Por Iram Alfaia , de Brasília
O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), saiu da retórica na sua intenção de explorar a Amazônia em parceria com os Estados Unidos.
No dia 28 do mês passado, o seu governo assinou acordo com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), envolvida historicamente em golpes militares na América do Sul, para investir na região US$ 100 milhões em empresas privadas no “uso sustentável de produtos florestais, sobretudo madeireiro”.
O assunto foi tema de matéria publicada pelo BNC (CIA quer investir US$ 100 milhões em empresas na Amazônia ) e causou estranheza em parlamentares da bancada do Amazonas no Congresso Nacional.
Para o deputado José Ricardo (PT), o teor desse acordo precisa ser investigado e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (foto), chamado a dar explicações no Congresso sobre o que o “governo brasileiro anda assinando nos EUA” sem deixar claro suas intenções.
Na próxima semana, o deputado vai apresentar um requerimento pedindo informações sobre o acordo na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e Amazônia.
“Num primeiro momento vamos saber se o ministro vai disponibilizar as informações e, depois, pode ser encaminhada uma audiência para ele dar esclarecimento, é o mínimo a ser feito”, disse o deputado ao BNC.
O problema é que a presença da Usaid em várias partes do planeta tem gerado polêmica, principalmente por causa dos interesses geopolíticos, sempre a favor dos EUA.
No Brasil, a entidade já atuou em apoio à ditadura militar no treinamento de policiais dos estados mais populosos e instalação de sistemas de comunicação, segundo informa documento guardado no Arquivo Nacional, em Brasília.
Ou seja, trata-se de um órgão auxiliar para ajudar na implementação da política externa do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
Interesse geopolítico
O deputado petista analisou a situação com preocupação, pois há muitas questões a serem respondidas. “Que tipo de parceria? Explorar como? Qual é a ideia? Ora os Estados Unidos têm sempre interesses geopolíticos em riquezas. Não à toa está preocupado com a Venezuela que possui as maiores reservas de petróleo do mundo”, lembrou.
Na sua opinião, mais estratégico para o Brasil é fazer o uso racional e sustentável dos recursos da Amazônia usando a inteligência e pesquisa já produzida na região.
“O Brasil tem tecnologia para desenvolver a partir do conhecimento (…) Não precisa dos EUA, nem de outros estrangeiros. Nós já temos parcerias com cientistas dos EUA e da Europa, sempre teve essas parcerias na área do conhecimento e muita coisa já foi desenvolvida”, explicou.
Ele citou o caso do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) que possui acumulo de conhecimento sobre a região que precisa ser transformado em políticas públicas a serviço da população.
Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República