Objetividade e subjetividade no olhar sobre o indivĂ­duo

Um conjunto de olhares e condutas se tornam o olhar e a conduta de um grupo social, de uma comunidade ou até mesmo de uma sociedade

Por LĂºcio Carril*

Publicado em: 24/09/2023 Ă s 11:34 | Atualizado em: 24/09/2023 Ă s 11:34

O tĂ­tulo pode ser pomposo, mas expressa a intenĂ§Ă£o de trazer para o campo da sociologia um problema antropolĂ³gico ou mesmo psicanalĂ­tico, jĂ¡ que envolve a forma como um indivĂ­duo olha para o outro e o determina.

HĂ¡ tempo observo o quanto a subjetividade do olhar sobre o outro termina por influenciar na organizaĂ§Ă£o e na vida do grupo. Um conjunto de olhares e condutas se tornam o olhar e a conduta de um grupo social, de uma comunidade ou atĂ© mesmo de uma sociedade.

A forma autoritĂ¡ria como um indivĂ­duo busca se impor sobre outro indivĂ­duo nĂ£o se manifesta somente como preconceito, mas pode ocorrer como mecanismo de destruiĂ§Ă£o da histĂ³ria de vida do outro.

Trata-se de uma prĂ¡tica muito comum um indivĂ­duo pegar uma Ăºnica aĂ§Ă£o do outro para usar como instrumento de destruiĂ§Ă£o de tudo que ele, o outro, construiu durante sua vida, seja na polĂ­tica, na profissĂ£o, na famĂ­lia ou em qualquer estrato.

Aquele Ăºnico ato de equĂ­voco ou de deslize nĂ£o intencional pode servir de objeto destrutivo da sua histĂ³ria pelo outro, que o faz por maldade ou por uma aĂ§Ă£o estruturada de maucaratismo.

Um ato equivocado nĂ£o pode destruir uma histĂ³ria de vida, de luta, de resiliĂªncia ou de profissionalismo. O que determina o carĂ¡ter e a conduta de um ser humano Ă© o conjunto da sua obra, ou seja, o conjunto das suas ações enquanto agente social e polĂ­tico.

NĂ£o estou me referindo a crime, que Ă© um campo a ser cuidado pela justiça, mas ao equĂ­voco do olhar e da prĂ¡tica destrutivos, que se manifesta na intenĂ§Ă£o de invalidar tudo que o outro construiu como boa referĂªncia na sua vida.

Essa aĂ§Ă£o subjetiva de destruiĂ§Ă£o do outro Ă© tambĂ©m destruidora da objetividade, jĂ¡ que nĂ£o analisa o conjunto e a histĂ³ria das coisas que o indivĂ­duo construiu. É uma posiĂ§Ă£o antidialĂ©tica e de puro exercĂ­cio da ignorĂ¢ncia ou da falta de carĂ¡ter.

É preciso fazer da nossa subjetividade um objeto de construĂ§Ă£o objetiva, de honestidade intelectual, existencial e de respeito ao ser humano.

*O autor é sociĂ³logo