Amazonas: ‘Filme de Silvino Santos é das maiores fake news da história’, diz Witoto

Vanda Witoto critica o documentário "Amazonas, o maior rio do mundo" de Silvino Santos, acusando-o de distorcer a realidade indígena e ocultar a violência histórica.

Diamantino Junior

Publicado em: 27/05/2024 às 16:43 | Atualizado em: 28/05/2024 às 07:17

Na noite de 29 de dezembro de 2023, o Teatro Amazonas, um marco arquitetônico da era do Ciclo da Borracha, foi palco da exibição do documentário “Amazonas, o maior rio do mundo”, de Silvino Santos, filmado entre 1918 e 1920. Durante o evento, a ativista indígena Vanda Witoto, presente na plateia, fez duras críticas ao filme, afirmando que se trata de “uma das maiores fake news da história”.

A informação consta na reportagem de Lúcia Monteiro, publicada no site da revista Piauí.

Vanda, técnica em enfermagem e moradora do Parque das Tribos, o maior bairro indígena do Brasil, chegou cedo ao teatro acompanhada do marido e da irmã. Com uma blusa cropped branca e uma calça bordada, Vanda usava um cocar especial, simbolizando a herança cultural de seu povo, os Witoto.

O documentário, redescoberto em 2023 no Arquivo Nacional de Cinema da República Tcheca, foi originalmente concebido para promover a Amazônia aos investidores estrangeiros.

No entanto, Vanda destaca que o filme apresenta uma visão distorcida e idealizada da realidade, omitindo a violência e a exploração que marcaram a extração do látex na região.

Ela criticou especialmente a representação dos povos indígenas, que, segundo ela, eram mostrados como “mais uma mercadoria para ser explorada”.

“Silvino Santos criou uma das maiores fake news da história”, declarou Vanda.

“Ele quis transmitir a mensagem de que meus parentes estavam bem, de que não houve genocídio. Foi contratado não para mostrar a verdade, mas para negar o horror vivenciado por meus antepassados e passar outra imagem deles. Eu o considero tão genocida quanto Julio César Arana, apontado como o grande vilão daquele período”, disse, referindo-se ao empresário peruano envolvido na exploração brutal dos seringueiros indígenas.

Vanda se emocionou durante a exibição, reconhecendo aspectos culturais dos Witoto nas imagens, mas lamentou o que chamou de “manipulação propagandística do filme”.

Ela vê no documentário uma oportunidade para recontar a história de seu povo sob uma nova perspectiva, destacando a resiliência e a luta dos Witoto contra a opressão.

O evento no Teatro Amazonas foi não apenas uma redescoberta histórica, mas também uma plataforma para Vanda Witoto e outros ativistas indígenas levantarem suas vozes contra as distorções históricas e reafirmarem a sua verdade.

Foto: reprodução