Após um “período sabático” na política nacional e local, o ex-ministro e ex-senador Alfredo Nascimento volta à cena e às ruas na véspera de começar a campanha eleitoral de 2022.
Presidente de Honra do Partido Liberal (PL), membro da Executiva Nacional e presidente estadual do PL, nessa entrevista exclusiva, concedida ao jornalista Neuton Côrrea, do BNC Amazonas , Alfredo abre o jogo sobre assuntos do passado, do presente e do futuro político dele, do Amazonas, e do Brasil.
Para começar, o ex-senador diz que o presidente Jair Bolsonaro (PL) é um democrata. Embora esteja sempre em confronto com os Poderes da República e com as instituições, para Alfredo Nascimento, Bolsonaro tem apenas “estilo próprio” de fazer política.
O dirigente nacional e regional do PL, ao responder os questionamentos sobre a Zona Franca e a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e sem fazer qualquer crítica à decisão de Bolsonaro, reconhece que o polo industrial do Amazonas sair prejudicado, mas ainda tem confiança que “tudo vai ser resolvido a seu tempo” e pela Justiça.
Outro ponto que toca fundo em Alfredo Nascimento é a BR-319 (Manaus-Porto Velho). O ex-ministro dos Transportes, por três vezes, conta todo o processo e trajetória para a recuperação da “Rodovia da Integração”, idealizada por ele entre 2003 e 2010.
Embora tenha havido esforços e empregado recursos no projeto, Nascimento afirma: “A BR-319 não foi feita até hoje e nem será feita depois”.
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O ex-ministro põe na conta dos interesses de empresários nacionais e de ambientalistas o entrave para a recuperação da rodovia que promete ligar o Amazonas a todo o país.
Ele relembra ainda o período que fez parte dos governos de Lula e Dilma, do PT.
Fala da candidatura ao governo do estado, em 2014, quando foi derrotado por ter sido abandonado pelo PT do Amazonas.
E ainda explica e justifica por que votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, embora o PL, que era da base aliada do governo, fechou questão contra a deposição da presidente da República.
“Ela não tinha mais condições de governar o país. Votei e não me arrependo. Votaria de novo”, declarou.
Eleições 2022
Na entrevista ao BNC, Alfredo Nascimento faz uma análise sobre o processo eleitoral no Brasil e no Amazonas.
Reafirma o apoio incondicional ao presidente Jair Bolsonaro que que vai pedir votos na eleição.
Avisa que quem for do PL e quiser apoiar outro candidato a presidente da República terá que deixar a legenda.
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Nas eleições locais, reitera a disposição e diálogo para apoiar a reeleição do governador Wilson Lima (União Brasil).
A seguir, a íntegra da entrevista concedida por Alfredo Nascimento
Neuton Corrêa – Esta semana, vários dirigentes partidários manifestaram preocupação com os recentes discursos e gestos do presidente Jair Bolsonaro, que por sinal é do seu partido, e a preocupação é que a fala dele possa se converter em um golpe na democracia. Como o senhor vê isso?
Alfredo Nascimento – Eu não entendo dessa forma. Primeiro porque não cabe se voltar ao passado. A democracia no nosso país é plena, ela tem que ser exercida de forma plena por todos nós, todos os dirigentes. O presidente Bolsonaro tem um estilo próprio.
Ele fala o que acha que tem que falar, ele defende determinadas teses.
Mas, em relação a mim, e ao meu partido, nós defendemos a democracia. Eu entendo que ele também defende.
Essa eleição que se aproxima vai ser muito polarizada, de muita briga, de muita confusão. Você tem, de um lado, a esquerda, de outro, a direita.
Essa candidatura do meio, que deveria surgir, não surgiu, não se fortaleceu, e tudo indica que nós teremos uma aproximação muito grande entre dois candidatos, uma rejeição muito grande aos dois em relação às pesquisas que se mostram na praça.
O presidente Bolsonaro, segundo as pesquisas nacionais, deu uma subida, se aproximou muito do ex-presidente Lula. E a tendência é que se equilibre.
