O resultado da primeira pesquisa para a sucessão presidencial em 2022, no Amazonas, chega ao atual ocupante do posto com um recado: “A conta chegou, Bolsonaro!”.
O valor da fatura, para o presidente da República, é alto. Principalmente quando levado em conta o capital eleitoral que ele conquistou em 2018.
Até o começo daquele ano, Jair Bolsonaro não passava de uma figura exótica. Poucos, até então, apostariam que ele seria capaz de derrotar o PT, por exemplo.
Afinal, o Partido dos Trabalhadores havia dado à Zona Franca de Manaus, com Lula da Silva e Dilma Rousseff, mais 70 anos de vida. Garantiam, portanto, a vigência do único regime de tributação excepcional que o governo federal tem para a região Norte.
Também haviam sido os petistas responsáveis pelas obras mais visíveis do Amazonas nas últimas décadas.
Pode-se falar, por exemplo, da ponte sobre o rio Negro, do Prosamim, do gasoduto Coari-Manaus, do estádio Arena da Amazônia, das mais de 30 mil habitações populares do Minha Casa, Minha Vida, do programa Luz para Todos, além do Bolsa-Família.
Bolsonaro chegou sem nada, e ganhou tudo no estado. No fim do segundo turno daquela eleição, impôs uma derrota de mais de dez pontos porcentuais de diferença sobre o petista Fernando Haddad (55,13% x 44,87%).
Nas três disputas presidenciais anteriores, o PT havia ganhado tudo. Parecia ter conquistado a hegemonia político-eleitoral do país. Mas, na ocasião, vivia a agonia da perda de sua força com a revelação de casos de corrupção pela operação Lava Jato.
Em 2018, a força eleitoral petista no Amazonas limitou-se ao interior do estado, ancorada na popularidade de Lula.
No entanto, em Manaus, Bolsonaro aplicou uma acachapante derrota ao partido de Lula, Dilma e Haddad.
Capital derrete
A capital do Amazonas lhe dera, no primeiro turno, quase 60% (57,30%) dos votos contra os poucos mais de 20% (22,91%) do PT.
A diferença, que cobriu a vitória petista no interior, superou, e muito, a votação de Haddad. Foram 34,39% só de vantagem.
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Reviravolta
Porém, com mais da metade de seu mandato concluído, Bolsonaro frustra as expectativas nele creditadas em 2018.
Por exemplo, a Zona Franca de Manaus (ZFM) tem o seu pior momento na gestão de Bolsonaro.
Seu governo atacou o modelo antes mesmo de começar, quando o então futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, mostrava que faria tudo o que fosse possível para acabar com a excepcionalidade do modelo.
A ZFM é pai e mãe do Amazonas. É nela que o estado ancora mais de 80% de sua riqueza. Esta, por tabela, beneficia também estados vizinhos.
Bolsonaro atacou os setores de concentrados, de duas rodas e agora o de eletroeletrônicos, o maior do polo industrial da ZFM.
BR-319
A promessa de conclusão da BR-319 se juntou à retórica dos governos anteriores. Bolsonaro chegou ao poder dando ao Amazonas, a Rondônia e aos demais estados da região a mesma esperança.
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Velha política
A nova política que prometia para o Amazonas não chegou. No preenchimento de cargos, repetiu o toma-lá-dá-cá de sempre.
Conseguiu até piorar essa relação, principalmente no preenchimento de postos de comando mais importantes. Como a Suframa (Superintendência da ZFM), por exemplo.
Fez isso ao colocar na chefia da autarquia um colega de quartel, um compadre. Deixava claro, literalmente, o compadrio de seu governo.
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Desumano
Apesar disso tudo, dado ao contexto da pesquisa eleitoral de agora, feita após o Amazonas atravessar o horror da segunda onda da epidemia do coronavírus (covid-19), parece ter sido esse o seu principal desgaste entre os seus eleitores no estado, até aqui.
Para lembrar, em janeiro, quando o Amazonas precisava de oxigênio, Bolsonaro mandou cloroquina.
Quando os mortos já gritavam, pedindo socorro, seu governo negou-lhes o fôlego da vida. Isso está demonstrado na denúncia de omissão à Justiça do agora ex-ministro Eduardo Pazuello .
Mais que isso: Bolsonaro não demonstrou um sentimento de pesar ao sofrimento do Amazonas pela doença. Aliás, não fez isso com por nenhuma das mais de 300 mil vidas perdidas no Brasil.
No caso do Amazonas, nem sequer uma visita, um sobrevoo à tragédia.
Agora, tudo isso vem à tona, em uma concisa frase:
“Bolsonaro, a conta chegou”.
Recuperação
Na contramão disso, a pesquisa revelou que Lula e o PT retomaram ao status de 2018.
Isso porque esse estudo eleitoral do Amazonas mostrou que o líder petista, se a eleição fosse hoje, venceria Bolsonaro, na capital e no interior, e venceria todos os adversários nos cenários simulados.
Foto: Arte BNC Amazonas