Bolsonaro aponta São Paulo como obstáculo na sua filiação ao PL
O presidente também é contra liberar os diretórios estaduais a se unirem a siglas de oposição, como o PT

Diamantino Junior
Publicado em: 14/11/2021 às 19:05 | Atualizado em: 14/11/2021 às 19:09
O adiamento da filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PL, decidido na madrugada deste domingo (14), tem como um dos focos de divergência as alianças regionais, principalmente em São Paulo.
Bolsonaro resiste que a legenda apoie a candidatura ao governo de SP do atual vice-governador do estado, Rodrigo Garcia (PSDB), e cobra “outra solução” do presidente da sigla, Valdemar Costa Neto.
Também é contra liberar os diretórios estaduais a se unirem a siglas de oposição, como o PT.
Em Dubai, ainda no domingo, o presidente da República deixou claro que “não vai aceitar” o apoio do PL a um candidato do PSDB em São Paulo:
“A gente não vai aceitar, por exemplo, São Paulo apoiar alguém do PSDB”, disse o presidente.
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Um dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), disse em entrevista ao portal R7, durante viagem a Dubai, que outro episódio que gerou incômodo foi uma nota do PL que autoriza as executivas a apoiarem oficialmente alguns partidos que a família Bolsonaro considera “impossíveis”.
“Algumas coisas incomodaram um pouco o presidente, como uma nota oficial do PL autorizando executivas de alguns estados a apoiarem alguns partidos que são, no nosso ponto de vista, impossíveis de estarem conosco, como o PT, por exemplo”, disse Flávio.
Segundo ele, o PL também precisa fazer “algumas concessões com relação a suas bancadas em alguns estados que são sustentação de partidos de esquerda”. Ele rejeita a possibilidade de alianças com siglas como PT, PDT, PSOL e Rede.
“Certamente o nosso eleitor não entenderia o partido do presidente, o PL, apoiando um candidato a governador de um estado como Pernambuco, por exemplo. É importante que isso fique claro”, reforçou o senador, acrescentando que os problemas são “facilmente contornáveis” se o apoio for individual, sem aval da legenda.
Há dois dias, Valdemar Costa Neto divulgou uma nota oficial na qual reiterou a autonomia do presidente do PL de Pernambuco, Anderson Ferreira, para a escolha dos nomes que constarão na chapa de candidatos majoritários e proporcionais das próximas eleições do estado. Ferreira tem participado de ações com a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB).
A nota ainda garante que as decisões tomadas pela direção da legenda em Pernambuco contam com “pleno apoio da direção nacional do partido”.
O deputado Capitão Augusto (PL-SP) confirmou ao Globo que há “questões complexas” que envolvem candidaturas regionais, citando como exemplo de divergência a possibilidade de o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, disputar o governo de São Paulo, como desejava Bolsonaro inicialmente.
Nesse caso, foi costurado internamente um acordo para que Tarcísio possa disputar uma vaga ao Senado pelo estado de Goiás. Mas, ainda assim, integrantes do PL afirmam que o presidente não concorda com o apoio a um candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, sigla do governador João Doria, adversário de Bolsonaro.
“Tem a questão de abrigar os próprios candidatos que o Bolsonaro pretende estar lançando no Senado ou para governador… Mas eu não tenho dúvida que ele vai fechar com o PL que é o melhor partido que ele pode ter para disputar a reeleição. Ele não vai correr o risco de perder um partido do porte do PL, é só questão de ajuste fino mesmo”, disse Augusto.
E acrescentou:
“Você lança essa disposição que ele tem, de filiar ao PL, aí regionalmente vai aparecendo problemas. Ontem perceberam que precisam sentar de novo para reajustar. Serão várias rodadas de negociação até estar bem certo. Assim que é feito.”
O senador Wellington Fagundes (PL-MT) também afirmou que o empecilho está “principalmente em São Paulo”. De acordo com o parlamentar, o presidente da República “insiste em outra solução” nesse caso.
Já o deputado José Rocha (PL-BA) afirmou que a divergência foi em função unicamente da disputa em São Paulo. Segundo ele, a ideia agora é esperar as prévias do PSDB para tomar uma decisão, no dia 21 de novembro.
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Foto: Isac Nóbrega/PR