Existe um jogo bem disputado. É uma eleição de dois turnos, a eleição vai para o segundo turno, e no segundo turno, é um ou outro.
Eu defendo a candidatura do Bolsonaro porque entendo que a gente precisa fazer política de forma muito objetiva, de forma direta, como faz o presidente Bolsonaro.
Todo mundo comete erros, todo mundo diz, às vezes, coisas que não deve dizer, mas cada um é responsável pelo que fala, pelo que diz.
Eu sou presidente e aqui eu conduzo o partido em apoio ao presidente da República, que é filiado ao meu partido. E isso tudo vai aclarar no processo político, essas colocações individualizadas hoje.
NC – O senhor é um político experiente e que tem uma vivência muito grande no Congresso Nacional, o que pensa da fala do presidente?
AN – Eu penso que o presidente é democrata e defendo isso. Não acredito, sob nenhuma hipótese, que a gente tenha problemas com a democracia, que a gente tenha a volta da ditadura ou coisa parecida. Tenho certeza de que o presidente pensa assim também.
NC – O senhor esteve recentemente com Bolsonaro, tratando de IPI e Zona Franca de Manaus, na expectativa de uma solução, e no dia seguinte houve um decreto presidencial ainda mais danoso à ZFM, como viu esse gesto dele?
AN – Eu saí com o entendimento de que isso seria resolvido colocando a Zona Franca de Manaus como exceção à regra que estava sendo estabelecida de redução de 25% do IPI.
Não foi o que aconteceu, mas, no segundo momento, se fez essa modificação para 35% e se manteve, reduzindo o problema, a redução em Manaus em 25%, mas ficou fora disso, atingindo drasticamente o polo de concentrados.
O presidente tem razão em reduzir esse IPI, porque é bom para o país inteiro, é bom para a economia.
O efeito disso é imediato. Ele vem naturalmente.
Mas, em relação à Zona Franca de Manaus, nós saímos prejudicados, especialmente em relação ao polo de concentrados.
O governador Wilson Lima e outros políticos entraram no Supremo Tribunal Federal para reestabelecer essa regra, porque a ZFM é uma zona de exceção, tratada na Constituição, e isso tem que ser preservado.
Então acho que isso está superado, porque a Justiça definiu.
NC – Na reunião, o senhor levou a experiência de ter sido superintendente da Zona Franca de Manaus, além de passar pela Sefaz, o que falou ao presidente?
AN – Dei o meu testemunho, dei a informação que eu acho que deveria dar. Participou da reunião o ministro Paulo Guedes [Economia]. Disse a eles que estou há 38 anos na política, que fui superintendente e que todo ano pré-eleitoral a gente tem problema dessa relação da Zona Franca de Manaus com o resto do país, o que sempre foi superado.
Eu sugeri que se fosse colocado um adendo ao decreto publicado, situando os produtos fabricados na ZFM, que tem PPB porque não existe similar nacional.
Agora, qual o raciocínio do governo? E todo governo pensa dessa forma. Quando você faz uma mexida no IPI e reduz 25%, se você não reduz o daqui, a vantagem comparativa aumenta em 25%. Então, do jeito que está, a ZFM saiu ganhando com essa decisão da Justiça. Acrescentou 25% a vantagem comparativa de IPI que a gente tinha com o resto do país.
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Então, nós saímos ganhando. O que precisava era ter se encontra um equilíbrio, salvaguarda, preservar isso e manter a vantagem comparativa de 100% em relação ao resto do país.
Eu dei meu testemunho e saí convencido de que seria resolvido. Isso foi resolvido nessa segunda fase, resolvido em tese, reduziu a diferença, era 25% baixou em mais 10%, mas ficou fora o polo de concentrados, que foi resolvido pela Justiça.
Mas acho que é uma questão mais de conversar, de esperar. Nós temos muita insegurança em relação à ZFM. Graças a Deus nós temos a proteção constitucional. Porque nós não temos, politicamente, tamanho para discutir com o resto do país e preservar os nossos interesses.
