É muito difícil as pessoas prestarem atenção nas plantas de maneira geral. Ainda assim, muitas plantas que conhecemos apresentam flores lindas e chamativas ou são árvores grandes que fazem sombra, servem de poleiro para os pássaros e dão frutas saborosas.
Porém, existe um grupo de plantas muito pequenas que, geralmente, passam despercebidas. Este é o caso das briófitas, também conhecidas como musgos. Mas elas estão ao nosso redor, no nosso dia a dia e são superimportantes. Acontece que muita gente nem sabe o que é uma briófita!
As briófitas são pequenas plantas esverdeadas que têm como característica a ausência de tecidos condutores de seiva, ao contrário das demais plantas terrestres, que possuem “veias” internas para transportar água e nutrientes. Elas também não têm flores, frutos, sementes, raízes, caules e folhas verdadeiros.
Em vez disto, possuem estruturas semelhantes: rizoides (para fixação), caulídios (semelhantes ao caule) e filídios (semelhantes às folhas). Devido à falta destes tecidos, as briófitas têm tamanho reduzido e são associadas a ambientes úmidos, sendo muito abundantes nas florestas tropicais. Por exemplo, no Brasil, das 1.620 espécies, 1.360 são encontradas na Mata Atlântica.
Adaptação aos ambientes
As briófitas também conseguiram se adaptar para viver em desertos e até mesmo na Antártica. Nas cidades, estas pequenas plantas podem ser observadas em parques, praças, jardins, troncos de árvores, sobre o solo, vasos e até mesmo em muros e calçadas. Uma característica incrível destas plantas é que elas podem se desidratar completamente e voltar à vida quando umedecidas.
Por que devemos prestar atenção a estas plantas? Em primeiro lugar, elas são fundamentais para os ambientes onde vivem. As briófitas criam um micro-habitat, oferecendo abrigo a animais microscópicos como insetos, minhocas e até pequenos sapos.
Além disto, cogumelos e pequenas plantas podem nascer sobre os musgos. Elas ajudam, ainda, a reter a umidade, criando condições favoráveis para a germinação de sementes, alteram e formam o solo e, ao crescerem em tapetes densos, protegem o solo contra a erosão.
As briófitas que crescem em muros ajudam a reduzir a temperatura das paredes, abafam sons e ecos e, frequentemente, criam um visual agradável, contribuindo para a diminuição do estresse em grandes cidades. Elas também podem ser utilizadas em jardins verticais.
Indicadores biológicos
Além disso, os musgos são amplamente reconhecidos como indicadores biológicos, devido à sua alta sensibilidade à poluição. A presença deles pode sinalizar uma boa qualidade do ar ou do solo. Os musgos têm, também, a capacidade de absorver parte da poluição do ar, ajudando a purificar o ambiente, e são muito eficazes na absorção do dióxido de carbono, um gás que, em excesso, contribui para o efeito estufa.
Neste âmbito, além de seus benefícios ambientais, as briófitas também têm importância econômica. Musgos do gênero Sphagnum, conhecidos como musgos das orquídeas, são amplamente utilizados na jardinagem para cultivar orquídeas, germinar sementes, cultivar plantas carnívoras e até mesmo em artesanato, como em guirlandas e terrários.
Outras espécies de musgos, como o musgo de java, são empregadas no aquapaisagismo, sendo cultivadas submersas em aquários. Além disso, os musgos do gênero Sphagnum formam, após milhares de anos de crescimento, um solo especial feito de turfa. A turfa pode ser queimada e usada como combustível ou até mesmo para aromatizar whiskey.
Tratamentos de enfermidades
Muitas briófitas foram, tradicionalmente, usadas como medicinais por comunidades ao redor do mundo. Estas plantas são empregadas no tratamento de diversas enfermidades, incluindo distúrbios hepáticos, doenças de pele, problemas cardiovasculares e, também, têm propriedades antimicrobianas e cicatrizantes. Por exemplo, o musgo Sphagnum possui propriedades antissépticas e foi utilizado como curativo natural durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Mais recentemente, plantas do gênero Radula têm sido estudadas por conter canabinoides menos nocivos do que os encontrados na Cannabis. No entanto, é importante ter cuidado e não usar qualquer musgo encontrado sem a orientação adequada.
Com tudo isto, estas pequenas plantinhas, que muitas vezes passam despercebidas, têm uma importância que supera seu tamanho e estão presentes tanto em locais remotos como no nosso cotidiano.
Por isto, na próxima vez que você encontrar uma briófita, eu sugiro que a observe com mais atenção (uma lupa pode ajudar) e descubra o mundo fascinante que elas revelam.
*O autor é biólogo, botânico e professor na UFSCar – Lagoa do Sino.
Foto: Danilo Gissi/divulgação