conversas debateu sobre sustentabilidade, saúde e ciência em nível global. Participaram grandes nomes desta luta como:
- Bob Richards, cofundador da Space University e da Singularity University;
- Scott Bagby, cofundador do Skype;
- Sue Ann Clemens, professora de Saúde Global, Vacinologia e Doenças Infecciosas Pediátricas na Universidade de Oxford;
- Fábio Calderaro, ex-gestor do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA); Marina Domenech, CEO da Intrials Clinical Research; entre outros.

Ousadia
O professor Eliseu Souza, diretor da unidade da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em Maués, era uma das pessoas que estavam na plateia. Ele definiu o evento dizendo: “Eu acho que a grande palavra aqui foi ousadia para realizar um evento em um curto espaço de tempo”.
Ao mesmo tempo ele destacou a necessidade da discussão sobre o assunto planeta e pessoas.
É uma necessidade muito grande essa discussão. Eu não sei se a população de Maués conseguiu compreender a importância da discussão neste momento. Talvez até leve um tempinho, e eu espero que não demore muito para nós entendermos a magnitude dessa discussão. O evento em si é uma necessidade, eu fiquei impressionado, sobretudo, pela participação das pessoas, e trazendo um detalhe muito importante que é a ciência. Aqui se discutiu a ciência pura, aplicada de várias perspectivas.
Além disso, ele ponderou:
Talvez em outro momento a gente possa colocar numa mesma mesa os cientistas com os ribeirinhos para falar. Mas tudo aquilo que foi dito é de extrema importância. Então, eu acredito que um segundo encontro ele vai ser muito melhor. Depois pelo tema que ele é espinhoso. Nem sempre as pessoas querem tratar sobre isso. Parabéns para quem realizou isso tudo.
Sateré Mawé
“Tenho plena convicção que esse evento vai entrar para a história”, disse Daniel Michiles (34), presidente da Associação dos Indígenas sateré mawé do município de Maués.
“Quando se fala de biodiversidade e preservação é uma de nossas causas. Uma das nossas bandeiras de luta como associação, principalmente como povo indígena˜, destacou.
Além dele, o presidente da Associação dos Tuxauas do município de Maués, dos rios Marau, Miriti, Urupadi e Majuru, Samuel Lopes (61 anos) comentou:
Nós povos indígenas já estamos incluídos na biodiversidade, pois quando se fala da Amazônia é o lugar onde maior se tem a população indígena. E nós estamos aqui no município de Maués, onde temos a terra indígena Andirá-Marau que, aproximadamente 700.800 hectares de terra, nós preservamos. A gente não quer a invasão, principalmente de garimpeiro, madeireiro, fazendeiro e outros, a gente quer preservação. Por isso que nós viemos aqui participar.

Novo momento
Para o prefeito de Maués, Júnior Leite, a expectativa a partir do evento é a de que o município possa inaugurar um novo momento.
Dessa forma, ele defende que a sustentabilidade valorize, sobretudo, o homem. Ou seja, as pessoas que vivem na Amazônia.
A Zona Franca (de Manaus) tem um chão de indústrias. Quantos homens e mulheres saíram do interior e foram para um chão de fábrica, na capital para buscar o sustento. E não dá para falar e trazer a mesma indústria que está na capital para o interior. Seria falta de respeito, e, sobretudo, inexequível. A indústria que gente pode trabalhar, falar e desenvolver é a indústria verde. É melhorar nossas cadeias produtivas é pegar aquilo que a gente sabe; o nosso saber, que é o nosso maior ativo, os nossos produtos, os nossos elementos, aplicar ciência, desenvolver tecnologia para que a gente agregue valor e melhore a vida de quem está aqui. Aí sim nós vamos falar de sustentabilidade. Não há sustentabilidade com a árvore em pé e o homem do lado, minguando. Por exemplo, Maués tem o melhor guaraná do mundo e 90% a gente usa para a indústria de refrigerante. A gente pode e deve pegar e vamos trabalhar esse mesmo guaraná e colocar na indústria de fito, de fármacos, de nutracêuticos. E com a mesma área plantada, sem degradar, com o mesmo volume produzido agregar valor e fazer com que o caboclo tenha a sua vida melhorada.
Soluções em tecnologia
Com o festival realizado em Maués, conforme Júnior Leite, o município também firma parcerias internacionais.
Então aqui a gente já tá discutindo alguns protocolos de cooperação técnica em saúde com a Universidade de Oxford no valor de um milhão e meio dólares e buscar soluções em tecnologia para essa questão das nossas cadeias produtivas, por exemplo a do guaraná. Essas são nossas perspectivas que a gente já começa trabalhar desde agora e consolida depois desse acontecimento.
Sthorm festival
Este projeto de magnitude global surgiu há cerca de 15 anos, com a proposta de desenvolver soluções de impacto social acima do lucro.
“A ideia de juntar gestores, cientistas, ativistas e artistas veio depois, em encontros inicialmente realizados a portas fechadas nos idos de 2013 e só ganhou maiores proporções neste ano, com uma primeira edição em Piracicaba (SP)”, explicou Pablo Lobo.
Ao mesmo tempo, ele também apontou que Maués já está na rota do Sthorm do ano que vem.
Nós trabalhamos com um time de várias pessoas bacanas, como o meu sócio Matt Sorum e tentamos criar soluções para problemas globais, como saúde, o planeta, mudanças climáticas e educação. Queremos sempre estar presentes em locais que possam trazer causas que valham a pena lutar e que as pessoas possam se reunir por uma boa causa. Mas é difícil você manter todos motivados o tempo todo se não tem muita grana para competir com a indústria. Não somos uma filantropia, bancamos para fazer o Sthorm funcionar”, afirmou Pablo.
Sobretudo, o evento foi realizado pela Sthorm e pela Prefeitura de Maués, com apoio do Governo do Amazonas e produção assinada por Ekco Produções.
O Sthorm Festival ainda contou com uma programação musical com shows das cantoras Luna e a baiana Agnes Nunes.
Uma das interpretações musicais de Agnes teve a participação especial do ex-baterista do Guns N’Roses, Matt Sorum, a atração mais esperada da noite.

Assim, a ideia de trazer este grande evento surgiu após Pablo Lobo, conhecer o prefeito de Maués, Junior Leite. Assim como conhecer a história da cidade, os vários projetos que são desenvolvidos para a população, a cultura e a taxa de longevidade em Maués, uma das maiores das Américas.


“Isso parte dessa filosofia de encontrar os outros. Esses outros têm que ter alguma coisa especial. Não custa nada ir até Maués. Ir até Piracicaba (SP). Com certeza, a gente vai voltar pra cá”, concluiu Pablo Lobo.