Iram Alfaia , de Brasília
O senador Plínio Valério, do PSDB do Amazonas, vem cobrando semanalmente do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que leia seu requerimento pedindo a instalação de uma CPI (comissão parlamentar de inquérito) para investigar às ongs (organizações não governamentais) presentes na Amazônia.
A leitura em plenário abre contagem de prazo para a formação da CPI.
Sem sucesso até o momento, o senador vem fazendo discursos duros contra as ongs. Porém, ao elaborar suas emendas ao orçamento da União para 2020, Valério destinou R$ 250 mil ao Instituto Mamirauá, organização social com sede no município de Tefé, a 523 quilômetros de Manaus.
Cada parlamentar amazonense tem direito a indicar, individualmente, no máximo 25 emendas, no valor total de R$ 15,9 milhões.
“Sobre ongs, sempre repito que não é minha intenção demonizar ninguém. Destinei emendas para quem me procurou e quer trabalhar. Olhei para pessoas que precisam ser ajudadas”, disse o senador ao BNC Amazonas .
O instituto afirmou que vai usar os recursos para apresentar soluções técnicas e de gestão para acesso à agua potável e ao saneamento para comunidades ribeirinhas da Amazônia.
A expectativa, segundo a ong, é alcançar 12 mil pessoas, com foco na melhoria de saúde de crianças de até 5 anos.
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Desconfiança indígena
O senador, que vende sua imagem como caboclo do Amazonas, também não possui um discurso afinado com o movimento indígena na região que é crítico ao governo do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), por ele ser favorável a exploração da mineração nas suas terras.
Valério é simpático ao projeto do governo e diz que já há tecnologia para permitir a exploração sem depredar o meio ambiente.
Verba para tucanos e tenharins
Porém, as divergências com os indígenas não foram empecilhos para que o senador destinasse, em suas emendas, R$ 950 mil para atender as aldeias Taracuá, Balaio e Marmelo, as duas primeiras de etnia tucana e a última, tenharim.
O dinheiro é para ser aplicado na construção de pavilhão para confecção de artesanatos.
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Terminal na terrinha
Eirunepé, a cidade natal do senador, a 1.160 quilômetros da capital, foi o município mais contemplado com recursos.
O senador destinou emenda de R$ 2,5 milhões para a construção de terminal de passageiros no aeródromo da cidade.
“Atualmente, o aeroporto conta com uma pequena e antiga sala de embarque, que não comporta a demanda atual. Houve melhorias nas pistas e na sinalização, porém voos mais frequentes e com aeronaves maiores só serão possíveis após a construção do terminal”, disse.
Segundo ele, a melhoria é reivindicação da região, carente de transporte. “As obras vão ser feitas pela Aeronáutica. Como disse, não tenho base no interior nem sou aliado de prefeitos. O grosso dos meus votos foi em Manaus”, afirmou.
Valério ainda destinou mais R$ 400 mil para a construção de alojamento para estudantes no campus do Ifam (instituto federal) no município.
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Saúde básica leva mais
Na área de saúde, o senador alocou R$ 6,8 milhões para diversos municípios na área de atenção básica à saúde; ao navio da Marinha que presta serviços às populações ribeirinhas; média e alta complexidade; equipamentos odontológicos e estruturação da Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam).
“Nossa intenção foi não deixar nenhum município de fora, ajudar um pouco cada um, embora eu não tenha compromisso com base. Não olhei o município que votou ou não em mim. Minha intenção foi ajudar a todos”.
Além dessa verba, o senador fez uma emenda de R$ 600 mil para implementação de infraestrutura básica nos municípios do programa Calha Norte.
“Ao final de várias semanas discutindo projetos com prefeitos, secretários, lideranças indígenas, de pescadores e órgãos de defesa da mulher, criança e adolescentes, conseguimos fechar o financiamento de projetos nos 62 municípios do Amazonas”, disse.
Outras áreas contempladas
O senador ainda elaborou emendas para as áreas de segurança, educação, esporte, assistência social, cultura, agricultura familiar, Embrapa e Rede Sarah.
“Questionam por que mandamos um pouco de recursos para a Sarah, fora do Amazonas. Somos muito procurados por amazonenses que precisam dos serviços da rede e nada mais justo do que ajudá-la, com pouco, mas ajuda”.
ERRAMOS _Atualização às 12h15 de 12.11.2019
Não é correta a informação do BNC Amazonas de que a CPI proposta pelo senador Plínio Valério ainda não foi lida em plenário.
“O requerimento do senador de criação da CPI das ongs/Fundo Amazônia foi lido na semana passada no plenário pelo senador Davi Alcolumbre [presidente do Senado]. Sendo assim, foi liberada para ser instalada. Agora o próximo passo é os partidos indicarem os membros. Com 40% das indicações de 11 titulares e 8 suplentes, a CPI já pode ser instalada”, informou a assessoria do senador.
Afirma ainda que não vê contradição entre a CPI e o fato de Valério ter destinado emendas para ongs indígenas. “O senador tem dito que seu objetivo não é demonizar quem trabalha de verdade. E que quer ajudar quem quer trabalhar, no caso das emendas destinadas”.
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado