O presidente do Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé (CGTSM), Obadias Batista Garcia, revelou ao BNC Amazonas que ao menos dez pessoas do seu povo morreram, nos últimos seis meses, em razão do uso de drogas ilegais e de álcool.
Entre esses casos estão suicídios, homicídios e feminicídios.
Tornou-se recorrente, segundo Garcia, jovens se matarem ao ingerir sumo de timbó, substância tóxica extraída de arbusto homônimo. Tradicionalmente, o cipó timpós é usado para atordoar peixes e capturá-los com mais facilidade.
“Os viciados recorrem ao timbó na falta das drogas ilegais (maconha, cocaína, crack etc.) e álcool, que chegam às aldeias por meio de indígenas cooptados por traficantes”,
explica Garcia.
Cruéis e violentos
Os problemas sociais atribuídos ao uso de narcóticos entre os sateré-mawé, como reconhece Garcia, não são de hoje, mas agora se tornaram mais cruéis e mais violentos.
Pessoas viciadas em drogas furtam objetos domésticos, guaraná, farinha, copaíba, andiroba etc., para trocar com drogas, e até gasolina para inalar. “Ninguém mais vive sossegado”, acentua o presidente do CGTSM.
Recentemente, uma mãe proibiu o seu filho de ir a uma festa na própria aldeia, para protegê-lo do uso de drogas. Por isso, ele ficou depressivo e se matou com uma superdose de timbó, contou Garcia.
Opinião
Para Garcia, a violência nas aldeias sateré-mawé pode estar ligada, na sua opinião, à falta de perspectiva de vida digna para os jovens.
Ele reclama que a educação formal prepara os jovens para o mercado de trabalho, porém, não oferece oportunidades de emprego e renda a eles nas aldeias.
O plausível, conforme Garcia, seria o governo incentivar projetos de etno-desenvolvimento no território indígena, para que seus parentes desenvolvessem atividades que lhes garantissem vida digna e justa.
Garcia argumentou que ele mesmo coordena uma cooperativa de cultivo e extração de guaraná, urucum, castanha e copaíba e outros produtos florestais. A produção do coletivo é negociada nos mercados interno e externo.
“As pessoas envolvidas nesse projeto não têm esses problemas sociais cruéis. Não são ricos, mas não são pobres demais”, comentou.
Gravidade
Esse quadro de violência é tão grave que se sobressai na pauta do encontro CGTSM. Ela estará em dfebate 15/9, nas aldeias Umirituba (Barreirinha), Vila Nova 2 (Maués) e Nova Alegria (Parintins).
Haverá reuniões também nas cidades que possuem comunidades sateré-maué, entre as quais, Barreirinha, Manaus, Maués e Parintins.
As reuniões serão simultâneas. Cada qual vai elaborar suas demandas materiais e sociais. Estas irão compor um dossiê que será encaminhado, pelo conselho, ao poder público e instituições que atuam na causa indígena.
Todas as vozes
Garcia enfatiza que a proposta do CGTSM é debater e refletir sobre os temas colocados à mesa com a maioria possível dos sateré-mawé: tuxauas, pajés, adultos, jovens e crianças.
“Nossa luta é para que todos os nossos parentes, independentemente de onde vivam, tenham seus direitos garantidos, incluindo o acesso à saúde de qualidade”, reforça o secretário do CGTSM, Herivelto Oliveira.
Representatividade
Os sateré-mawé estão distribuídos em 117 aldeias localizadas nos Amazonas e no Pará, nos municípios de Aveiro e Itaituba. A CGTSM reivindica a representatividade de cerca de cinco mil família.
Segundo o Secretário Geral do CGTSM, Herivelto Oliveira Sateré, o encontro será um “momento ímpar para que as lideranças […] dialoguem com a população sateré-mawé sobre as conquistas, avanços e desafios do convívio social em nosso território”.
Outros temas da agenda
Implantar, via governo federal, postos de vigilância nos acessos às terras sateré-maué pelos rios Andirá e Uiaicurapá, com a finalidade de precaver ilícitos nas aldeias Fortalecer a barreira de combate a ilícitos do rio Marau Elaborar um plano macro de combate às violências no território indígena Andirá-Marau Exigir celeridade no processo de três comunidades indígenas, no município de Juruti (PA), que reivindicam reconhecimento constitucional como parte do TI do povo Sateré-Mawé Reafirmar compromissos de parcerias com instituições públicas e privadas que defendam os direitos dos povos indígenas
Outros temas da agenda
• Reforço da luta pelo não reconhecimento da tese jurídica (Marco Temporal), que estabelece que os povos indígenas só teriam direito à demarcação das terras que estivessem sob sua posse ou disputa no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal.
Participação e Metodologia
Estima-se que o evento atraia cerca de 3 mil pessoas, entre jovens, adultos, pais e lideranças do território. A metodologia de trabalho incluirá oficinas mediadas por psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, presidentes de associações e representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), que abordarão temas relevantes para a comunidade.
Coordenação e Apoio
O evento será coordenado pelo Presidente do CGTSM, Obadias Garcia. Ele terá o apoio de Herivelto Oliveira (secretário-geral) e das lideranças Valmor Miquiles (tuxaua Geral do Andirá); Antônio Tibúrcio (tuxaua Geral do Marau); e Azarias de Souza (tuxaua do Uaicurapá).
Diversas organizações também estão apoiando a reunião. Citam-se a Rede Juventude Sateré-Mawé, a Associação de Produtores Indígenas Sateré-Mawé (APISMMM) e e outras entidades que trabalham pelo bem-estar e fortalecimento do povo Sateré-Mawé.
Foto: Divulgação