É bem verdade que a ZFM, eu fui superintendente no início da década de 90 e ZFM mudou muito pouco. A gente criou poucas alternativas e sempre dizem assim: vamos trocar a ZFM. Vamos acabar com isso e vamos começar outra coisa. Isso leva um tempo.
NC – Como é que se faz para substituir um faturamento de R$ 150 bilhões/ano?
Como é que se faz isso em seis meses, um ano? Isso leva tempo. Você pode pensar a ZFM para o resto do país, que preserva a floresta, que tem uma indústria que não é poluente, que gera emprego e nós resto do país.
A indústria da ZFM não é uma indústria de montagem. É um projeto exitoso, um projeto que deu certo. Nós temos uma fabricação. Se a gente pegar, por exemplo, o polo de duas rodas, você um índice de nacionalização até a mota de 250 cilindradas em 98% de nacionalização.
Então, verdadeiramente, se fabrica hoje e a concorrência com o resto país não existe.
Quando você prejudica a Zona Franca de Manaus, você está abrindo possibilidades para o concorrente chinês entrar no Brasil.
Então você não gera empregos aqui, nem no restante do país, vai exportar emprego.
NC – O Paulo Guedes estava naquela reunião?
AN – Estava.
NC – Ele é aquele capetinha, que fica…
AN – Eu saí com boa impressão dele, até porque diante dos argumentos meu, do próprio [Alfredo] Menezes, do governador Wilson Lima, nós saímos convencidos de que essa modificação seria feita.
Eu falei do exemplo da moto. A mota de 250 (cilindradas) ela tem nacionalização de quase 100%, até 250 cilindradas e a maior eles importam partes e peças e não tem essa nacionalização toda.
Nesse caso merecia um tratamento diferenciado. Agora, não tem concorrência com resto do país. Batava colocar um parágrafo, dizendo: excetuam-se dessa redução os produtos fabricados na ZFM, que tenha processo produtivo básico.
NC – O senhor falou isso para o presidente?
AN – Falei exatamente isso.
NC – Ele não compreendeu.
Não, todos falaram, mas saímos de lá e o assunto passou a ser conduzido pelo Ministério da Economia e acho que houve modificação, deve ter ocorrido essa modificação no Ministério da Economia.
Mas saímos de lá, e participou também o presidente da Fieam, convencidos de que estava resolvido o assunto.
Mas nós estamos sobrevivendo com isso. Está resolvido. Resolveu em parte o governo e a outra parte, que é o polo de concentrados, foi resgatado pela Justiça.
NC – Eu queria que o senhor fizesse uma memória de sua trajetória política? É possível fazer uma reflexão do que foi a política no início de sua trajetória e o que é hoje?
AN – Quando eu entrei na política 38 anos atrás… Eu já fui secretário municipal de Finanças, de Administração, eu já fui secretário estadual de Administração, de Fazenda, duas vezes, de Saúde, superintendente da ZFM, vice-governador, deputado federal, senador e ministro de estado três vezes.
A política hoje está inteiramente desmoralizada. As pessoas já não acreditam na política nem nos políticos e as pessoas têm razão por isso porque os piores exemplos são mostrados todos os dias.
Quando eu entrei nisso, há 38 anos, a política era uma atividade nobre. Eu me sentia orgulhoso de ser político. Hoje, já não enobrece ninguém participar da política porque as pessoas já não acreditam mais naquilo que a gente diz, porque a política hoje virou sinônimo de falar bonito, de enganar bem, e não cumprir aquilo que diz…
NC – …E a antipolítica também apareceu.
E a antipolítica apareceu de forma arrasadora. Eu acho, eu acho não, eu tenho certeza que a gente precisa modificar isso um pouco.
A gente precisa ter mais jovens na política, de envolvimento das mulheres.
A gente precisa fazer com que pessoas que hoje não participam participem de forma muito forte, enraizando, conhecendo, percebendo isso, para que a gente tenha alguma modificação. As pessoas dizem assim: não, eu não quero saber de política. Eu não faço política.
