“Tratamento precoce” de Bolsonaro e Pazuello contaminou mais em Manaus

Uso da ivermectina e a azitromicina tem se demonstrado ineficaz para combater o coronavírus, mas eles têm sido endossados por Bolsonaro e Pazuello

"Tratamento precoce" de Bolsonaro e Pazuello

Ednilson Maciel, da Redação do BNC AMAZONAS

Publicado em: 02/03/2021 às 09:46 | Atualizado em: 02/03/2021 às 19:50

O “tratamento precoce” endossado pelo presidente Jair Bolsonaro e o ministro da saúde, Eduardo Pazuello causaram maiores taxas de infecção pelo coronavírus (covid-19), em Manaus.

Um estudo desenvolvido pela Fiocruz Amazônia e pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) observou que pessoas que afirmaram ter tomado ivermectina ou outros remédios contaminaram mais que aquelas que não tomaram nada.

Dessa forma, conforme matéria do “El país”, o resultado faz parte de um trabalho que avaliou os fatores de risco da pandemia em Manaus e que foi enviado recentemente para sua publicação em uma revista científica internacional.

Uma das autoras do artigo é a professora da Universidade Federal do Amazonas.

Com isso, no momento, o estudo ainda está sendo avaliado por especialistas da área, pelo que os resultados não são definitivos.

No entanto, pesar de que o uso desses remédios tem se demonstrado ineficaz para combater o coronavírus, eles têm sido endossados em múltiplas ocasiões por Bolsonaro e Pazuello.

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Moradores de Manaus

Um total de 3.046 moradores da cidade participaram do estudo. Os pesquisadores analisaram amostras de sangue dos voluntários para detectar a presença de anticorpos frente ao coronavírus, sinal de uma infecção prévia.

Além disso, os voluntários tiveram que preencher um formulário com informações pessoais. Isso permitiu conhecer o perfil socioeconômico das pessoas que já foram infectadas pelo vírus.

O estudo aponta que 25,99% dos voluntários que afirmaram não ter tomado nenhum medicamento para prevenir a covid-19 apresentaram anticorpos frente ao vírus.

Essa porcentagem subiu até 38,64% no grupo dos que afirmaram ter consumido algum tipo de remédio para evitar a doença.

Remédios sem eficácia

Os remédios mais usados foram, além do paracetamol, a ivermectina e a azitromicina, nenhum dos quais têm eficácia comprovada contra o coronavírus.

Além da associação entre o uso do “tratamento preventivo” e altas taxas de infecção, os resultados também mostraram que a pandemia atingiu principalmente pessoas de baixa renda e que dividem moradia com várias outras pessoas.

“Nós observamos uma relação muito grande com a pobreza. Ser pobre é um fator de risco”, diz Pritesh Lalwani, pesquisador do Instituto Leônidas e Maria Deane da Fiocruz e um dos autores do estudo.

Como resultado, dos 3.046 voluntários do estudo, 29% apresentou anticorpos frente ao vírus.

Porém, os pesquisadores frisam que o objetivo da pesquisa não era determinar a prevalência de anticorpos contra o vírus na população de Manaus, mas entender os fatores socioeconômicos associados à infecção.

Leia mais no El país.

Foto: Reprodução/Live no Facebook