Olhando nos olhos, o presidente da CPI da covid, Omar Aziz (PSD-AM), disse ao empresário depoente Luiz Paulo Dominguetti Pereira que não iria prendê-lo. E não tomaria essa atitude por causa de suas filhas e da sua família. Só por isso.
O depoimento de Dominguetti foi considerado como falso testemunho. O pedido de prisão foi feito pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) depois que provou que o áudio, de 2020, é editado e trata da venda de luvas cirúrgicas. Não fala nada de vacina, que naquele momento nem existia ainda.
Momentos antes, o vendedor de vacinas apresentou um áudio à CPI que teria recebido de outro vendedor, Cristiano Carvalho.
Tratava-se de uma conversa editada, com a qual os dois vendedores tentaram desacreditar a denúncia do deputado Luís Miranda (DEM-RJ) contra o governo federal no contrato bilionário para compra da vacina Covaxin. Há suspeita de corrupção nessa negociação, conforme apura a CPI.
“Não venha achar que aqui todo mundo é otário”, afirmou Aziz. “Do nada surge um áudio do deputado Luis Miranda… Chapéu de otário é marreta”. Diante dessas comprovações, Dominguetti disse que foi induzido por Cristiano Carvalho a acreditar que se tratava de vacinas pela forma como o áudio foi recebido.
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Aviso de acareação
Apesar de negar a prisão, contudo, Aziz afirmou a Dominguetti que a CPI deve fazer acareação com o ex-servidor do Ministério da Saúde Roberto Dias e Cristiano Carvalho. Este é CEO da Davati Medical Supply, empresa americana que atua no ramo da saúde no Brasil.
“Na acareação, se houver algum tipo de querer brincar com esta CPI, desnortear o trabalho que estamos fazendo, as consequências não serão as mesmas de hoje”, afirmou o presidente.
Dominguetti, policial militar de Minas Gerais e que negociou com o governo federal como representante da Davati, foi o que afirmou ao jornal Folha de S. Paulo ter recebido pedido de pagamento de propina por parte de membro do Ministério da Saúde.
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Depoente “plantinha”
Anteriormente à decisão de Aziz, o senador Rogerio Carvalho (PT-SE) acusou Dominguetti de ter sido plantado na CPI para, além de tentar desacreditar o depoimento do deputado Luis Miranda, preservar a cúpula do governo federal.
“Ele (Dominguetti) foi plantado para desqualificar uma das principais linhas de investigação da CPI e tirar foco do comandante-chefe de corrupção no Ministério da Saúde”. Carvalho se referia deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder de Bolsonaro na Câmara, sob quem recaem essas acusações.
“Faz parte disso, a desqualificação do deputado Luiz Miranda que afirmou ter levado a Bolsonaro denúncia de corrupção na compra da Covaxin. O jogo é extremamente bruto”, disse o senador.
O senador Humberto Costa (PT-PE) também vai na direção do colega petista. E afirmou ser “evidente que há uma tentativa de tumultuar e desmoralizar a CPI”.
Como resultado de pedido do vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o celular de Dominguetti foi apreendido. Leia mais no portal da BBC Brasil.
Foto: Agência Senado