Eu aprendi nesses 38 anos que; ou a gente faz política ou fazem com a gente, e quando a pessoa se omite, alguém faz política por ela.
Então, a maior contribuição que eu acho que eu posso dar, depois de 38 anos, de ter sido tudo isso que eu fui, é incentivar as pessoas a participarem da política, para conhecer por dentro e promover as modificações.
Mas, infelizmente, hoje, você sente que as pessoas resistem muito à participação na política porque foi uma atividade destruída pelo tempo, pelas incoerências, pelas inconsistências, pela falta de verdade, muitas das vezes.
Então, eu quero até aproveitar esse espaço para dizer às pessoas que entrem na política, que não tenham medo de participar. Conheçam por dentro a política. E a gente só vai conseguir modificar as coisas do passado, se a gente tiver pessoas diferente, pessoas novas participando da política.
Eu tive covid, Neuton, de forma muito grave. Fui pra São Paulo, fiquei na UTI, semi-UTI.
Me despedi dos filhos, achei que tinha chegado minha hora, mas hora da gente é Deus que sabe.
E eu saí disso decidido a não participar mais do processo político. Mas eu acho que eu tenho contribuição a dar.
Eu conheço por dentro a política e a gente sabe o que é certo e o que é errado. Ninguém é perfeito. Todo mundo comete erros, mas a gente pode cometer mais acerto do que erro se a gente tiver consciência daquilo que está fazendo.
Então, eu tenho certeza de que a gente só consegue modificar a vida das pessoas para melhor se a gente tiver o envolvimento da sociedade na política, viver a política por dentro. Infelizmente, isso não acontece mais, porque a gente roda, roda, roda e acaba sendo tudo muito parecido.
Então, a maior contribuição que eu posso dar como presidente do meu partido, como um partido grande, meu partido é hoje o maior partido do país, é incentivar as pessoas a participarem disso, conhecerem isso.
Eu estou conversando com muita gente jovem. Alguns jovens já estão participando do processo político para conhecer por dentro.
Eu estou muito feliz com o que estou vendo nesses jovens, porque a curiosidade deles, a diferença de visão que eles têm da minha visão. Nós já temos uma idade mais na frente. Então, quem tem menos idade do que a gente, tem uma outra linguagem, uma forma de ver diferente. Então, só por esse caminho é que a gente consegue contribuir com a política para melhorar a vida das pessoas.
NC – O senhor está pré-candidato a deputado federal, como o senhor vai às ruas com esse ânimo pedir votos?
AN – Eu ganhei um ânimo novo, porque eu comecei a enxergar isso de forma diferente.
Se eu estivesse com a visão de antes da covid, eu teria desistido até de participar do processo político. Mas eu comecei a enxergar que eu posso…
NC – O que o senhor pensava antes?
AN – Eu pensava em sair da política porque eu já havia sido tudo, não precisava mais participar mais disso. E eu resolvi participar porque sei que posso contribuir, quero rejuvenescer meu partido. É claro que você não pode fazer isso do dia pra noite. Mas o fato de eu mesmo estar incentivando jovens e mulheres a participarem do processo político, eu estou dando atenção especial a isso, vai fazer meu próprio partido tenha pessoas dentro do partido posse a enxergar de forma diferente.
NC – Qual o senhor acha que foi o seu maior erro na política?
AN – Meu maior erro foi ter saído de Manaus em 2002 para ser ministro [Transportes]. Eu exercia o melhor cargo do mundo para se realizar intimamente, com a possibilidade de ajudar as pessoas, que é ser prefeito.
O melhor cargo público é o de prefeito quando se tem dedicação. E eu fiz uma administração muito voltada para as pessoas, de muito cuidado. Eu saí disso para ser ministro, só que as pessoas nunca me perdoaram em Manaus.
NC – O senhor sempre é cobrado.
AN – Sempre.
As pessoas dizem: Por que você saiu daqui? Ah, você voltou de Brasília.
Então, esse foi um erro que cometi porque sou um político tupiniquim. Eu saí da prefeitura com aprovação de 94.7%. Eu fui escolhido, pela aprovação, fui duas vezes o melhor prefeito do país. Por quê? Porque eu vivia na rua, acordava cedo, gostava de fazer as coisas pelas pessoas.
E saí disso para fazer algo que era desconhecido para mim, apesar de gostar do desconhecido.
Passado um mês, imaginei: meu Deus, o que eu vim fazer aqui? Mas a vida é assim: a gente comete erros e paga por eles.
NC – Mas o senhor deu um salto muito grande. Da história política amazonense o senhor saiu de uma arena regional e passou a ter uma função de projeção nacional, de ser ministro…
AN – Pois é. É isso. É esse erro que a gente comete porque acaba massageando o ego da gente. E a gente não tem noção do que é aquilo.
Por que eu digo que o cargo de prefeito é gostoso de ser exercido? Porque você, se você for um cara que trabalha, você dá uma ordem e vai checar se ela foi cumprida. Você vai executar uma tarefa você vai acompanhar o começo, o meio e o fim. Como ministro, você só descobre dois anos depois que a obra não saiu do lugar.
NC A BR-319, por exemplo?
AN – Eu pequei em relação à BR-319 porque não soube, não dei muita atenção sobre o que disseram dela.
Quando assumi o ministério, a BR-319 estava interditada, não passava carro, estava totalmente fechada. Eu descobri que a parte do meio precisava de licenciamento ambiental, que era algo que não dependia de mim.
Foto: BNC Amazonas
Assim, eu trabalhei nos extremos e faltou a parte do meio. Se você for a Humaitá [exemplo], duzentos e poucos quilômetros, ela (agora) está ligada ao restante do país, asfaltada, bonita, com ponte sobre o rio Madeira de mil e cem metros.
Como eu não divulguei devidamente, politicamente aproveitaram o fato de não ter sido feito a parte do meio para dizer: você não fez a 319. Mas eu reabri a 319, fiz os extremos, coloquei linha de ônibus de Manaus para Porto Velho, para Humaitá, para Lábrea e eu não dei muita atenção para isso.
Recentemente, as pessoas diziam para mim: por que você é contra a 319? Olha como desvirtuam as coisas: eu saí do Ministério há 12 anos e não foi colocada uma única gota de asfalto na BR-319. Já são passados três governos.
NC – Só se coloca tapa buracos, recupera…
AN – Só recuperação e continua sem asfalto. Por que isso?
Porque a BR-19 eu não tinha noção do tamanho que ela representa para o país, da encrenca que é a 319. Não vai ser feita agora, não vai ser feita depois.
Por que isso?
Primeiro: melhora a competitividade dos produtos da ZFM. Então, o empresariado de fora é todo contra isso. Bancam qualquer coisa para que ela não aconteça.
Os órgãos ambientais todos manipulados para serem contra isso. Injunção internacional para isso. Porque isso: vão fazer a 319, vão devastar a Amazônia. Ledo engano, papo furado. As pessoas não sabem nem onde é isso. Você não vai derrubar uma única árvore para derrubar a parte do meio. Você só vai colocar o asfalto lá.
NC – É, mas tem a atividade humana facilitada pela 319…
AN – Sim, claro que vai. Mas não pra invadir. Vou lhe dizer porque: essa parte central ela é num alagado. Durante quatro meses, ela fica, os extremos dela, debaixo d’água. Então, você tem que elevar o graide, a altura da rodovia. Esse trecho é uma obra muito cara, por conta dessa movimentação de terra que é muito alta. Têm locais que você vai ter um metro e meio de altura para que a água não invada.
E as pessoas dizem: Ah! Vão invadir, vão tomar conta. Vão tomar conta nada. Aquilo já foi asfaltado. Além do mais, a madeira que tá lá, que poderiam derrubar, ela não tem valor nem viabilidade porque passa quatro meses n’água.
