por Iram Alfaia , de Brasília
O diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Ricardo Sérgio Maia Bezerra, disse que os aeroportos de Barcelos, Coari e Eirunepé já estão liberados para operação. Trata-se de uma medida emergencial para superar o apagão aéreo para o interior do Amazonas.
A notícia foi dada durante a audiência pública realizada nesta terça-feira, dia 3, na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (Cindra) da Câmara dos Deputados.
O presidente da Cindra, Átila Lins (PP), que presidiu o encontro, classificou a audiência como esclarecedora.
Ricardo Bezerra explicou que os três aeroportos foram liberados sem a homologação das Estações Meteórica de Superfície.
“Liberamos mesmo sem certificar as estações. Esse é um fator de risco que tem que ser observado pela aviação; o piloto precisa saber das condições das pistas, ainda mais no Amazonas”, explicou.
Críticas
Apesar da notícia, os deputados da bancada amazonense que participaram da reunião foram ácidos nas críticas aos representantes do governo federal e das empresas.
O deputado Bosco Saraiva (Solidariedade), por exemplo, se retirou da reunião descontente e desacreditado.
Leia mais
Saraiva chegou a prevê que a empresa Passaredo, que adquiriu a MAP Linhas Aéreas, logo vai abandonar a praça amazonense como fez a sua antecessora. Ele disse que a Anac maltrata os parlamentares amazonenses.
Também considerou irrisório os quase R$ 200 milhões de investimentos que o governo federal pretende fazer no setor nos próximos três anos no Estado.
O deputado José Ricardo (PT) lembrou que no governo Dilma Rousseff foram feitos investimentos de peso em 25 aeroportos no interior do Amazonas, mas o programa foi abandonado pelos presidentes Michel Temer e, depois, por Jair Bolsonaro.
“Apagão aéreo no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul não é o mesmo que no amazonas. Lá o apagão é substituído por malha viária. No Amazonas são pouquíssimos municípios ligados por malhas rodoviárias”, lembrou o deputado Marcelo Ramos (PL).
Segundo ele, a aquisição da MAP pela Passaredo, por coincidência ou não, resultou na suspensão de todos os voos no interior, gerando uma expectativa de que foi uma ação deliberada.
Ou seja, a empresa desativaria as operações no Amazonas para investir em novos slots no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
No mesmo tom, o deputado Sidney Leite (PSD) chegou a afirmar que a Anac agiu por interesses empresariais e não pelo interesse da sociedade.
Motivos do apagão
O diretor da Anac respondeu que os parlamentares amazonenses sempre foram bem tratados e que jamais a agência agiu por interesses comerciais. “Nossa maior preocupação é a segurança”, disse.
Ele explicou que vários aeroportos em que a MAP operava no interior do Amazonas estavam sem a Especificação Operativa (EO) pela qual são autorizados os pousos.
“Desde julho deste ano a Anac está com lupa em cima da MAP. A gente tem feito vistoria constantes na empresa e tinha notado a degradação da manutenção de algumas aeronaves. Das três aeronaves que a MAP possui, duas estão paradas e outra foi retirada porque constatamos trinca no casco”, revelou.
Leia mais
O diretor executivo da Passaredo Linhas Aéreas, Eduardo Bush, explicou que no dia 14 de novembro, véspera do feriado, o avião que estava operando para dez municípios, um ATR-42500, contratado pela MAP, teve a certificação de operação aérea suspensa.
“Infelizmente, não tivemos possibilidade de deslocar de imediato mais uma aeronave para atender a operação, porque tivemos problemas operacionais com outra aeronave que estava em Ribeirão Preto (SP). Por volta da quarta finalizamos a manutenção do avião da Passaredo e, ao invés de retomar uma operação em São Paulo, que nós estávamos realizando, deslocamos o avião para Manaus”, explicou.
Ocorre, segundo ele, que a nova aeronave (ATR 72), por causa das dimensões maiores, não pode operar em 40% dos aeroportos que a MAP atendia.
“Isso nos impediu de retomar 100% da cobertura nos dez municípios com o avião ATR 42500. Estamos esta semana com mais um avião o ATR 42300 da MAP que passou por um evento de manutenção durante o final de semana. Vai ser submetido por uma inspeção da Anac para que possa liberar a operação e cobrir 12 cidades”, revelou.
R$ 200 milhões de investimento
Na ocasião, o secretário nacional de Aviação Civil (SAC), Ronei Saggioro Glanzmann, disse que a carteira de investimento do governo federal na aviação regional no Amazonas chega a quase R$ 200 milhões em três anos, sendo R$ 176 milhões em obras e R$ 18 milhões em equipamentos.
Ele afirmou que no próximo ano três grandes obras serão feitas como a reforma geral dos aeroportos de Coari, Lábrea e Eirunepé.
Também destacou os investimentos nas Estações Meteórica de Superfície de Parintins, Itacoatiara, Manicoré, Coari, Eirunepé, Lábrea, Humaitá e Carauari.
Participaram também da audiência: Tayse Brandão Figueiredo, gerente de gestão de aeroportos, representando a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero); Adriano Mendonça Ponte, secretário de Estado de Relações Federativas e Internacionais em Brasília, representando o Governador do Estado do Amazonas; e Airton Pereira, diretor de comunicação e Relações Institucionais da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR).
Foto: Divulgação