O Novo Ensino Médio (NEM) foi uma jogada de mestre da alta burguesia nacional. Por meio de um plano bem arquitetado e articulado com as forças políticas reacionárias brasileiras produzirá, em médio prazo, mão de obra barata para seus negócios utilizando o próprio sistema educacional.
O NEM é, de fato, uma revolução na educação, mas para a classe dominante, não para classe trabalhadora, principalmente a de baixa renda. O plano foi muito bem elaborado e carrega consigo uma sutileza capaz de enganar até mesmo intelectuais e militantes de esquerda.
Este projeto precisa ser analisado de forma dialética pelo campo progressista, pois ele é a materialização do caráter revolucionário da alta burguesia, a classe que pensou, patrocinou, implementou e que vem fazendo lobby para a manutenção desta fábula pedagógica.
Sobre o caráter revolucionário da classe burguesa, Marx e Engels, no texto O Manifesto do Partido Comunista , afirmam que esta classe “desempenhou na história um papel extremamente revolucionário”. Em um primeiro momento, solapando as bases do feudalismo na Europa e, assim, fazendo nascer uma nova ordem, um novo sistema político, econômico, social e cultural: o capitalismo.
Neste processo, “tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado e os homens são obrigados, finalmente, a encarar com serenidade suas condições de existência e suas relações recíprocas”. Noutras palavras, todos os fundamentos e a solidez das instituições do mundo feudal foram sendo desmanchadas e viraram cinzas, sendo que o golpe final se deu com as revoluções, francesa e industrial, ocorridas no século XVIII.
Marx e Engels afirmam que a “burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais”. Caro(a) leitor(a), o NEM é a materialização desta declaração, sem tirar nem por.
Neste âmbito, o campo progressista não pode ser ingênuo. Devemos ter sempre em mente que não lidamos com amadores, não importa o tempo nem o espaço. Na contemporaneidade, a burguesia continua revolucionando todos os sistemas e processos que lhes favorecem, sendo o principal deles o processo educacional.
O NEM não tem nada a ver com a educação
O projeto NEM, nestes termos, não tem nada a ver com a melhoria da educação brasileira. Na verdade, não tem nada a ver com a própria educação, mas, sim, com a manutenção de processos hegemônicos de dominação do capital sobre o trabalho.
Recorrendo novamente a Marx e Engels, afirmo que o NEM é o exemplo perfeito de uma estratégia que visa impedir que “homens e mulheres, operários modernos, tomem consciência de si e empunhem as armas da revolução”. É este o ponto central que muitos desavisados nem percebem.
O NEM é uma proposta de mudança cujo objetivo é não mudar nada, mas manter a classe trabalhadora subjugada, aprofundando, desta forma, a desigualdade socioeconômica e cultural no país.
Como dito, a burguesia, idealizadora e mantenedora do NEM, deseja impedir o desenvolvimento do pensamento crítico e a emancipação da juventude brasileira. Desta forma, não apenas bloqueia a tomada de consciência, mas também condena os(as) jovens pobres a assumirem posições subalternas e precarizadas ad aeternum .
Portanto, assumir o controle da escola, dos métodos e demais processos educacionais – estruturas e instrumentos fundamentais de dominação ideológica – é condição sine qua non para a manutenção do status quo . Afinal, sem educação crítica, emancipatória e de qualidade, maior é a alienação e menor o nível de consciência de classe.
Neste ponto, o(a) leitor(a) talvez esteja se perguntando: mas o que podemos fazer? Ora, enquanto classe trabalhadora nós devemos fazer o que já fazemos há mais de duzentos anos: lutar!
É preciso um esforço conjunto dos setores progressistas e democráticos visando à revogação do NEM. Precisamos aproveitar que a atual gestão do governo federal tem demonstrado disposição para o diálogo e pressionar para que haja a revogação.
De fato, antes de tudo, é preciso ter consciência de que o NEM não tem nada a ver com educação, mas, sim, com luta de classe. Não podemos nos iludir, pois acabaremos sendo seduzidos pelo canto da sereia do neoliberalismo e seus mantras sobre modernização da educação, liberdade, meritocracia, empreendedorismo e outras distrações.
A Reforma do Ensino Médio, promovida pela alta burguesia nacional, só tem três objetivos: reservar as melhores universidades e cursos para seus filhos e filhas, produzir mão de obra barata para seus negócios e, ao mesmo tempo, manter o pobre como pobre. Nada além disso.
*Sociólogo