Eu sugeri transformar em rodovia-parque, ser administrada pelo Exército. Eu tendei de todo jeito, mas não consegui porque era uma coisa que não dependia de mim. O ministro da infraestrutura não tem como autorizar fazer porque não depende dele autorização pra fazer. Ele pode executar a obra.
E essa parte do meio, até hoje, nada foi feito. E está bem pior hoje, bem pior.
Eu raciocinei assim: eu vou trabalhar onde eu não preciso da licença ambiental e vou brigar por isso. Aí, pediram estudo de impacto ambiental. Contratei três estudos ambientais e foram reprovados.
E quando resolverem isso, o Ministério Público vai entrar contra e vai derrubar a decisão de governo de executar a obra. Hoje, uma obra muito cara que eu não sei se há interesse, como existiu na minha época, de fazer o investimento aqui. Porque essa obra deve custar mais de R$ 2 bilhões em função das dificuldades de se fazer essa obra nessa parte central.
NC – Aí, lá vem de novo o argumento: Zona Franca de Manaus…
AN – Zona Franca de Manaus. Até balseiros fizeram confusão pra rodovia não sair. Eu nunca vi nada.
Eu me desentendi com todos os ministros, todos. O (Carlos) Minc foi um que eu tive uma confusão feia com ele. Mas não consegui, os presidentes não conseguiram e não vão fazer a 319, infelizmente.
Porque não é somente força de vontade, não. É preciso juntar tudo e todos para que essa obra aconteça. E, como vive isso por dentro, é muito difícil de ser feita.
Até o trecho de 50 quilômetros que anunciaram próximo de Manaus, vai lá olhar. Não tem nada feito.
NC: Faça uma memória sobre do seu período no governo PT: sua amizade com Lula, sua participação no governo Dilma, a sua saída do governo numa situação que o senhor revertou depois, mas que foi na faxina da Dilma. E o seu voto no impeachment da presidente Dilma Rousseff.
AN – Olha, a vida da gente é feita de etapas. Aquele momento do PT eu era, então, prefeito de Manaus e apoiei o ex-presidente Lula quando ele tinha pouco mais de 20% das intenções de votos.
NC – O senhor foi o primeiro prefeito de capital a apoiar o presidente Lula.
AN – Fui o primeiro prefeito de capital a apoiar o presidente Lula porque eu entendia que a gente vivia o governo de direita e tinha na esquerda, pelo que era colocado, a opção de resolver os problemas do país.
Acho que o Lula foi um bom presidente, fez um primeiro mandato bom e o maior erro que ele cometeu foi escolher a Dilma [Rousseff] para ser candidata a presidente da República. Não tinha traquejo político, não tinha como fazer as coisas funcionarem politicamente. A nossa Constituição foi pensada parlamentarista e foi transformada em arremedo de presidencialismo.
Então, você tem um presidente da República que depende muito do Congresso.
O erro cometido pelo presidente Bolsonaro foi imaginar que poderia governar sem o Congresso. As pessoas criticam hoje ele porque se aproximou dos partidos de centro, para formar maioria pra poder governar.
Ele terá, portanto, se eleito, um governo diferente, porque terá um Congresso dele de um presidencialismo que tenha obrigatoriamente uma boa relação com o Congresso.
Então, eu participei do governo do presidente Lula e fui ministro duas vezes, fui candidato ao governo, perdi a eleição porque o PT se afastou e me deixou de lado. E voltei pra assumir meu cargo de senador e fui convidado pra se ser ministro, de novo.
Aí, o ego da gente, quando a gente erra. Eu não precisava ser ministro, eu não precisava ser ministro de novo porque eu já tinha sido ministro duas vezes.
Mas a situação foi colocada de tal forma que se eu não aceitasse ser o ministro o partido não teria o Ministério que tinha antes.
E os argumentos da presidenta Dilma era que eu daria continuidade aquilo que o governo queria e eu conhecia. Mas foi um erro. Eu encontrei erros que foram cometidos no período que eu não estava no ministério, levei isso a presidente Dilma e fui orientado a consertar. E acabei mexendo numa casa de caba, mexendo em interesses dos Cachoeira, do ex-senador Demóstenes, da Delta, de não sei o quê.
