O presidente Jair Bolsonaro (PL) retribui com ingratidão a vitória que obteve no Amazonas nas eleições de 2018.
Ele venceu o pleito mesmo sendo um ilustre desconhecido da grande maioria dos amazonenses.
Apenas isso já seria suficiente para mostrar a confiança que o povo daqui lhe creditou.
Mas o grau dessa confiança pode ser ressaltado na quantidade de votos que ele recebeu naquela eleição. Foram 686.999 votos, que representaram mais da metade dos eleitores do Amazonas.
Manaus nem se fala. A capital, onde mora mais da metade dos 4,2 milhões dos habitantes do Estado, foi ainda mais generosa com Bolsonaro. Isso porque a cidade lhe deu quase 66% dos votos de seus eleitores.
E o tempo está mostrando que aquela votação não foi acidental. Não. As pesquisas publicadas até aqui mostram que o presidente ainda tem a maioria dos votos dos amazonenses, sendo Manaus sua principal fortaleza eleitoral.
Seus eleitores lhe expressam lealdade, apesar de não terem visto uma grande obra de seu governo. Seu único projeto no Estado foi uma ponte de madeira na zona rural de São Gabriel da Cachoeira, cuja inauguração custou mais cara do a execução da pinguela . Mais que lealdade, a confiança que seus eleitores demostram é de fidelidade. Isso, de fiel, talvez de devotos.
Basta ver que essa fidelidade tolera promessas não cumpridas, como, por exemplo, a de concluir as obras da BR-319. A estrada piorou.
Chantagem
O problema é que Bolsonaro, agora, abusa dos votos, da confiança, da lealdade e da fidelidade do povo amazonense.
Abusa do povo do qual já faz parte por condição política. Bolsonaro é amazonense. A ALE-AM lhe deu o título.
Mas ele está boicotando a cidade que lhe deu uma votação consagradora e chantageando o estado mais leal a seu governo.
Faz isso quando segura R$ 1,1 bilhão de investimentos para Manaus , apenas por ter recebido fofoca de que o prefeito da cidade apareceu ao lado de seus adversários, embora seus aliados também estivessem tido la.
Faz isso com o Amazonas, quando cria insegurança aos investidores tirando as vantagens comparativas dos produtos fabricados na Zona Franca de Manaus por meio do decreto de redução do IPI .
Mostra sua ingratidão agora, quando mira artilharia contra o polo de bebidas , um dos maiores segmentos do Polo industrial de Manaus e o único do PIM a gerar empregos diretos no interior do Amazonas.
É exatamente isso: Bolsonaro agora avalia cortar os incentivos fiscais do polo de concentrados.
Essa é a indústria do PIM que compra o guaraná de Maués e região; que compra a cana de açúcar de Presidente Figueiredo.
Mais que isso. É o setor que compra o açaí que é produzido em todos os municípios amazonenses.
Enfim, Bolsonaro fragiliza a economia do Estado e mostra não ter nenhum compromisso com o único modelo de desenvolvimento regional do país que militares de espíritos elevados criaram para descentralizar as riquezas do Brasil.
E não contente em prejudicar o modelo, agora o presidente joga o Estado contra todas as unidades da Federação. Assim age, quando diz que a ZFM e os políticos do Amazonas tentam impedir o desenvolvimento do país por causa da renúncia fiscal que a ZFM recebe.
Mentira: a ZFM é apenas 8% do tal de renúncia tributária do governo. Além disso, é superavitária.
Ainda mais pior é que o presidente prejudica a população do Amazonas, tomando-a de refém com o propósito de retaliar seus adversários políticos regionais.
A Zona Franca de Manaus não é projeto de político. Ela é um projeto de País.
Não é possível esperar outra coisa de Bolsonaro, nem sequer espírito republicano, porque o espírito que lhe domina é o de porco.
Assim sendo, vê-se que o presidente tornou-se ingrato com todos aqueles que dele, em 2018, esperavam ao menos consideração. Ao contrário, em troca, entregou perseguição.
Porém, a ingratidão tem preço e o tempo poderá lhe cobrar a fatura.
Foto: Marcos Corrêa/PR