Vazante aperta e transforma rio Solimões em bancos de areia
Os portos flutuantes de grandes cidades da região agora estão no barro
Mariane Veiga, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 24/09/2024 às 23:18 | Atualizado em: 25/09/2024 às 11:44
O cenário do alto ao médio rio Solimões é caótico, e assusta. Bancos de areia vão tomando o lugar de um manancial de água barrenta de forma avassaladora. Os portos flutuantes de grandes cidades da região agora estão no barro.
Situação talvez mais preocupante, contudo, se verifica para os moradores e os peixes dos maiores lagos formados pelas águas do Solimões, como, por exemplo, o Mamirauá e o Amanã.
São lagos que desenvolvem programas de manejo coordenados pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, como pirarucu e jacaré.
Imagens feitas por moradores falam por si só para expor o nível de calamidade a que estão submetidas as comunidades dependentes do Solimões e seus afluentes.
As áreas portuárias de municípios como Tefé, Coari, Alvarães, Tabatinga, Benjamin Constant, tomadas pelas praias de areia, barro e lama, retratam bem as dificuldades para o transporte de cargas e passageiros.
No caso de Tefé, por exemplo, os passageiros de barcos estão sendo deixados a quilômetros da cidade porque hoje só canoa consegue entrar no porto da cidade. O píer flutuante está em terra, mesma situação vivida em Tabatinga, Alvarães e outros.
Veja as imagens
Fotos: Ruth Martins/cedidas gentilmente ao BNC Amazonas
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O lago dos botos
Outro acompanhado de perto pelos pesquisadores e agentes do instituto é o lago Tefé. É onde, em 2023, mais de 200 botos morreram durante a seca histórica, sendo mais de 170 da espécie boto vermelho. Baixa oxigenação e alta temperatura da água foram apontadas como causas da mortandade.
Neste ano, o monitoramento começou em janeiro e envolve captura científica para avaliar a saúde dos botos e aplicação de um chip transmissor para melhor observação.
Já houve mortes de botos neste ano. Conforme o instituto, em uma semana, houve uma morte por dia no lago Tefé.
Em um dos casos, no dia 18 de setembro, a carcaça de um filhote de boto vermelho foi achada na margem do lago.
“Nós temos encontrado vários animais mortos. Na semana passada nós tivemos uma média de um por dia”, afirmou a chefe do projeto de pesquisa em mamíferos aquáticos do Mamirauá, Míriam Marmontel.
Conforme ela, essas mortes ainda não estão sendo associadas à mudança da temperatura da água, à temperatura excessiva, “mas à exacerbação da proximidade entre as populações humanas, principalmente pescadores, e os animais”.
Míriam afirmou que a temperatura do lago Tefé é monitorada diariamente. Em certos casos, já foi detectada variação de até 10 graus centígrados entre as temperaturas da manhã e tarde.
“É uma variação muito brusca”.
Foto-destaque: Miguel Monteiro/cedida em cortesia ao BNC Amazonas