Eu mexi muna coisa que não era pra mexer. Acabei me prejudicando. Teve uma denúncia, porque eu não podia ter praticado uma coisa se eu não estava lá. Mas quando eu argumentava, piorava.
Passado esse período eu fui inocentado pelo Polícia Federal, Ministério Público e Supremo Tribunal Federal. Eu tenho atestado de bons antecedentes. E participei de um governo extremamente tumultuado em relação a denúncias e uma série de coisas.
Eu tenho minha consciência tranquila. Isso me deixou muito abatido. Me deixou muito abalado porque eu acho que minha honra vale muito mais do que qualquer coisa, mas eu suportei isso.
Impeachment de Dilma Rousseff
Isso passou um pouco, eu não fui candidato ao Senado pra minha reeleição, porque tinha essa denúncia. Fui candidato a deputado federal e me elegi. E nós tínhamos (…) Eu era vice-presidente do partido e me tornei presidente do partido.
Nós fizemos uma votação e o partido fechou questão. Eu perdi, mesmo sendo presidente do partido, eu fui minoria, porque o partido era da base do governo do PT. Mas eu era contra.
E nós tivemos aquela votação. E eu não queria votar no impeachment. Eu sabia que eu tinha que votar no impeachment porque presidente, então, não tinha mais nenhuma condição de governar o país, não tinha mais sustentabilidade. Estava muito ruim e que eu não sabia como agir porque o partido tinha fechado questão. Nós éramos 41 deputados e, como eu, presidente do partido, iria votar contra o que nós decidimos? Eu pensei muito, passei uns dois dias conversando. O Lula também me procurou, me ligou.
NC – A Dilma também lhe ligou.
AN – Não, o Lula. Porque eu também não estava falando. Eu chegava no Amazonas tinha carro na frente do meu condomínio dizendo: vota pelo impeachment. Minha família toda, meus filhos, minha mulher, meus amigos. E eu dizia: eu não vou votar isso não. E me senti na obrigação de renunciar o meu cargo de presidente nacional do partido porque eu ia tomar uma decisão diferente daquela que o partido tomou. E, quando você fecha questão, você pode perder o mandato, se desobedecer à ordem do partido.
Mas, como eu renunciei, do meu voto pra frente, todos votaram pelo impeachment.
NC – O que você pensa disso hoje?
AN – Eu penso que fiz certo porque a presidente Dilma não tinha mais nenhuma condição de governabilidade. Não tinha mais nenhuma relação com o Congresso, com ninguém. E não se conduz o país sem conversar.
NC – Sobre o mérito da denúncia, a pedalada?
AN – Independentemente do mérito, um procedimento desses, para mim, vejo como condição ou não de governabilidade. Eu votaria de novo do mesmo jeito. Isso me deu um prejuízo danado político, mas fiz o que minha consciência me mandava fazer.
NC – Para as eleições deste ano, o partido chegou a ser contatado por Lula, mas o que pesou ficar com Bolsonaro? Mas, ainda assim, nos bastidores se percebe sinais para todos os lados em caso da eleição de Lula, por exemplo.
AN – O nosso partido é o maior do país, é o partido do presidente da República. Nós vamos nos manter nessa linha, vamos apoiar o presidente. Nosso objetivo é que ele ganhe a eleição. Se não ganhar a eleição, vamos estar diante de um novo quadro. O que vai acontecer? Eu não sei. Só sei que nós seremos, qualquer que seja o resultado da eleição, o maior partido do país.
NC – O Valdemar da Costa Neto [presidente nacional PL] trabalha a hipótese de não eleição de Bolsonaro?
AN: Não, o partido inteiro trabalha com a possiblidade de eleição do presidente.
NC – Como é que senhor vai pedir voto para o Bolsonaro, que faz muita resistência à ZFM e que, aqui no Amazonas, só tem uma obra, uma ponte de madeira em São Gabriel da Cachoeira? Ou o senhor não vai falar nele?
AN – Vou! Tenho falado. Inclusive afastei a possibilidade de que quem é de esquerda continuar no partido. Se eu tenho uma missão, eu entro nessa missão e vou cumpri-la.
O presidente Bolsonaro tem uma característica diferente dos outros. Ele é muito autêntico, é objetivo, e é um pouco da política que a gente precisa, que se fale a verdade, que cometa falhas, acertos. E essa política praticada por ele é a que defende boa parte da população.
E aqui, também, ele tem seus seguidores, me junto a eles para pedir votos.
Eu acho que o episódio da Zona Franca de Manaus é um episódio que ocorre em todo ano eleitoral. A gente tem garantias constitucionais. Não consigo entender por que se resiste a isso, porque lá na frente acaba caindo, na Justiça.
Eu eu estou bem à vontade para pedir votos porque eu tenho linha, objetivo. Eu sou um homem de partido.
Meu partido tem um candidato a Presidência da República e é esse candidatou a seguir. Eu posso concordar com coisas que ele faz, eu posso discordar, mas eu sou um homem de partido e vou seguir o que nós acordamos no partido.
Eu sou presidente estadual do partido e nós temos um mandato, a gente tem autonomia. E não existe verticalizarão. Ninguém é obrigado a seguir o presidente Bolsonaro. Nós fizemos, dentro do partido, um acordo de cavalheiro. Aqueles que não se alinharem aí assim. Aqueles que não quiseram seguir isso sairão do partido.
Não é salutar qualquer candidato a presidente estar filiado a um partido e chegar a um estado e o partido estar apoiando um adversário dele. Isso é meio ilógico.
Mas estou bem à vontade para pedir voto.
NC – O PL vai pedir o posto de Marcelo Ramos [Vice-presidente da Câmara]?
AN – Isso é uma decisão do presidente do partido, eu não falei com ele sobre, sei que o Valdemar tem alguma relação com o Marcelo, que enveredou por um caminho diferente e não podia continuar no partido. Ele [Marcelo] tem uma carta liberando a sua saída, que é meio controversa, porque já existe posições do Supremo que lá atrás defendeu a permanência, mas o cargo é do partido.
NC – Você sugere ao Marcelo renunciar?
NA – Não, isso é algo de foro íntimo, ele é quem tem que tomar a decisão. Mas o estilo do Marcelo é de confronto, ele não vai renunciar, ele se preparou para isso, deve entender que essa briga é até positiva para ele, mas no fundo o cargo é do partido.
NC – Qual sua avaliação do quadro eleitoral da disputa de pré-campanha local?
AN – Eu acho que Wilson tem boas chances de se reeleger.
NC – O senhor vai apoiá-lo?
AN – O entendimento está bem avançado. Conversei com ele, com David [Almeida]. Se esse entendimento ocorrer, é o David quem vai anunciar. Se o entendimento ocorrer, como meu partido tem certo tamanho, o meu candidato nessa composição é Sabá Reis, é o nome que eu acho mais preparado para auxiliar nessa ou em outra composição que o David resolva fazer.
Mas eu sei que os entendimentos estão bem avançados. O David deve tomar uma posição nos últimos dias. E eu vou estar junto nisso, desde que a gente mantenha o que foi conversado e tem que ter participação nessa chapa majoritária. E nós vamos conversar. Estamos conversando bem, está evoluindo legal.
As coisas estão bem encaminhadas. É uma decisão entre o Wilson e o David, mas que posso concordar ou não, a minha intenção é concordar com isso.
Estou contando que essa composição, se existir com Wilson ou com quem quer que seja, tenha o Sabá nesse processo.
NC – Como o senhor tem sido recebido nas ruas?
AN – Comecei minha campanha na semana passada. Vou entrar para valer nisso, acho que tenho uma boa possibilidade de obter êxito nessa eleição. Sou muito bem recebido aqui [Manaus] e no interior. A perspectiva é boa, apesar de ser político, sou muito bem recebido aonde chego.
Veja aqui a entrevista
VIDEO
Foto: BNC Amazonas