Neuton Corrêa , da Redação
Estudioso da Amazônia há 54 anos e criador da expressão e do conceito biodiversidade, o biólogo e cientista norte-americano Thomas Lovejoy, de 78 anos, sugeriu ontem que a região resista à pressão que tenta reabrir a BR-319 (Amazonas-Rondônia).
A rodovia, inaugurada na década de 70 do século 20, interligando duas capitais, Manaus e Porto Velho, e diversas cidades, e estas ao resto do país, atualmente encontra-se intrafegável em mais da metade dos seus 885 quilômetros.
“As rodovias deveriam ser nossa última escolha neste momento. A primeira escolha para transporte deveriam ser os rios, que já estão disponíveis para prover o transporte”, disse ele.
Lovejoy foi o autor da conferência de abertura do 2º Simpósio Internacional sobre Gestão Ambiental e Controle de Contas Públicas, promovido pelo Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM).
Leia mais
Rios como estradas
Sustentando a ideia, o cientista disse saber da pressão pela reabertura da estrada, mas defendeu os rios como estradas ecológicas.
“Então, se há necessidade de transporte, devemos usar os rios da Amazônia. E com certeza devemos desenvolver os rios como estradas ecológicas da Amazônia. É muito importante desenvolver os rios como estradas ou estradas secundárias, e isso já tem sido feito, em parte, com o gasoduto”.
Ainda sobre o potencial hídrico da região, Lovejoy defendeu como produtos sustentáveis o manejo e criação dos peixes pirarucu e tambaquis, além de pequenas espécies encontradas no rio Negro e que servem no mercado mundial de peixes ornamentais.
Sobre isso, ele provocou a plateia, repleta de autoridades, como o governador Wilson Lima (PSC) e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), falando da necessidade de criação de projetos para exploração dos recursos disponíveis nos rios.
“Precisamos de projetos para serem desenvolvidos que protejam o nível das águas na Amazônia”.
Fronteira protegida por indígenas
Sobre as fronteiras, sem citar o governo do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), que tem abordado o assunto, o cientista defendeu que elas sejam protegidas pelas populações indígenas.
E indagou:
“O que melhor seria do que ter uma área indígena para protegê-las? Construir estrada para dividir fronteiras ou permitir que traficantes de drogas estejam na área?”.
Leia mais
Arthur diz em evento do TCE-AM que meio ambiente depende da ZFM
Defesa da ZFM, cobrança da Suframa
Lovejoy defendeu também a Zona Franca de Manaus (ZFM0 como modelo de preservação ambiental.
“Com todo desenvolvimento gerado pela ZFM, com certeza faz com o que o Amazonas esteja mais desenvolvido e mais sustentável”.
Mas, ao falar de conhecimento sobre a região, cutucou a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), cobrando que a autarquia apoie instituições de pesquisa e fomento à pesquisa sobre a Amazônia.
“Temos o Inpa [Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia], a Ufam [Universidade Federal do Amazonas], a Fapeam [Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas], são coisas muito boas que temos no Amazonas. Talvez essas sejam entidades que a Suframa tenha que dar suporte”.
Leia mais
Bolsonaro desidrata Suframa e lima BR-319 do orçamento 2020
Amazonas como líder mundial
O cientista Thomas Lovejoy encerrou sua palestra fazendo uma provocação ao estado do Amazonas, destacado por ele como uma das partes intocáveis da Amazônia e com pouco desflorestamentos.
Com base nisso, ele disse:
“O Amazonas está em condição de liderar essa posição de defesa da floresta, liderando outros países da Amazônia e que, com certeza, nesse sentido, o Amazonas seria o representante-chefe do desenvolvimento desse papel importante”.
Leia mais
Outras palestras
O evento tem continuidade nesta sexta-feira, dia 18, com a presença do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, que palestra sobre meio ambiente, desenvolvimento econômico e código florestal.
O simpósio também contará com outros 20 palestrantes, entre eles o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), José Mucio Monteiro Filho, e o ministro do TCU Benjamin Zymler, além de representantes da Universidade Tsinghua, da China, do Tribunal de Contas Europeu e autoridades do controle externo de Moçambique.
Leia mais
Mário de Mello é eleito presidente do TCE-AM
Futuro presidente garante simpósio
Em sua fala, o presidente eleito do TCE-AM, Mário de Mello, acolheu os participantes do evento e disse que, em janeiro de 2020, primeiro mês de seu mandato, já começará a trabalhar na organização da terceira edição do simpósio ambiental internacional.
Foto: /TCE-AM