Vírus da covid se abriga e reproduz nos testículos do homem, diz estudo

Objetivo dos pesquisadores era descobrir se a doença poderia afetar a reprodução

Mariane Veiga

Publicado em: 18/03/2022 às 12:22 | Atualizado em: 18/03/2022 às 12:22

Apesar de serem necessárias mais pesquisas para esclarecer as consequências exatas da covid-19 na fertilidade humana, um estudo mostrou que o coronavírus se replica nos testículos e que o órgão é uma espécie de “reservatório viral”, onde ele fica ativo por mais tempo que em outras partes do corpo.

Dessa maneira, a infecção severa pela covid pode impactar a saúde reprodutiva masculina, conforme observação do Laboratório de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG.

O estudo foi feito entre janeiro e março de 2020 e analisou os testículos de 11 indivíduos, de diferentes idades, não vacinados e que morreram de complicações das covid.

No entanto, o artigo ‘Sars-CoV-2 infects, replicates, elevates angiotensin II and activates immune cells in human tests’, que contém os principais achados da pesquisa, ainda não foi certificado por revisão por pares e, portanto, ainda não deve orientar a prática clínica. Atualmente, ele passa por revisão na revista Human Reproduction.

O objetivo dos pesquisadores era descobrir se a covid-19 poderia afetar a reprodução, investigando se pacientes que tiveram a forma severa da doença – casos em que a pessoa precisou ser internada – estavam apresentando alterações testiculares, e identificar se havia infecção viral no testículo.

“Conseguimos mostrar que o vírus estava presente no testículo dos 11 pacientes”, afirma Costa, doutor em Biologia e um dos coordenadores da pesquisa.

Sobre a quantidade de indivíduos analisados, o pesquisador afirma que “apesar de ser uma amostragem limitada, as técnicas utilizadas foram bastante sensíveis e o grupo conseguiu extrair bastante informação do material”. “E os dados de outros grupos de pesquisa acabam reforçando os nossos achados”, diz.

Transmissão sexual

O estudo observou que as células que dão origem aos espermatozóides estavam muito infectadas, o que é preocupante, segundo o Costa, porque levanta a possibilidade de encontrar o vírus no sêmen.

“É muito cedo para falar sobre transmissão sexual do vírus, porque isso depende também de fatores femininos, mas temos que lembrar quem trabalha em clínicas de fertilização assistida manipula sêmen de pessoas que se recuperaram, então existe essa preocupação de contaminação”, explica, reforçando que o tema ainda está “em aberto” e que mais estudos são necessários para confirmar a hipótese.

Além disso, a presença do vírus no testículo por mais tempo do que em outras partes do corpo humano – tornando o órgão um “reservatório viral” – se explica pelo fato do testículo ser um “ambiente mais imunossuprimido”, explica o pesquisador.

Portanto, vírus causadores de outras doenças como caxumba, HIV, zica e hepatite também permanecem por mais tempo no órgão.

Os pesquisadores defendem a importância da vacinação e reforçam que não há pesquisas que demonstrem impactos da vacina sobre os órgãos sexuais.

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil