“O Brasil precisa de uma correção diplomática, com urgência, para que possamos dialogar com outros países e deixar claro, de forma pacífica, que a Amazônia é nossa”, afirmou o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), em entrevista por telefone nesta terça-feira, dia 27, à rádio Band, de Porto Alegre (RS).
Para o tucano, a oferta de US$ 20 milhões do G7 (sete países mais industrializados do mundo) ao Brasil foi uma coisa ruim.
“Eles ignoram que o Brasil é a oitava economia do mundo. Isso é como se fosse uma esmola”, afirmou.
Arthur reconhece que o país precisa de parcerias em projetos de desenvolvimento sustentável, preservando a floresta. Essa ação é, para ele, um dos principais instrumentos no combate ao aquecimento global.
Ele faz um adendo de que a população internacional deve saber como oferecer parcerias, respeitando a independência brasileira.
“É preciso uma correção diplomática muito clara. O Brasil não pode criar inimizade com o G7 e o G7 não pode achar que o que estamos precisando aqui são doações”, disse.
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O jeito Bolsonaro
Sobre o comportamento do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), diante da atenção do mundo sobre as queimadas na Amazônia, Arthur disse que cabe a ele perceber que não se deve provocar uma crise mundial, fruto da má governança sobre a região.
“O Brasil é um país de diplomacia muito respeitada, uma potência não militar, mas uma potência econômica média, com irregularidades e injustiças na distribuição da riqueza. Tudo isso é um mal que vem de muito tempo”, avaliou o amazonense.
Sobre o presidente da França, Emmanuel Macro, ter levantado a ideia de internacionalização da Amazônia, Arthur avalia que esse discurso “não cabe mais”.
Diplomata de carreira, citando importantes nomes que deixaram grande legado na relação do Brasil com o exterior, Arthur voltou a criticar a falta de diplomacia para resolver a situação atual.
Para ele, é hora de o Brasil enxergar que possui em seu território 60% da floresta amazônica.
“O país teve, como ministro de Relações Exteriores, o Barão do Rio Branco, que foi quem alargou as nossas fronteiras, anexando o Acre ao Brasil pelo tratado de 1903. O Brasil teve Joaquim Nabuco, que hoje é avenida em tudo que é lugar do país. Então, o Brasil tem que buscar o seu Joaquim Nabuco, o seu Barão de Rio Branco, e negociar, em tom de altivez, que a Amazônia é brasileira. Nós temos que fazer isso em benefício da humanidade e em benefício dos nossos cidadãos”.
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A importância da ZFM
Sobre a Zona Franca de Manaus (ZFM), o prefeito novamente reforçou a importância do modelo para que mais de 90% da floresta no Amazonas esteja preservada.
Para exploração da biodiversidade amazônica, Arthur ensina que só pode ser feito de forma sustentável, e com investimentos em ciência e tecnologia.
“Temos que nos preparar para vermos o Brasil investindo fortemente nos órgãos de pesquisa da região, como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o Inpa, no Amazonas; a Universidade da Amazônia Ocidental, a Universidade da Amazônia Oriental e mais o Museu Emílio Goeldi, no Pará. É aí que está a chave para o desenvolvimento de uma indústria de biotecnologia de verdade”, afirmou.
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“Rios voadores” e o banho de Maradona
Arthur também enfatizou a importância do papel dos cientistas no trato com os povos da floresta, voltando a criticar garimpos em terras indígenas.
“Nós precisamos considerar que a deterioração da Amazônia e seu desmatamento desmedido leva à seca dos ‘rios voadores’, a condensação cria nuvens que vão sair do Brasil, passando pelo Nordeste, passam por São Paulo, passam pelo Rio Grande do Sul e chegam até a Argentina. Os rios voadores, criados na Amazônia, servem para o Diego Maradona tomar banho na Argentina. É um fenômeno fantástico que não deve acabar”, disse.
Foto: Alex Pazzuelo/Semcom