O prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), que chegou a escrever carta ao ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), para informar do status da eleição suplementar no Amazonas, defender a eleição direta e logo alertar o magistrado do prejuízo que causaria ao estado uma nova suspensão do pleito, voltou a se manifestar neste sábado, véspera do dia da votação para escolher um governador tampão até o final de 2018.
Em um post-artigo no Facebook, com o título “Democracia”, Arthur aborda basicamente três pontos:
No primeiro faz crítica aberta ao governo interino de David Almeida (PSD), a quem o prefeito atribui responsabilidade por ter agravado a crise do estado e ainda ter se deixado embriagar pelo poder ao “apostar fichas ilegítimas” nas eleições diretas.
Arthur faz uma previsão pessimista de que o governador vai ter dificuldade para pagar o salário de setembro dos servidores e o 13º salário.
Depois, do alto da sua vivência na política, Arthur já visualiza a realidade do Amazonas no pós-eleição ao fazer um apelo ao presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM) para que dê posse imediata ao governador eleito nas urnas, tão logo se encerre o segundo turno.
E fecha seu artigo justificando o apoio à candidatura de Amazonino Mendes (PDT). Ao lado do senador Omar Aziz (PSD), Arthur é o principal apoiador da campanha do ex-governador.
Afirmando que abriu mão de ser candidato neste pleito porque vê em Amazonino um homem que “não ambiciona reeleição”, Arthur dá a entender que o candidato se comprometeu com o grupo que o apoia a “entregar o Amazonas, impreterivelmente em 31 de janeiro [dezembro] de 2018, já salvo do caos presente, a um sucessor igualmente ungido pelo voto popular”.
Outro ponto que selou a aliança de dois adversários tradicionais da política amazonense, conta o prefeito, foi Amazonino ter assumido o compromisso de colocar o governo em “ação conjunta” com a prefeitura.
E faz questão de deixar claro que esse acordo é só para este pleito. “Muito claramente assim”, escreveu Arthur.
Leia abaixo o post completo do prefeito:
DEMOCRACIA
Amanhã, domingo, dia 06, os eleitores e eleitoras irão às urnas para escolher o governador que receberá a missão nobilíssima de restaurar o Amazonas.
Nosso estado, em verdade, está falido, com atrasos no salário de seu pessoal, ameaçado de sequer pagar o mês de setembro e desafiado a colocar em dia o 13o salário, que custará absurdos 170% da folha.
Afinal, lançando mão de artimanhas, meramente adiantaram 30% desse compromisso, ainda no período Melo, em 2016.
O governador interino, que apostava suas fichas ilegítimas em eleições indiretas cassariam o direito de voto do povo, deixou a embriaguez do poder efêmero subir-lhe à cabeça.
Poderia ter iniciado, com sobriedade e espírito público, a transição para o futuro.
Preferiu, ao invés, cometer todos os desatinos possíveis e imagináveis: empenhou, nessa curtíssima interinidade, cerca de R$ 2 bilhões, liquidando mais de R$ 1 bilhão; pagou desapropriações despropositadas pelo valor “de face,” sem, ao menos, impor reduções que, minimamente, “protegessem” o erário… e ainda lançou uma candidata fantoche, para desviar a atenção da trama que urdia, em Brasília, para suspender as eleições populares.
Apelo ao desembargador Yedo Simões, presidente do TRE, para que antecipe a posse do eleito. Dez dias após o 2o turno são suficientes para se preparar uma posse singela, sem pompa, que interrompa essa tragédia de 22 meses.
Os amazonenses merecem normalidade e respeito. Sei que o respeitável juiz estará à altura do momento singularmente delicado vivido por sua gente.
Escolhi o postulante que se propõe, pura e simplesmente, a entregar o Amazonas, impreterivelmente em 31 de janeiro de 2018, já salvo do caos presente, a um sucessor igualmente ungido pelo voto popular.
Optei por quem não ambiciona reeleição. Por quem tome as medidas necessárias, certas delas até impopulares, para repor nossa terra no rumo do crescimento, da credibilidade e da prosperidade. Decidi-me por quem não fará planos políticos e eleitorais.
Votarei, pois, em Amazonino Mendes, meu adversário de décadas, precisamente porque ele assumiu dois compromissos essenciais comigo:
a) não ambicionar;
b) trabalhar ao meu lado no enfrentamento aos problemas urgentes e exigentes dessa cidade-estado que é Manaus.
Quando fui, pela primeira vez, ao seu encontro, deixei claro também que nosso acordo eleitoral se restringe a 2017. Muito claramente assim.
A postura de Amazonino foi correta, madura e nobre. Deixamos de lado as querelas passadas, em nome de objetivos superiores a tudo, que são o Amazonas, Manaus e nossa gente.
O passo seguinte foi apertarmos as mãos e sairmos para a luta, em busca de apoio aberto e longe de conchavos nos porões de Brasília.
Como sempre, votarei por crença, confiando em Deus e no sentido de autoproteção dos amazonenses.
Pela quarta vez, tive oportunidade de disputar o governo e a isso me recusei. Aprendi a domar minhas ambições. Elas sempre estarão abaixo dos interesses da terra que me permitiu construir densa carreira pública de quase quatro décadas.
A farsa foi desmontada. O povo vai, ele mesmo, decidir o seu destino.
Que Deus proteja o Amazonas.
Foto: Divulgação