O desmantelamento da estrutura de proteção da Amazônia no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) continua revelando estragos para o meio ambiente. A emissão de dióxido de carbono (CO2) na região, por exemplo, dobrou nos dois primeiros anos daquele governo.
Os dados constam no artigo assinado por 30 cientista e publicado na revista Nature nesta quarta-feira (23).
“Bolsonaro foi um El Niño brasileiro. A análise sugere que não há razão para as grandes emissões da Amazônia além do desmantelamento da aplicação da lei”, disse a pesquisadora Luciana Gatti do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De acordo com o estudo, nos anos de 2019 e 2020 houve aumento nas emissões de dióxido de carbono (CO2) de 89% em 2019 e de 122% em 2020, quando comparado com o período de 2010-2018. O índice de confiança dos dados é de 95%
Os pesquisadores realizaram 742 voos entre 2010 e 2020, em aeronave de pequeno porte, para coleta de amostras para avaliar o dióxido de carbono presente na atmosfera.
As coletas foram feitas em quatro florestas distantes de cidades referentes como Tefé (AM), Santarém (PA), Alta Floresta (MT) e Rio Branco (AC), o que representou uma amostra de 80% da região.
Além da coleta, foram analisados dados sobre desmatamento e queimadas nas áreas de influência das regiões coletadas e quantificadas as ações de controle e punição do desmatamento, por meio dos autos de infrações de desmatamento ilegal.
A exportação de madeira bruta, rebanho bovino, área plantada de soja e milho são principais atividade econômicas responsáveis pela perda florestal.
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Regiões
Segundo os pesquisadores o aumento é decorrente, principalmente, das emissões na região oeste da Amazônia, região que deixou de ser um sumidouro para ser fonte de emissões.
Luciana Gatti destacou que há variações entre as regiões da Amazônia e que isso necessita políticas específicas de ação.
Na região leste do bioma, o desmatamento já atingiu cerca de 30% da área, onde as emissões de carbono chegam a ser oito vezes maiores, comparada à área central do bioma.
O oeste da Amazônia, segundo ela, estaria mais próximo do ponto de não retorno, quando a floresta não teria mais condições de se regenerar.
“Para essa região não basta falar em desmatamento zero. No sudeste da Amazônia, as árvores já morrem mais do que crescem. Mesmo se parar o desmatamento, a condição climática estressante vai continuar a gerar perda florestal”, explicou.
No lado oeste, no qual os pesquisadores registraram aumento nas taxas de desmatamento de 82% em 2019 e 77% em 2020, a incidência de chuvas é historicamente maior. A contenção do desmatamento permitiria a regeneração.
Foto: Christian Braga/Greenpeace/divulgação