Tanara Lauschner invoca a força do puxirum como marca da nova gestão da Ufam
Nova reitora da Ufam propõe gestão coletiva inspirada no puxirum indígena.

Social Midia
Publicado em: 05/07/2025 às 19:28 | Atualizado em: 05/07/2025 às 19:30
A profa. Dra. Tanara Lauschner disse na sexta-feira (04/7) que a cerimônia pública da sua posse no cargo de reitora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) celebra a “a força do puxirum universitário”, uma analogia a puxirum indígena, que é união espontânea de pessoas em favor de um bem comum.
Na abertura do evento, realizado no auditório Eulálio Chaves, a nova diretoria foi saudada por ritual multiétnico de boas-vindas com defumação com tabaco, música da flauta de Jurupari e maracá, dança e canto ancestral.

O ritual, conduzido pelo kumu Jaime Diakara Desana, prof. Dr. em Educação, sinalizou a aproximação e os compromissos assumidos pela nova gestão com os povos originários, por meio das suas instituições para a área de educação.
“Nesse mutirão [puxirum] amazônico cada abraço conta, cada voz importa e cada diferença enriquece”, reafirmou Tanara.
Empossados
Tainara recebeu o capelo de reitora das mãos do Prof. Dr. Sylvio Puga, que dirigiu a Ufam nos últimos oito anos.

Trata-se de mais uma reitora da Ufam escolhida pelo voto direto da comunidade universitária e empossada. A nova reitora é a segunda mulher a assumir o cargo, a primeira foi a Profa. Dra. Márcia Perales (2009-2017).
A chapa liderada por Tainara venceu a eleição em segundo turno, em disputa com a chapa apoiada pelo ex-reitor, liderada pela Profa. Dra. Therezinha Fraxe e pelo Prof. Dr. Sérgio Freire.
Obrigações
Ela, que tem como vice-reitor o Prof. Dr. Geone Maia Corrêa, reafirmou que está comprometida com a agenda que a guiou na campanha:
- retomar o protagonismo da Ufam como universidade inclusiva, amazônica e transformadora.
- Valorizar quem faz a universidade: docentes, técnicos administrativos e estudantes
- intensificar a presença da Ufam nos municípios do interior do estado
- fortalecer a democracia dentro da Ufam, como “um bem comum que emancipa” (citação do educador Anísio Teixeira)
- intensificar a presença da Ufam nos municípios do interior do estado
- Reforçar as políticas de permanência
- Criar espaços de escuta ativa
- Combater o assédio
- Investir em ciência, cultura inovação e extensão para que dialoguem com a realidade Amazônia
Mudança
Esses, segundo a reitora, são compromissos com “a mudança verdadeira, aquela que nasce do diálogo, que acolhe a diversidade, que respeita os saberes tradicionais e que ousa sonhar junto com a sociedade com um futuro mais justo, solidário e sustentável para a Amazônia”.
Tanara lembrou que a Amazônia está no centro do debate global sobre o clima, a biodiversidade e a justiça social. Ao mesmo tempo, enfatizou: “Alguns falam da floresta como um commodity distante, nós a reconhecemos como casa, como parente, como professora, como mãe e como mana”.
Para a reitora, “é dessa conexão profunda” que nasce a responsabilidade de compreender a universidade não como um castelo, mas como uma sala de aula, um laboratório de atividade de campo, um palco científico e território vivo da cultura amazônica.
Prestígio

Com auditório para 750 lugares lotado, a posse da Tanara foi prestigiada por entidades dos povos indígenas para a área da educação, pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, pelo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Osório Galvão, pelo coordenador-geral de Política para a Juventude do MEC, Yann Evanovik (representante do ministro Camilo Santana), pelo deputado federal Sidney Leite (representante da Câmara dos Deputados), pela ex-deputada Vanessa Grazziotin (representante da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e demais autoridades regionais e locais.
Mulheres
A ministra Luciana Santos destacou a participação de Tanara na subsecretaria de Ciência e Tecnologia para a Amazônia, criada em sua gestão, para fortalecer as políticas públicas voltadas para a região.
“Então, ela não só ajudou a consolidá-la como contribui em políticas públicas importantes, a exemplo do programa de desenvolvimento sustentável soberano da Amazonia, o pró Amazônia”, ressaltou a ministra.
Luciana Santos explicou que esse programa impulsiona a ciência e o desenvolvimento tecnológico sustentável na Amazônia e integra, valoriza, e integrar esse bioma à economia, à cultura e aos saberes tradicionais.
Na opinião da ministra, a nova reitora da Ufam tem as qualidades para desenvolver uma gestão voltada para a valorização de uma universidade autônoma e integrada aos objetivos do estado e da sociedade por um mundo desigual e justo.
“O presidente Lula tem expressado o seu compromisso […] com uma ciência valorizada em comunidade acadêmica forte autônoma e bem estruturada, capaz de utilizar toda a sua capacidade de transformar conhecimento em riqueza”.
Essa premissa, acentua Luciana Santos, resulta “em qualidade de vida para a população nos quatro cantos do Brasil” e reforça a luta do MCTI contra desigualdade entre as regiões.
Protagonismo amazônico
O presidente do CNPq, Osório Galvão, revelou que teve a oportunidade de trabalhar em parceria com Tanara em projetos que promovem a pesquisa no Amazonas com muito sucesso e avalizou que ela será produtiva para o desenvolvimento da Amazônia e do País.
“Muitas vezes escutamos no Sul dizer que se tem que fazer isso ou aquilo em ciência na Amazônia. Mas, o protagonista da ciência na Amazônia tem que ser os amazônidas e a pesquisa tem que ser baseada, aqui, na Amazônia”, assegurou Galvão.
Para Galvão é necessária e importante a colaboração de outros estados, mas salientou que o CNPq confia plenamente na capacidade científica das universidades de toda a Amazônia.
Fotos: Ronaldo Siqueira/Especial para o BNC Amazonas