Cientistas do Inpa dizem à “Science” que Bolsonaro põe brasileiro em risco

Cientistas apontam que o presidente nega repetidamente a gravidade do coronavírus

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Iram Alfaia, de Brasília

Publicado em: 21/04/2020 às 04:00 | Atualizado em: 20/04/2020 às 21:19

A prestigiada revista Science, principal publicação cientifica dos Estados Unidos, divulgou carta de críticas de pesquisadores do Inpa a Jair Bolsonaro.

Conforme o texto, os cientistas Lucas Ferrante e Philip Fearnside apontam que o presidente da República nega repetidamente a gravidade do coronavírus (covid-19).

Além disso, Bolsonaro transmite informações enganosas e “mensagens mistas sobre como responder, defendendo o uso de hidroxicloroquina e o fim da quarentena”.

Ferrante e Fearnside são atuantes no Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), sediado em Manaus.

“Ignorando as avaliações otimistas de Bolsonaro, o sistema de saúde pública no estado do Amazonas já entrou em colapso, de acordo com uma declaração do prefeito da capital do estado”, destacaram.

 

Indígenas e tradicionais

Os cientistas afirmam ainda que Bolsonaro deve rever suas posições e tomar medidas de proteção a populações vulneráveis. Por exemplo, povos indígenas e tradicionais.

“Os grupos de risco padrão para covid-19 são idosos e com comorbidades, mas no Brasil faz sentido expandir a designação de grupo de risco para incluir povos indígenas”.

Eles lembram que, historicamente, os agentes infecciosos são os fatores mais poderosos para dizimar indígenas da América do Sul.

“O covid-19 representa uma ameaça particular para essas comunidades, uma vez que o governo federal do Brasil marginalizou e negligenciou os povos indígenas, mesmo quando seus direitos são garantidos por lei ou por acordos internacionais”.

Os cientistas destacam que muitas comunidades isoladas carecem de postos médicos, profissionais e medicamentos básicos.

Além disso, não há ventiladores que seriam necessários para tratar um surto de covid-19.

“O governo Bolsonaro demitiu recentemente 8 mil médicos cubanos que atendiam a pequenas comunidades no interior do país, o que foi especialmente prejudicial às comunidades indígenas e tradicionais da região amazônica”.

 

Missionários na Amazônia

Eles também criticaram o governo por permitir missionários evangélicos de entrarem em contato com grupos indígenas isolados.

Como forma de proteção, os pesquisadores defenderam o imediato isolamento das áreas.

Lembraram que o primeiro caso indígena da doença foi confirmado em 1º de abril.

“De acordo com as diretrizes internacionais, o governo brasileiro deve garantir isolamento e monitoramento nas áreas indígenas, bem como para todos aqueles que têm contato com elas”.

Conforme o documento dos pesquisadores, a proteção a povos indígenas e tradicionais também protegerá a saúde pública de todos.

 

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Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República