Dallagnol deve R$ 135 mil a Lula por ‘show do PowerPoint’

Indenização imposta ao ex-procurador é símbolo da derrocada da Lava Jato e da reabilitação política de Lula.

Da Redação do BNC Amazonas 

Publicado em: 30/07/2025 às 11:48 | Atualizado em: 30/07/2025 às 11:48

A Justiça de São Paulo determinou que o ex-procurador da República Deltan Dallagnol, um dos rostos mais emblemáticos da extinta operação Lava Jato, conduzida pelo ex-juiz Sérgio Moro, julgado parcial em suas decisões, pague R$ 135.416,88 ao presidente Lula da Silva (PT), como indenização por danos morais.

A decisão marca o desfecho de um dos episódios mais controversos do combate à corrupção nos últimos anos e consolida judicialmente o entendimento de que Dallagnol abusou do cargo ao tentar transformar Lula em símbolo de um esquema criminoso, antes mesmo de qualquer sentença judicial.

A condenação tem origem na famosa apresentação em PowerPoint realizada em 2016, quando Dallagnol, então coordenador da força-tarefa da Lava Jato de Moro em Curitiba, promoveu uma entrevista à imprensa para anunciar denúncia contra Lula pelo caso do triplex do Guarujá.

No slide exibido ao país inteiro, o nome do petista aparecia ao centro de uma teia de palavras como “propinocracia”, “governabilidade corrompida” e “grande general do petrolão”.

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De herói a cassado

Embora o valor da indenização possa parecer pequeno frente ao impacto midiático da apresentação, a ordem de pagamento, atualizada com juros e correção monetária, reforça a virada institucional vivida nos últimos anos.

Se antes Dallagnol era celebrado como herói nacional por setores do Judiciário, da imprensa e da classe média, agora responde não apenas por este caso, mas enfrenta também a cassação de seu mandato como deputado federal e a perda de capital político.

A decisão foi tomada pelo juiz Carlo Brito Melfi, da 5ª Vara Cível de São Bernardo do Campo, que estipulou o prazo de 15 dias para o pagamento voluntário, sob pena de multa.

O valor inicial de R$ 75 mil foi fixado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2022, sendo mantido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2024.

Vitimismo

Nas redes sociais, Dallagnol voltou a se vitimizar, afirmando que foi condenado por “cumprir sua função” e que faria “mil vezes de novo” se necessário.

Ele informou que arrecadou doações de apoiadores para pagar a dívida e que o valor excedente será doado a instituições filantrópicas — estratégia já adotada por outros políticos punidos por atos ilegais, como o próprio Bolsonaro.

Lula vira

A decisão da Justiça paulista é mais um capítulo da reabilitação institucional de Lula.

Após ter sido preso, impedido de disputar as eleições de 2018 e alvo central da narrativa lavajatista, o petista não apenas teve suas condenações anuladas, como retornou ao cargo mais alto da República.

A indenização reforça o discurso de que houve abuso de poder e lawfare por parte de procuradores e juízes, como Sérgio Moro, que hoje também amarga isolamento político.

A defesa de Lula sempre sustentou que a apresentação de Dallagnol teve nítido viés político, com o objetivo de desgastar sua imagem pública.

O STF, ao manter a indenização, endossou que houve violação aos direitos de personalidade do ex-presidente.

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Moro e fracasso da Lava Jato

Com esta condenação, a Justiça sinaliza que o combate à corrupção não pode ser instrumento de destruição de reputações e perseguição política.

O “show do PowerPoint” entra para a história não como um marco da moralidade pública, mas como um símbolo do excesso, da arrogância e do fracasso da operação Lava Jato, conduzida pelo ex-juiz Sérgio Moro, premiado depois com o cargo de ministro por Bolsonaro.

Foto: Pablo Valadares / Câmara dos Deputados