Cientistas e ONGs contestam guru ambiental de Bolsonaro

Publicado em: 24/07/2019 às 07:06 | Atualizado em: 24/07/2019 às 07:06

Por Iram Alfaia, de Brasília

 

A narrativa do presidente Jair Bolsonaro dando conta de que o “Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente no mundo” tem sido feita com certa frequência por ele e seus apoiadores.

Quem orienta o presidente nesse sentido é o pesquisador da Embrapa Evaristo Eduardo de Miranda para quem os produtores rurais são os responsáveis por manter uma cobertura vegetal no país superior a 60%.

Logicamente, suas ideias ganharam apoio das entidades do agronegócio que financiaram o livro de sua autoria “Tons de Verde”.

No estudo, o pesquisador da Embrapa diz que as matas nativas nas propriedades privadas somam 218 milhões de hectares e representam 25% do território do Brasil, o que demonstra que o produtor rural é o que mais preserva. Ele tomou como base para o estudo o Cadastro Ambiental Rural (CAR), exigido pelo Código Florestal.

 

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Um mapeamento feito por ONGs, universidade e empresas de tecnologia, segundo reportagem de Mariana Schreiber, da BBC News Brasil, revela que 20% da floresta que existia em propriedades privadas foi desmatada ou degradada entre 1985 e 2017. “No mesmo período, a perda de mata nativa em unidades de conservação e terras indígenas foi inferior a 1%, enquanto nas demais áreas públicas ficou abaixo de 5%”, diz o texto da reportagem.

Com o polêmico debate sobre o crescimento do desmatamento na Amazônia, cientistas aumentaram a carga contra o mentor de Bolsonaro, que também é orientador do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

 

Há controvérsia

O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Raoni Rajão diz que o índice de cobertura vegetal superior a 60% não atesta, isoladamente, que o Brasil seja líder em preservação.

“Esse número não é alvo de controvérsia. O uso que é feito dele é que é controverso. A foto pode ser boa, mas o filme é muito ruim. O país está perdendo rapidamente sua riqueza (florestal)”, diz Raoni Rajão à BBC Brasil.

“O que faz o Brasil ter 60% de floresta, e não 30% ou 40%, é que a entrada (mais intensificada) na Amazônia foi a partir da década de 70. Se for ver o percentual de floresta que tem em São Paulo, Santa Catarina, Paraná, vai ver que índice é menor que na França, na Alemanha”, argumentou o cientista.

 

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Observatório do Clima e o Instituto Socioambiental acompanharam uma palestra de 25 minutos de Evaristo de Miranda e destacaram algumas de suas ideias.

“Nós temos atualmente 1.871 unidades de conservação incluindo APAs [Área de Proteção Ambiental] [154 milhões de hectares]. Áreas indígenas, terras indígenas têm exatamente 600, agora, 14% do Brasil [117 milhões de hectares]. Então 30% do Brasil é área protegida, cadastrada, mapeada, definida, pronto, consagrada. Isso está fora da produção.”, disse ele

Segundo as organizações a situação não é bem essa: “Os dados do SNUC (Sistema Nacional de unidades de Conservação) mostram que, contando unidades de conservação e terras indígenas, o Brasil tem 259 milhões de hectares de áreas protegidas. Só que esse número é inflado pela inclusão das APAs (Áreas de Proteção Ambiental), uma categoria de unidade de conservação que permite propriedades privadas e quase todo tipo de atividade econômica, inclusive com desmatamento. Por exemplo, 80% do território do DF está numa APA. Portanto, não dá para dizer que a totalidade desse território está fora de produção.”.

 

Foto: Divulgação/Abapa

 

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